Tecnologia

China busca autossuficiência em tecnologia com Huawei no centro

Sancionada pelos EUA desde 2019, empresa expande rede de fornecedores e fábricas para fortalecer cadeia nacional de semicondutores e inteligência artificial

A construção de um ecossistema doméstico com a Huawei no centro é vista como o caminho chinês rumo à autossuficiência (Ying Tang/NurPhoto/Getty Images)

A construção de um ecossistema doméstico com a Huawei no centro é vista como o caminho chinês rumo à autossuficiência (Ying Tang/NurPhoto/Getty Images)

Publicado em 19 de novembro de 2025 às 09h12.

Alvo de sanções dos EUA desde 2019 por causa do 5G, a Huawei se reinventou e hoje ocupa posição central na ofensiva tecnológica da China para reduzir a dependência de chips estrangeiros. Por meio de empresas de investimento, como a subsidiária Hubble, a Huawei financiou mais de 60 companhias da cadeia de semicondutores, que agora ampliam a capacidade produtiva, fazem aquisições e constroem novas fábricas.

Durante a China Hi-Tech Fair, em Shenzhen, a companhia exibiu seus servidores CloudMatrix 384, equipados com os chips Ascend, desenvolvidos internamente. A linha é apresentada como alternativa a modelos norte-americanos, como os da Nvidia, com foco em inteligência artificial.

Entre os movimentos mais recentes, a HHCK Advanced Materials anunciou a compra de uma rival chinesa por 1,6 bilhão de yuans (US$ 255 milhões). A operação une os dois maiores fabricantes locais de resina epóxi resistente ao calor, usada no empacotamento de chips. Com 2% de participação da Huawei, a HHCK planeja ampliar a produção e a base de clientes, tanto no mercado doméstico quanto no exterior.

Outras empresas do portfólio da Hubble também seguem expandindo. A Vertilite, na qual a gigante tem participação de 4%, inaugurou uma planta de 550 milhões de yuans (cerca de US$ 87,6 milhões) em Jiangsu para fabricar semicondutores ópticos. A Shanghai Winscene, de materiais para litografia, e a Aerotech, de válvulas e tubos usados em fábricas de chips, também estão construindo novas instalações. A Huawei detém pequenas participações em ambas.

Política industrial aposta em autossuficiência tecnológica até 2030

Ainda que não esteja abertamente envolvida nos investimentos de empresas nas quais possui participação, o avanço da Huawei está alinhado com as diretrizes do governo chinês para seu 15º Plano Quinquenal (2026-2030), que prevê alcançar autossuficiência tecnológica em áreas estratégicas, como os chips para IA.

Com apoio estatal, incluindo um fundo de US$ 47 bilhões para o setor de semicondutores e planos de investir US$ 94 bilhões em equipamentos até 2028, a estratégia é estruturar uma cadeia completa de produção de chips com base nas tecnologias da Huawei.

Mesmo empresas sem investimento direto, como a Empyrean Technology, que desenvolve ferramentas de automação de projetos eletrônicos (EDA, na sigla em inglês), estão em colaboração técnica com a Huawei.

Apesar dos avanços, analistas apontam que a China ainda está longe da competitividade de empresas dos EUA, como a Nvidia, que se beneficiam de parcerias globais em tecnologia de ponta, como a fabricação de chips pela taiwanesa TSMC. Ainda assim, a construção de um ecossistema doméstico com a Huawei no centro é vista como o caminho chinês rumo à autossuficiência. Se a estratégia será bem-sucedida, resta saber.

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