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Até quando o iPhone vai ser a maior fonte de receita da Apple?

O aparelho segue há mais de dez anos com destaque no faturamento da companhia; com serviços crescendo, até onde vai essa hegemonia?

Apple: iPhones devem continuar gerando receita para a companhia; depender deles, no entanto, não é uma opção (SOPA Images / Colaborador/Getty Images)
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Karina Souza

Publicado em 14 de novembro de 2020 às 10h30.

Nesta semana, a Apple começa a vender os novos iPhones 12 no mercado brasileiro, cerca de um mês depois do anúncio global, em outubro.Há dez anos, o aparelho é o carro-chefe da companhia, sendo responsável por um montante significativo de geração de receita: em 2010, a receita total da Apple foi de US$ 65,225 bilhões e os aparelhos responderam por 38,6% desse montante; em 2020, a companhia teve receita de 274,515 bilhões de dólares e, destes, US$137,781 bi vieram das vendas do iPhone --- quase metade da receita da companhia.

O cenário não deixa de ser otimista, é claro, mas mostra que o tempo de se apoiar exclusivamente na venda desse produto está ficando para trás: há apenas três anos, as vendas do aparelho somavam 141,319 bilhões (e 61% da receita da companhia).

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Vendo que o auge das vendas de produtos já ficou para trás, a companhia também tem promovido esforços no sentido de tornar as vendas de macbooks mais expressivas: o investimento em chip próprio pode ajudar a movimentar as vendas dos computadores pessoais da companhia, que gerouUS$ 28,6 bilhões em vendas no ano fiscal encerrado em setembro - pouco mais de 10% do total, enquanto, em 2000, esse percentual era de 86,2%.

Até 2015, os processadores eram projetados pela criadora do iPhone, mas produzidos pela rival Samsung, que tem uma divisão dedicada a microprocessadores.

Em busca de resultados consistentes, a empresa direciona o foco cada vez maior em serviços --- e já colhe os frutos desse investimento gigantesco, como a expansão do Apple TV+ e o fato de que, a partir desse ano, consumidorespodem assinar um pacote naApple em vez de somar todos os valores de cada serviço disponibilizado pela gigante americana de tecnologia. Em números, há apenas três anos, a receita da companhia com essa divisão era de 29,980 bilhões de dólares , ante 53,768 bilhões em 2020.

“A Apple está deixando de ser só uma fabricante de eletrônicos para se tornar uma empresa de serviços”, diz Gene Munster, analista e sócio da empresa de investimentos americana Loup Venture s. “A era de grandes saltos nas vendas dos iPhones acabou, mas estamos entrando em um período de mais estabilidade e rentabilidade.”

Veja abaixo a evolução completa do perfil da receita da companhia ao longo do tempo, que já deve dar pistas do que vem pela frente.

E os concorrentes?

A Apple não é a única a passar por essa situação. No mercado em geral, é possível notar uma queda no mercado de smartphones desde 2017, quando foram vendidos 1,46 bilhão de unidades - em 2019, foram vendidos 1,39 bilhão. No Brasil, a queda pode ser percebida desde 2014, quando foram venvidos 54 milhões de unidades. Houve diminuição ano a ano dessa quantidade, até chegar a 42 milhões em 2019. Os dados são da consultoria de mercado IDC.

Com isso,  expandir os horizontes para novas áreas tem sido uma alternativa observada pelas concorrentes. A Samsung, por exemplo, fabrica processadores - recentemente,assumiu a terceira colocação nesse mercado, com foco em celulares e tablets. Os dados são da consultoria Counterpoint Research que aponta, ainda, crescimento de 2,2% pela companhia sul-coreana nesse setor durante o último ano. Os destaques responsáveis pelo aumento ficam com América Latina, Europa e Índia.

A companhia também pretende investir 22 bilhões de dólares nos próximos dois anos em quatro áreas:inteligência artificial, 5G, carros e tecnologias para o setor biofarmacêutico. Além disso, investe em diversas frentes, além da de aparelhos mobile: só no Brasil, são comercializados máquina de lavar conectada, TVs Crystal UHD e QLED, o ar-condicionado WindFree e geladeiras inteligentes Family Hub. A divisão de Consumer Electronics, apesar de faturar menos, é muito mais diversificada do que a de IM, responsável pelos celulares e tablets Galaxies e relógios inteligentes.

Ao mesmo tempo, a Huawei também investe na fabricação de processadores e está aumentando a atuação no setor automobilístico. Recentemente, a companhia confirmou investimento de 800 milhões em São Paulo, No ano passado,, a companhia também anunciou o investimento em um sistema operacional próprio, o Harmony, a fim de se proteger contra as sanções dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Xiaomi planeja investir US$ 7 bilhões em tecnologias como 5G, Inteligência Artificial e IoT nos próximos cinco anos.

“As empresas com maior dependência até têm um plano B, mas é difícil romper esse vínculo”, diz Woo Jin Ho, analista da Bloomberg, à EXAME em 2019. "Ainda haverá mercado para essas companhias, é claro", completa.

Pensando em manter o espaço conquistado, uma alternativa encontrada pelo mercado - especialmente por empresas como a Samsung e Huawei, que mostraram lançamentos no último ano, é a de investir em celulares dobráveis. Em 2019, o mercado de celulares dobráveis vendeu 1,65 milhão de unidades e a projeção é que, em 2023, esse total chegue a 66 milhões.

De acordo com especialistas, essa não deve ser uma solução que deva trazer resultados em curto prazo. Mesmo com o avanço do 5G, essa tecnologiaainda deve levar tempo para se popularizar. “Elas precisam avançar muito para atender a todos os públicos. Precisam ter mais apelo para ser usadas”, afirma Tina Lu, analista de telecomunicações da consultoria Counterpoint Research, uma das principais da China, à EXAME em 2019, antes da pandemia.

As perspectivas continuam válidas. Um estudo feito pela IDC este ano mostra que, com a chegada do coronavírus, a remessa mundial de smartphones caiu 11,7% no segundo trimestre deste ano, quando comparada ao mesmo período do ano passado. Para a Canalys, a queda foi ainda maior, de 13%.

Ainda assim, a Apple não parece esmorecer. Mesmo diante dos desafios projetados para o futuro, a companhia continua atenta ao mercado de smartphones e ainda está no topo do ranking de valor global de mercado entre as empresas de tecnologia, avaliada em mais de 2 trilhões de dólares, mais do que Amazon, Microsoft e Alphabet. Parar de depender de fornecedores para componentes de hardware – assim como o resto do mercado faz – é uma medida que a torna dona do próprio destino, sem depender da inovação de terceiros.

Mais do que vender um produto conhecido, a Apple quer ter autonomia suficiente para inovar sozinha, deixando a concorrência para trás.

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