Revista Exame

Os desafios da bioeconomia na Amazônia

O Brasil está engajado no desenvolvimento de políticas de Estado para tornar a bioeconomia baseada na biodiversidade o principal vetor do desenvolvimento inclusivo e sustentável da Amazônia

Silvia Massruhá Presidente da Embrapa (Divulgação/Divulgação)

Silvia Massruhá Presidente da Embrapa (Divulgação/Divulgação)

SM
Silvia Massruhá

Presidente da Embrapa

Publicado em 10 de novembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 13 de novembro de 2023 às 14h18.

No Brasil, as políticas promovidas nos últimos 70 anos resultaram na conversão de cerca de 20% e na degradação de 38% do bioma Amazônia devido ao uso do fogo. O resultado foi a geração de benefícios econômicos para poucos e a manutenção do paradoxo de imensa riqueza ambiental com populações vivendo em condições de pobreza.

Ao mesmo tempo, verifica-se a aceleração das mudanças climáticas com impactos no meio ambiente e na vida das comunidades, com riscos de alterações irreversíveis na Amazônia.

As discussões atuais convergem para a construção de uma agenda de ações e políticas voltadas para a inclusão produtiva que proporcione o aumento da renda e da qualidade de vida dos mais de 28 milhões de habitantes da Amazônia, em consonância com a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais.

É nesse contexto que se insere a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que atua nos últimos 50 anos de forma cooperativa com governos e diferentes segmentos produtivos nos setores agropecuário, florestal e agroindustrial. O orçamento investido pela Embrapa na Amazônia, em 2022, foi de 477 milhões de reais, com um retorno social de 895 milhões de reais e a geração de mais de 4 mil empregos pela adoção de suas tecnologias.

Com foco em segurança alimentar e geração de renda para aproximadamente 700 mil produtores familiares, foram desenvolvidas mais de 200 tecnologias para 50 cadeias produtivas que viabilizam a transição da agricultura de derrubada e queima para a agricultura sem desmatamento.

Um exemplo de tecnologia que valoriza a floresta em pé é o manejo de açaizais nativos. Uma família extrativista com manejo de 15 hectares consegue gerar renda bruta anual superior a 37 mil reais.

Também foram geradas tecnologias para a recuperação dos mais de 55 milhões de hectares de pastagens degradadas, que respondem por mais de 80% da área desmatada na Amazônia. Essas tecnologias transformam a monocultura com gramíneas exóticas em pastagens biodiversas com leguminosas nativas do Brasil que se tornam biofábricas naturais para a fixação biológica de nitrogênio, eliminando a necessidade de uso de fertilizantes importados e de alto custo. Isso permite manter pastagens produtivas ao longo de décadas, encurtando o ciclo de produção e reduzindo em até 36% as emissões de gases do efeito estufa.

Nesse contexto, reverter o atraso tecnológico e aumentar os índices de produtividade da agricultura familiar com as tecnologias já disponíveis é uma forma de reduzir a pressão sobre o desmatamento e gerar inclusão social.

Os caminhos para o florescimento de uma bioeconomia inclusiva na Amazônia passam necessariamente por investimentos públicos robustos em ciência, formação de capital humano e infraestrutura. A estratégia deve ser capaz de mobilizar os atores privados em torno de políticas de Estado visando manejo florestal de uso múltiplo, restauração produtiva, pagamento por serviços ambientais, descarbonização, e intensificação sustentável e inclusiva.

O futuro da Amazônia exige atenção à dimensão social com a valorização do trabalho, dos conhecimentos, dos territórios e da cultura dos povos da floresta.

Ana M.C.Euler

Diretora de Negócios da Embrapa

Clenio Pillon

Diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa

Judson Valentim

Presidente do Portfólio Amazônia da Embrapa

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