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Opep do Lítio? O tesouro deste século está na América Latina

Um aumento de mais de 40 vezes: essa é a projeção da Agência Internacional de Energia para o crescimento da demanda global por lítio até 2040

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Baterias de lítio similares às que são utilizadas em carros elétricos: forte aumento da demanda pode não ser acompanhado pela alta da oferta (Jason Alden/Bloomberg)

Baterias de lítio similares às que são utilizadas em carros elétricos: forte aumento da demanda pode não ser acompanhado pela alta da oferta (Jason Alden/Bloomberg)

Um aumento de mais de 40 vezes: essa é a projeção da Agência Internacional de Energia para o crescimento da demanda global por lítio até 2040 para cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável. O cenário se repetirá para vários dos chamados “minerais críticos”, como níquel, cobalto e outros, usados em baterias e estruturas de energia limpa. Boa notícia para a América Latina, região com algumas das maiores reservas desses insumos. “As nações ricas em recursos podem se beneficiar enormemente devido aos déficits de oferta esperados e aos fortes preços resultantes disso”, diz Alice Yu, da S&P Global Commodity Insights.

VISÃO GLOBAL

O desafio será transformar recursos naturais em riqueza para atrair investidores. O presidente da Bolívia, Luis Arce, chegou a falar sobre uma “Opep do Lítio”, referência ao cartel de petróleo. Neste ano, o Chile anunciou a nacionalização do lítio e um aumento de impostos sobre o cobre para financiar programas sociais, e o México tenta algo parecido. Governos terão de buscar uma linha tênue entre atração de investidores de longo prazo (uma mina leva em média 16 anos para começar a operar) e regulações que garantam justiça social. “Sem um bom arcabouço, os latinos podem perder mercado para outras regiões”, diz Yu.

A economia global estará de olho nessas movimentações. Hoje, a maioria da produção e do refino final ocorre na China (veja abaixo). Países ocidentais correm para tentar diversificar suas cadeias — e a América Latina será decisiva nesse processo.


Veronika Grimm, membro do Conselho Alemão de Especialistas Econômicos: o Brasil é essencial para transição energética da Europa

EM BUSCA DE NOVAS CADEIAS

A guerra na Ucrânia, tensões em Taiwan e deterioração nas relações entre Estados Unidos e China tornaram a diversificação das cadeias de minerais críticos uma prioridade para potências ocidentais. Nesse cenário, a União Europeia vê a América do Sul como parceiro central, disse à EXAME a professora Veronika Grimm, um dos cinco membros atuais do Conselho Alemão de Especialistas Econômicos, que assessora o governo alemão. Leia os principais trechos da entrevista.

Como as negociações do acordo Mercosul-União Europeia se encaixam no debate da transição energética?
As democracias em todo o mundo precisam acelerar sua cooperação para se preparar para os novos cenários econômicos. Há oportunidades para ampliar o comércio de energia renovável e ampliar o comércio de minerais críticos — de que, em grande medida, precisamos para a transição. São coisas nas quais devemos nos concentrar mais, e o Mercosul é um elemento muito importante nisso.

Que oportunidades a região terá para ampliar seu papel na cadeia global de minerais críticos?
Atualmente, importamos [na UE] grande parte de nossos minerais essenciais da China, mas isso é, obviamente, uma ameaça à nossa segurança e ao nosso desenvolvimento econômico caso os conflitos no leste asiático se agravem. Teremos muita dificuldade se não nos prepararmos para diversificar. E a América do Sul tem enormes possibilidades. Também existem tensões, claro, a exemplo das metas de sustentabilidade e proteção ambiental e florestal. Acho que temos de conversar, entre a União Europeia e o Brasil, para encontrar alguma forma de lidar com esses conflitos. Mas isso sem deixar de buscar cooperação. Não buscar mais cooperação seria um erro.

O Brasil e a América Latina têm um histórico de exportar recursos brutos mas, muitas vezes, perder a chance de desenvolver a economia local. Como fazer o acordo Mercosul-UE gerar desenvolvimento para ambas as partes?
Com certeza, o cenário não deve ser apenas extrair as matérias-primas e exportá-las, mas também ter uma indústria integrada. Acredito que há muitas oportunidades. Por exemplo, as economias europeias terão de importar produtos e projetos industriais à base de hidrogênio verde — e claro que há espaço para desenvolvimento industrial também no Brasil para fornecer esses produtos. Vocês têm melhores condições do que a Europa para produzir energia renovável, por exemplo, e não seremos capazes de expandir nossa produção o suficiente. Nesse contexto, o Brasil é um parceiro muito importante.

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