Durski, do Madero: com 14 novas unidades, as vendas da rede deverão crescer 79% neste ano (Germano Lüders / EXAME/Exame)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2014 às 00h05.
Última atualização em 20 de março de 2018 às 13h23.
São Paulo - A espera por um lugar à mesa costuma demorar quase 2 horas, embolando a entrada do restaurante Madero, no Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, todas as noites de sábado. O burburinho começou em novembro, quando a rede criada em Curitiba há oito anos abriu a unidade — sua primeira na capital paulista.
Nas noites mais movimentadas, 750 pessoas se dispõem a enfrentar a fila para provar um dos 45 pratos do cardápio a um custo entre 23 e 50 reais — um preço, digamos, amistoso para o patamar médio da região. Neste semestre, a empresa se prepara para abrir outras quatro lojas em São Paulo.
Até o fim do ano, a rede passará dos atuais 33 para 47 restaurantes em cinco estados. O fôlego extra se deve à chegada, em dezembro, de um fundo de investimento português que comprou 19,05% de participação na empresa. “Meu melhor termômetro para a hora de expandir é a fila na entrada”, afirma o empresário e chef Júnior Durski, dono do Madero. A rede deverá faturar 300 milhões de reais em 2014 — 79% mais em relação ao ano anterior.
O que parece o suplício voluntário de clientes demonstra o aquecimento da categoria de restaurantes mais próspera do país — o casual dining. A invenção americana ganhou impulso nos anos 80 como uma alternativa intermediária às lanchonetes populares e à gastronomia mais elaborada.
Desde então, grandes redes, como a Applebee’s, dona de mais de 2 000 restaurantes em 15 países, espalharam o modelo pelo mundo. A proposta consiste em caprichar na decoração sem perder certa informalidade no atendimento e incluir porções no cardápio que possam ser compartilhadas em grupo. A receita caiu no gosto dos brasileiros.
Desde 2010, essas redes cresceram 20% por ano no Brasil. Até 2020, o segmento deverá crescer 25% ao ano, mais que o dobro da taxa média do setor de restaurantes, e faturar conjuntamente 5 bilhões de reais, segundo um levantamento exclusivo da consultoria especializada em varejo GS&MD.
Três redes americanas anunciaram a chegada ao país para maio — a de comida chinesa PF Chang’s, a de culinária italiana Olive Garden e a de frutos do mar Red Lobster. “Todas atendem um consumidor ávido por experiências mais sofisticadas, porém acessíveis”, diz Sergio Molinari, especialista em alimentação da GS&MD e coordenador do estudo.
Hoje, um terço do gasto dos brasileiros com comida ocorre em restaurantes, segundo a pesquisa da GS&MD. Até 2020, alcançará 40%. As redes de casual dining atendem de maneiras diferentes essa disposição de consumo crescente em várias faixas de renda. No caso das classes A e B, é uma opção para a refeição rotineira.
Para a classe C, uma alternativa em ocasiões especiais. “Muita gente da classe C prefere levar marmita no dia a dia e gastar o crédito do vale-refeição com a família no fim de semana”, diz Renato Meirelles, presidente da empresa de pesquisa Data Popular.
Pioneira nesse segmento no Brasil, a americana Outback — com garçons jovens que costumam agachar na hora de explicar o cardápio ou anotar os pedidos — demonstra o potencial do modelo. A rede chegou ao Brasil em 1997 e, desde então, tornou-se a marca de restaurante mais popular do país, segundo a empresa de pesquisa Euromonitor.
Pelo terceiro ano consecutivo, a unidade do Shopping Center Norte, em São Paulo, é a campeã de vendas entre as mais de 1 200 lojas da rede em 21 países. No Brasil, o Outback tem 51 unidades — uma pequena fração das 1 000 existentes nos Estados Unidos. Mas o maior faturamento por metro quadrado da rede está aqui. “O consumidor está cansado de comer em praças de alimentação”, diz Salim Maroun, presidente do Outback no Brasil, cujos planos incluem a abertura de 14 restaurantes neste ano.
Nova geração
A expansão do Outback tem inspirado uma nova geração de empresários locais que aprenderam na base da tentativa e erro a receita desse tipo de restaurante. Foi o caso do paranaense Júnior Durski, do Madero. De 2006 a 2010, ele abriu sete unidades da rede — todas com prejuízo e pouco movimento.
“O preço era alto; e o atendimento, lento”, afirma Durski, que já tinha seis anos de experiência no ramo de alimentação com o premiado restaurante de comida polonesa e ucraniana que leva seu sobrenome em Curitiba. O negócio só engrenou quando ele diminuiu 40% o preço dos pratos, com mudanças no cardápio, e cortou o tempo do serviço à metade, com medidas como dividir os filés ao meio para grelhar mais rapidamente.
Escala é ingrediente indispensável na receita do casual dining. Nesse sentido, a lógica é idêntica à do fast-food: mais unidades barateiam a operação, o que gera mais lucro e fôlego para crescer. Para conseguir adotar esse modelo sem ter de bancar a expansão sozinho, o cearense Afrânio Barreira, dono da rede de frutos do mar Coco Bambu, bolou uma estratégia própria.
Hoje, suas 13 lojas em seis estados — inclusive a primeira, aberta em Fortaleza em 2001 — funcionam como empresas independentes, cada uma com três sócios. “Só faço negócio com quem está disposto a fazer qualquer coisa para a operação funcionar, até ir ao valet se o manobrista faltar”, diz o empresário, que ingressou no ramo de alimentos nos anos 80 com uma pastelaria em Fortaleza.
Ele pretende abrir seis lojas até dezembro, quando chegará a 19 unidades, algumas com até 1 000 lugares. A loja localizada no Itaim, em São Paulo, tem 500 assentos — mesmo assim, a espera chega a 3 horas nos fins de semana, quando a unidade abre às 11 da manhã e só fecha às 2 da madrugada.
As marcas estrangeiras prestes a chegar têm uma vantagem — já são bem conhecidas por parte do público. Hoje, 70% dos clientes da Red Lobster na Flórida, por exemplo, são brasileiros.
O dado chamou a atenção dos executivos do grupo IMC, dono das marcas Viena e Frango Assado, que adquiriram os direitos para abrir restaurantes Red Lobster e Olive Garden no país — em maio, serão abertas duas lojas de cada marca, na Grande São Paulo e em Brasília.
“Poderíamos começar de forma mais agressiva, mas queremos deixar a operação redonda antes”, diz Enric Besalduch, presidente do IMC no Brasil. Também em maio, duas lojas da PF Chang’s, em São Paulo e no Rio de Janeiro, serão inauguradas pela mexicana Alsea — que anunciou planos de trazer a americana Cheesecake Factory em 2016.
O roteiro de estreia é conhecido. As primeiras lojas são abertas em pontos badalados nas principais capitais. Depois, seguem para o interior. Foi assim com o Applebee’s, que chegou ao país em 2004 com uma loja na capital paulista. Em 2008, abriu a primeira unidade no interior do estado.
Até o fim deste ano, deverá chegar a 15 restaurantes em quatro estados. Caso a tendência continue, o mercado brasileiro deverá se aproximar do americano, onde 70% dos restaurantes pertencem a alguma rede. Aqui, só 10% estão nesse grupo. Mas esse crescimento não vai ocorrer da noite para o dia. Por enquanto, é bom ter paciência para encarar as filas.
Agora a briga é lá fora
Redes de fast-food brasileiras expandem seus negócios nos estados unidos — atrás dos turistas brasileiros. mas o plano é ir além
Enquanto estrangeiros chegam aqui para atender brasileiros que lotam suas mesas nos Estados Unidos, grupos nacionais seguem a rota inversa. Neste ano, duas redes de fast-food — a de frutos do mar Vivenda do Camarão e a de massas Spoleto — chegaram à Flórida.
“Turistas brasileiros vão compor a clientela inicial”, diz Fernando Perri, presidente da Vivenda do Camarão, com 160 lojas no Brasil. A estreia da rede, com o nome Shrimp House, foi no Dadeland Mall, destino de compras de brasileiros em Miami. O plano é ter 33 lojas americanas até 2016.
As redes brasileiras montaram lojas com mesas para os clientes na operação americana. Em 2013, segundo a consultoria Technomic, 30% dos americanos abandonaram cadeias de fast-food tradicionais e migraram para as que oferecem comida no prato e salão próprio confortável.
Ícone desse novo fast-food, chamado de fast casual, a rede de comida mexicana Chipotle, criada no Colorado, abre uma loja a cada dois dias. As vendas chegaram a 850 milhões de dólares em 2013.
Na expansão além do circuito turístico, os brasileiros pretendem se beneficiar do fenômeno fast casual. “Em 2015, vamos para três novos estados”, diz João Barbosa, presidente da rede de pratos brasileiros Giraffa’s nos Estados Unidos, onde está desde 2011.
Desse grupo, o Spoleto é o único com experiência prévia fora da América do Sul, com 12 lojas no México e três na Costa Rica. Até 2015, planeja ter sete restaurantes nos Estados Unidos. A briga para valer começa agora.