Emerson Fittipaldi (Emerson Fittipaldi/Exame)
O bicampeão mundial da Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, decidiu encarar uma nova corrida, dessa vez para uma vaga no Senado da Itália.
O piloto, 75 anos, campeão do mundo em 1972 e 1974 com a Lotus e com a McLaren, aceitou o convite do partido "Fratelli d'Italia" (Irmãos da Itália, na tradução em português), de direita, e vai disputar as eleições na America do Sul.
"Vou representar os brasileiros no Senado da Itália. Quero ser a voz dos 'oriundi', dos descendentes de italianos que, como eu, nasceram no Brasil", diz o piloto em entrevista exclusiva à EXAME.
O sistema eleitoral italiano permite que os cidadãos residentes no exterior, como os brasileiros com cidadania italiana, possam eleger deputados e senadores que os representem. Na America do Sul serão eleitos um senador e dois deputados.
Fittipaldi nasceu em São Paulo mas é cidadão italiano por parte de pai, o também piloto Wilson Fittpaldi, que era filho de imigrantes originários da cidade de Trecchina, na província de Potenza, no sul da Itália.
O partido Fratelli d'Italia está liderando as pesquisas para as eleições italianas deste mês, e sua presidente, Giorgia Meloni, poderia se tornar a primeira mulher da história a liderar o governo italiano.
Foi a própria Meloni que ligou pessoalmente para Fittipaldi, convencendo o bicampeão do mundo a se candidatar.
"Foi uma grande honra, não podia recusar esse convite", conta o piloto.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Fittipaldi, conta como decidiu entrar na arena política e quais são suas propostas para esse pleito.
Quais serão os pontos centrais de seu programa eleitoral?
O esporte e a educação como forma de mudar a vida das pessoas, principalmente dos jovens descendentes de italianos que vivem aqui na America do Sul. O esporte é a paixão da minha vida, me deu tudo, e quero incentivar o esporte na Itália mas também entre os italianos que moram aqui na América do Sul. O esporte é a melhor maneira de tirar as crianças das ruas e dar para elas um objetivo de vida. Esporte significa disciplina, saber trabalhar em equipe, tornar-se adulto de forma saudável, e pode transformar a vida de forma positiva. O esporte é a forma mais democrática de "elevador social", porque não importa se você é rico ou pobre, negro ou branco, não importa onde você nasceu, a dedicação pode mudar sua vida. Precisamos promover o esporte entre as comunidades italianas na América do Sul, e a Itália tem uma tradição fantástica de esportistas em diferentes disciplinas, da Fórmula 1, de onde venho, ao futebol, tênis, natação, esgrima entre outras. Vamos criar uma ponte com o esporte italiano.
E a educação?
A Itália pode oferecer muito em termos de educação para os descendentes de italianos que moram no Brasil. Precisamos recriar um vínculo com o país que foi perdido ao longo de gerações. Vou propor o reconhecimento automático de diplomas para os brasileiros na Itália, para facilitar o intercâmbio profissional. Vamos criar uma ponte entre países. Além disso, temos que aumentar as escolas de italiano no mundo, criar convênios para o ensino de italiano em escolas públicas de cidades com grandes comunidades de descendentes de italianos, também com financiamento do governo italiano. Temos que incentivar a internacionalização das empresas italianas nas cidades onde há maior número de descendentes de italianos, para gerar emprego nas comunidades locais. Aumentar o intercâmbio escolar e universitário com a Itália para que os jovens brasileiros possam estudar fora. Criar um poderoso sistema de bolsas para descendentes de italianos nascidos no exterior. Promover seu retorno à Itália para estudar ou trabalhar. A Itália precisa de jovens preparados que voltem a morar lá.
Os brasileiros com cidadania italiana costumam participar muito pouco das eleições na Itália, como mudar isso?
É verdade, na última eleição italiana somente 30% dos brasileiros votou. Devemos participar mais, pois no Brasil tem 300 mil cidadãos italianos que podem votar. Os consulados italianos mandam as cédulas diretamente nas casas das pessoas, mas elas devem mandar de volta pelo Correio, senão não adianta. E é algo gratuito, já pago pelo governo italiano. Muita gente não sabe disso. Se os brasileiros não votarem serão condenado a não ter representatividade. Portanto, minha mensagem para os brasileiros que tem cidadania italiana é: votem. Precisamos de vocês.
O senhor enfrenta uma série de processos por dívidas contraídas no passado, como está essa situação?
Graças a Deus, estou resolvendo. Fiz acordos com os credores, me comprometi com mais de 92% das dívidas, como prometi no passado. Está tudo transparente, não escondo nada. Quem quiser perguntar para meu advogado, ele vai saber todos os detalhes dessa negociação. Cinco ou seis anos atrás me detonaram na imprensa brasileira, mas eu prometi que iria pagar, só precisava de tempo para reorganizar as minhas finanças. E agora estou pagando. Isso já faz parte do passado. Usando uma metáfora da Fórmula 1, 'falta uma volta para acabar'. Quando você tem uma atividade empresarial, podem acontecer problemas. Faz parte do jogo. Mas isso são questões profissionais e particulares, não tem a ver com minhas propostas como candidato.
O partido Fratelli d'Italia é acusado de ser fascista, como o senhor responde à essas críticas?
Essa história que o partido seria fascista é apenas um jeito de atacar a força política que está prestes a ganhar as eleições. A esquerda não tem argumentos. Mas, para acabar com essa história de uma vez por todas, vou explicar o que eu acho. Depois da Segunda Guerra Mundial a história provou que tanto o nazismo como o fascismo estão enterrados. Não existe mais isso. Essas palavras não podem sequer ser usadas. As duas ideologias foram uma tragédia pra o ser humano. Fratelli d'Italia não tem nada de fascista. Tanto que estamos concorrendo democraticamente para as eleições. Que fascismo seria esse? Vamos falar de propostas, debater de programas, ver qual a melhor receita para o futuro da Itália. Esse negócio de fascismo já deu.
Como a presidente Meloni o convenceu a se candidatar?
Eu sou uma pessoa muito cristã, de valores tradicionais. E sou defensor da família, que é a coisa mais importante do mundo. Esses são os mesmos valores que a presidente Meloni defende. Então foi um encontro natural. Estamos muito alinhados. Me senti muito honrado quando me convidou, por isso não consegui recusar.