Durante um mês, homens viveram sob o mesmo teto em busca de encontrar um novo amor. (Reprodução: Netflix/Divulgação)
Redator na Exame
Publicado em 2 de julho de 2024 às 08h12.
O Japão, único entre os países mais ricos do mundo a não legalizar uniões homoafetivas, possui poucos famosos abertamente gays e enfrenta forte oposição de grupos conservadores contra iniciativas legislativas para proteger a comunidade L.G.B.T.Q. Agora, a Netflix está lançando o primeiro reality show de namoro entre pessoas do mesmo sexo no país, chamado "The Boyfriend" (O namorado, em inglês). As informações são do The New York Times.
Em 10 episódios, disponíveis em 190 países a partir de 9 de julho, nove homens se reúnem em uma casa de praia de luxo nos arredores de Tóquio. O formato lembra o popular reality show japonês "Terrace House", com participantes educados e bem comportados, supervisionados por um painel de comentaristas joviais. A atmosfera do programa é saudável e, na maior parte do tempo, casta. Os participantes, com idades entre 22 e 36 anos, operam um caminhão de café durante o dia e cozinham juntos à noite, saindo ocasionalmente para encontros.
Diferente dos poucos artistas gays e transgêneros que aparecem na TV japonesa, frequentemente retratados de forma estereotipada, "The Boyfriend" busca retratar relacionamentos homoafetivos de maneira realista. Dai Ota, produtor executivo, explicou que evitou escolher participantes problemáticos, optando por representar a diversidade com membros do elenco de origens sul-coreanas, taiwanesas e multiétnicas. Embora o Japão esteja atrasado em relação aos direitos L.G.B.T.Q., Ota afirmou que o programa não pretende ser uma declaração política ou social direta, mas sim mostrar relacionamentos genuínos.
Entre os programas de namoro queer que estão ganhando espaço globalmente, "The Boyfriend" se destaca por ser o pioneiro no Japão. A série inclui discussões sobre os desafios sociais de ser gay ou bissexual no país. Taiki Takahashi, modelo gay e influenciador que atuou como diretor de elenco, disse ter expectativas e esperanças para o impacto do show. Ele recrutou 50 homens por meio de chamadas em redes sociais, escolhendo deliberadamente pessoas que seriam bem recebidas pelo público, evitando aqueles que se sentiam pressionados a se encaixar em estereótipos.
Apesar de a produção buscar um retrato autêntico, o espectro do "Terrace House" paira sobre "The Boyfriend". Ambos compartilham o mesmo formato básico e um dos comentaristas, Yoshimi Tokui, retornou ao estúdio para analisar as interações entre os participantes. A trágica morte de Hana Kimura, uma participante de "Terrace House" que sofreu cyberbullying, levou a mãe dela a processar a Fuji TV e outras empresas de produção, acusando-as de não protegerem sua filha de comentários maldosos e de forçá-la a adotar um comportamento que atraía críticas online.
Para evitar problemas semelhantes, a Netflix contratou profissionais de saúde mental para acompanhar o elenco e garantir um ambiente de produção seguro. A plataforma realizou verificações de antecedentes dos participantes e se comprometeu a oferecer suporte caso eles experimentem ansiedade após a exibição do programa. Embora pesquisas indiquem que mais de 70% do público japonês apoie a legalização das uniões homoafetivas, pessoas L.G.B.T.Q. ainda enfrentam discriminação e discurso de ódio.
Durian Lollobrigida, drag queen e um dos comentaristas do programa, afirmou que sua presença no show visa proteger os participantes e traduzir suas experiências para o público. Ele acredita que, além de protestos e reivindicações por direitos, é importante normalizar a existência L.G.B.T.Q. através do entretenimento. No entanto, Jennifer Robertson, professora emérita de antropologia da Universidade de Michigan, questiona se a série conseguirá atrair um público mais conservador e promover mudanças políticas significativas.