Canadense é condenado na China — e por que a Huawei pode estar envolvida
Michael Spavor ficará preso por 11 anos por espionagem e Robert Schellenberg foi condenado a morte por tráfico de drogas. Canadá acusa China de "represália política". Entenda o porquê
Allan Gavioli
Publicado em 12 de agosto de 2021 às 12h31.
Última atualização em 12 de agosto de 2021 às 13h05.
Nessa semana, a relação entre oriente e ocidente parece ter estremecido um pouco, graças a uma disputa jurídica—e possivelmente política —entre Canadá e China .
Na última terça-feira, 10, um tribunal chinês da cidade de Dandong, a cerca de 800 km da capital Pequim, condenou o canadense Michael Spavor a 11 anos por acusações de espionagem. Spavor "foi declarado culpado de espionagem e de roubar segredos de Estado", segundo o tribunal chinês e será banido do país após cumprimento da pena.
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Michael Spavor é um conhecido do governo norte-coreano, já que o canadense atuava como intermediário entre estrangeiros e as autoridades do país, que é totalmente isolado no cenário internacional. Spavor chegou a organizar um encontro entre oditador coreano Kim Jong-un e o ex-jogador de basquete americano Dennis Rodman.
Spavor foi detido em 2018, dias depois que o governo canadense prendeu uma executiva da gigante chinesa de tecnologia Huawei. Enquanto a justiça chinesa defende a acusação do canadense, entidades ocidentais acreditam que a condenação possa ter sido motivada por uma represália política.
Meng Wanzhou, a diretora financeira da Huawei e filha do fundador da empresa, foi presa em 1º de dezembro de 2018 em Vancouver, no Canadá, sob a acusação dos EUA de mentir para o braço de Hong Kong do banco britânico HSBC sobre possíveis negociações com o Irã,o que viola as sanções comerciais impostas pelos EUA.
Como os EUA possuem sanções econômicas ativas com o país do oriente médio, empresas que possuem negócios nos EUA ficam proibidas de se relacionarem comercialmente com companhias que possuam negócios no Irã.
O veredicto de quarta-feira é a última indicação de como Pequim está aumentando a pressão sobre o Canadá antes de uma decisão do tribunal sobre a entrega da executiva, Meng, para enfrentar acusações criminais nos EUA. Spavor e outro canadense foram detidos na China no que os críticos rotularam de "política de reféns", após a prisão da executiva em 2018.
Outro canadense condenado
Enquanto Spavor deve enfrentar mais de uma década de prisão na China. outro canadense não teve a mesma "sorte".
Robert Schellenberg foi preso por tráfico de drogas em 2014 e condenado a 15 anos de prisão em 2018. Entretanto, o tribunal julgou os recursos em 2019 e decretou a pena de morte, decisão que foi confirmada em segunda instância na última terça-feira, 10.
O canadense, que já foi condenado por tráfico de drogas em seu país, se declarou inocente na China, disse que viajou à China a turismo e recorreu da condenação em maio do mesmo ano.
A Justiça chinesa demorou mais de dois anos para anunciar a decisão, e a sentença coincide com o comparecimento de Meng Wanzhou a um tribunal canadense.
O embaixador canadense Dominic Barton na China esteve presente na audiência na cidade de Dandong, na fronteira com a Coréia do Norte. Nenhuma palavra foi dada sobre a data do julgamento do ex-diplomata canadense Michael Kovrig, que também foi detido em dezembro de 2018 e acusado de espionagem.
"Condenamos o veredicto nos termos mais fortes e apelamos à clemência da China", disse Barton. "Transmitimos em várias ocasiões à China a nossa firme oposição a esta pena cruel e desumana e continuaremos fazendo isto"
O governo da China denunciou a prisão como parte dos esforços dos EUA para impedir seu desenvolvimento de tecnologia e exigiu a libertação imediata de Meng.
China pressiona, mas Canadá deve responder
As coincidências entre a influencia da Huwaei na justiça chinesa, no entanto, ficaram ainda mais explicitas, já que Meng deve comparecer a um tribunal canadense nos próximos dias para a última série de audiências que devem definir se a diretora financeira da Huawei será extraditada aos Estados Unidos.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, considera as prisões como represália — o que a China nega veementemente.
"O veredicto de hoje contra Spavor acontece após mais de dois anos e meio de detenção arbitrária, de falta de transparência no processo judicial e de um julgamento que não cumpriu nem sequer com as normas mínimas exigidas pelo direito internacional", disse Trudeau em comunicado oficial.
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