A volta do maior vencedor do Oscar de Melhor Ator — e por que isso merece sua atenção
Daniel Day-Lewis retorna às telas em novo filme dirigido por seu filho, sete anos após anunciar aposentadoria
Repórter de POP
Publicado em 2 de outubro de 2024 às 20h20.
Última atualização em 3 de outubro de 2024 às 09h42.
A nova geração talvez não conheça ou talvez não tenha assistido aos filmes de um dos nomes mais aclamados em Hollywood. Mas poderá vê-lo chacoalhar a indústria cinematográfica muito em breve: sete anos depois de se aposentar da atuação, Daniel Day-Lewis,de 67 anos, está de volta ao cinema para um papel em " Anemone ". O longa-metragem terá direção de Ronan Day-Lewis, filho do ator, e ainda não tem data de estreia.
Único ator com três oscars de Melhor Ator —por "Meu Pé Esquerdo" (1989), "Sangue Negro" (2008) e "Lincoln" (2012)—, o último trabalho de Daniel no cinema foi em " Trama Fantasma " (2017), pelo qual recebeu mais uma indicação à categoria (a sexta),mas acabou perdendo o prêmio para Gary Oldman ("O Destino de uma Nação"). "Trama Fantasma" concorreu a seis estatuetas do Oscar em 2018, mas levou somente uma para casa, na categoria de Melhor Figurino.
Além dos filmes já mencionados, Day-Lewis também trabalhou nos clássicos "Em Nome do Pai" (1993), "Gangues de Nova York" (2002), "O Lutador" (1997), "Gandhi" (1982), "Uma Janela para o Amor" (1985), "O Último dos Moicanos" (1992), entre outros. É até hoje um dos atores mais reconhecidos de Hollywood dos anos 1990 e 2000— e seu retorno às telonas pode movimentar a estrutura de Hollywood, assim como as preferências da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
De volta às telas— e aos bastidores
"Anenome" será dirigido pelo filho de Day-Lewis, Ronan. Daniel deve ocupar o papel de protagonista, mas seu papel ainda não foi confirmado pelos produtores. Além de atuar no longa, ele também está envolvido nos bastidores do projeto e assinará como co-autor do roteiro, em conjunto com o filho.
Fontes detalharam à Vanity Fair que o longa abordará “as complexas relações entre pais, filhos e irmãos, e as dinâmicas dos laços familiares”, em uma época na qual as novas gerações questionam cada vez mais a importância da família na sociedade e os efeitos dessas relações na saúde mental— pauta constante no cinema dos últimos anos. A metalinguagem evidente do roteirodá pistas do motivo pelo qual o ator resolveu sair da aposentadoria, e sua presença no longa-metragem pode levar o título a um novo patamar dentro de Hollywood.
Já taxado como "nepo baby" (mesmo sem estar na boca da grande mídia), ainda que carregue o legado do pai para a nova produção, Roman Day-Lewis não tem uma carreira expressiva no cinema— mas parece empolgado em construí-la. O currículo do cineasta inclui somente o curta-metragem " The Sheep and the Wolf " (2018), exibido no Festival de Cineastas de Yale ("Yale Filmmaker's Block"), e o vídeo musical "Snow and Sun". "Anemona" será o primeiro trabalho do cineasta, de 26 anos, em um longa-metragem. E chega com produção robusta, feita pela Focus Features e pela Plan B (empresa de Brad Pitt ). O elenco é Sean Bean ("O Senhor dos Anéis" e "Game of Thrones"), Samantha Morton ("A Baleia"), Samuel Bottomley ("Como Fazer Sexo") e Safia Oakley-Green ("Requiem").
Se o resultado da estreia de Roman vai ser bom ou não, ainda é cedo para dizer. Mas a equipe envolvida no filme passa a tal da "boa imagem" que a Academia tanto preza. Goste o público ou não, o cinema vive a era dos "nepo babies"— o que pode ser tanto sintomático do próprio envelhecimento dos rostos de Hollywood quanto da "aceitação" do espaço que os "privilegiados" vem tomando na indústria. "Anemone", nesse meio, pode colocar a fase à prova.
A 'polêmica' aposentadoria de Daniel Day-Lewis
Em 2018, Daniel anunciou a aposentadoria da atuação. “Minha vida toda eu dizia que deveria parar de atuar, e não sei por que dessa vez foi diferente, mas o impulso de desistir se enraizou em mim e isso se tornou uma compulsão”, disse Daniel à Revista W, em 2018. Na época, a assessora do ator, Leslee Dart, também confirmou a notícia: “Daniel Day-Lewis não trabalhará mais como ator. Ele é imensamente grato a todos os seus colaboradores e ao público ao longo dos anos. Esta é uma decisão privada, e nem ele nem seus representantes farão mais comentários sobre o assunto”, disse ela em comunicado enviado ao The Hollywood Reporter.
Embora a decisão de 2017 tenha durado quase uma década, não foi a primeira vez que Daniel "flertou" com a ideia— polêmica —de uma aposentadoria do cinema ao longo de sua extensa carreira como ator. No início da década de 1990, logo após receber a primeira indicação e a primeira estatueta do Oscar, chegou a afirmar à imprensa da época que pretendia entrar em uma "semiaposentadoria" para se dedicar à marcenaria e fabricação de sapatos, duas grandes paixões.
Ele já havia dado sinais do desejo de deixar as telas no ano anterior, em 1989, quando se aposentou dos palcos do teatro, logo após abandonar uma peça no meio da apresentação na qual interpretava Hamlet, no National Theatre, em Londres. Na época, Day-Lewis chegou a dizer que havia visto o fantasma de seu pai. Anos depois, no entanto, disse que talvez estivesse falando de forma mais metafórica sobre a aparição sobrenatural. “Eu provavelmente via o fantasma do meu pai todas as noites, porque, claro, quando você trabalha em uma peça como 'Hamlet ', você explora tudo através de sua própria experiência”, relatou em entrevista à revista Time. Ele não voltou aos palcos desde então.
De 2017 para cá, depois de dar o "ultimato" na carreira como ator, Daniel cumpriu a promessa: manteve uma vida mais reservada, longe dos holofotes e ainda mais longe dos sets de Hollywood. O papel de "Anemone", no entanto, parece ter um espaço especial o suficiente na carreira do ator para justificar seu retorno à indústria.
Melhor Ator da história do Oscar
Colecionador de prêmios de Melhor Ator do Oscar, Daniel Day-Lewis é ainda hoje o artista com mais estatuetas na categoria da história da premiação. Além dos prêmios, foi indicado outras três vezes— seis nomeações, no total —, por "Gangues de Nova York" (2002), "Em Nome do Pai" (1993) e "Trama Fantasma" (2017).
Caso seja indicado pelo trabalho no novo filme, o ator pode se igualar à Katherine Hepburn no número de estatuetas. A artista, que morreu em 2003, é a única a ganhar como Melhor Atriz em quatro produções diferentes—"Uma Manhã Gloriosa", "Adivinhe Quem Vem para Jantar", "Leão no Inverno" e "A Casa do Lago". Day-Lewis vem logo em seguida, com três prêmios, acompanhado de Frances McDormand ( "Fargo", "Três Anúncios Para Um Crime" e "Nomaland").