Negócios

South Summit Brazil 2023: a falta de cheques de R$ 100 milhões e mais dilemas do venture capital

Em Porto Alegre, o evento de inovação reúne boa parte do empresariado brasileiro e empreendedores em busca de capital e boas ideias

South Summit Brazil 2023, em Porto Alegre (Jefferson Bernardes/Agência Preview/Divulgação)

South Summit Brazil 2023, em Porto Alegre (Jefferson Bernardes/Agência Preview/Divulgação)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 29 de março de 2023 às 17h12.

Última atualização em 30 de março de 2023 às 16h10.

A tarde do primeiro dia da progamação do South Summit Brazil, em Porto Alegre, foi voltada para as discussões envolvendo o futuro das startups e do mercado de venture capital no país.

Com boa parte da programação dedicada aos debates sobre a redução dos investimentos em startups mundo afora, diferentes painéis reuniram lideranças de fundos de investimento, venture builders e empreendedores à frente de startups de sucesso para debater as melhores estratégias para manter crescimento e continuar captando recursos, mesmo em meio à maré baixa.

Alguns dos principais momentos do primeiro dia do evento de inovação e empreendedorismo:

Que fim levaram os cheques de R$ 100 milhões?

  • Para João Kepler, fundador do fundo early stage Bossanova, a ressaca do venture capital não representa uma ameaça a empresas iniciantes. Pelo contrário. O cenário desafiador, segundo ele, tem servido para comprovar modelos de negócios de empresas naturalmente resilientes e, na ponta, tem favorecido o crescimento de empresas novatas. "Essas empresas já cuidavam do caixa, queimavam pouco capital e tinham uma governança estruturada, e isso fez a diferença", disse o investidor, durante o primeiro dia do South Summit, evento de inovação que acontece em Porto Alegre.
  • Em painel que buscou discutir a jornada de startups da concepção ao IPO, Kepler e outros líderes de fundos de venture capital falaram sobre o atual cenário para investimentos em startups e o que esperar daqui para a frente.
  • Segundo Luís Filipe Lomonaco, sócio do fundo de private equity Treecorp Investimentos, o Brasil pode ser caracterizado como uma "tempestade perfeita", uma combinação de circunstâncias improváveis que, segundo ele, não deve mudar tão cedo.
  • Longe dos grandes cheques (em meados de 2022, a Treecorp investiu R$ 100 milhões na marca de luxo Tânia Bulhões) a estratégia, daqui em diante, será focar nas já investidas. "Acredito que vai levar mais dois anos para a situação no venture capital se normalizar. Para nós, o foco agora está em cuidar do crescimento e sustentabilidade das empresas que já estão no portfólio”.
  • “Somos a alternativa para este momento econômico do Brasil”, disse Kepler sobre as startups em estágios iniciais que oferecem soluções para grandes empresas em busca de inovação. "Mas não veremos cheques de R$ 100 milhões tão cedo".

Como continuar captando fundos, segundo lideranças de VCs Latam

  • Driblar a escassez de capital no mercado não é um desafio limitado às startups. Fundos também precisar nadar contra a maré para continuar captando investimentos e, assim, "retroalimentando" suas startups investidas, ainda que nenhuma nova empresa passe a integrar a lista de apostas no futuro próximo.
  • Durante o primeiro dia do South Summit Brazil, quatro lideranças da indústria de capital de risco do Uruguai, Paraguai, Chile e Brasil discutiram as oportunidades e estratégias para continuar atraindo recursos dos chamados Limited Partners (LPs) – cotistas de fundos de investimento em participações.
  • Participaram do painel Javier Cueto, gestor e sócio da Imagine Ventures, baseado no Chile; Juan Cruz Valdez Rojas, fundador e gestor da iThink VC, do Paraguai; Hernan Haro, fundador e gestor da MrPink VC, do Uruguai; e Fabiana Fagundes, sócia da FM/Derraik, um dos principais escritórios brasileiros de advocacia especializados em Venture Capital.
  • Quais são as lições: os especialistas destacaram, entre outras lições, a importância de definir, de maneira clara, o perfil dos cotistas dos  fundos, de olho em investidores que corroborem com a tese e estratégia da firma. A diversificação, seja ela de investidores, origem das startups e de cotistas, também é essencial.

Qual é o ânimo entre as fintechs

  • Depois do boom dos últimos anos, as fintechs estão com os ânimos contidos ao serem diretamente impactadas pela menor disposição de investidores em injetar recursos em abundância nas startups. Segundo Sergio Furio, CEO da Creditas, as fintechs estão vivendo uma "ressaca" após o período de bonança.
  • Furio participou de um painel sobre o mercado latino-americano de empresas de tecnologia financeira no primeiro dia do South Summit, em Porto Alegre. Ao lado de Furio estava Gerry Giacomán Colyer, CEO e cofundador da Clara, empresa mexicana focada em cartão de crédito e gestão de despesas corporativas.
  • Em comum, Furio e Colyer compartilham o fato de estarem à frente de empresas com valuation bilionário e que foram beneficiadas pela digitalização e adoção em massa de serviços financeiros digitais pela população.
  • Lidar com esse novo momento do mercado — que demanda operações mais enxutas — segundo os CEOs, depende da oferta de serviços ainda melhores aos clientes, agora mais exigentes. “As pessoas querem serviços mais baratos, mais rápidos e melhores. Isso nunca muda”, disse Furio.
  • O uso de recursos como inteligência artificial, segundo ele, pode ajudar.
  • "Muitas tarefas em serviços para clientes, como interpretar contratos, vão desaparecer. Não sei se o ChatGPT é o futuro ou não. Mas não imagino em cinco anos fazermos as coisas no backend do mesmo jeito de hoje", disse.

Como foi a manhã

*A jornalista viajou a convite do evento

Acompanhe tudo sobre:Startupssouth-summit-brasilEmpreendedorismoVenture capital

Mais de Negócios

Os segredos da Electrolux para conquistar a preferência dos brasileiros há quase um século

Você já usou algo desta empresa gaúcha que faz R$ 690 milhões — mas nunca ouviu falar dela

Ela gastou US$ 30 mil para abrir um negócio na sala de casa – agora ele rende US$ 9 milhões por ano

Ele só queria um salário básico para pagar o aluguel e sobreviver – hoje seu negócio vale US$ 2,7 bi