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CEO da Samarco diz que está ficando difícil operar ainda em 2017

A empresa interrompeu suas atividades após o rompimento de uma de suas barragens em Mariana (MG), em novembro de 2015

Samarco: "Está ficando muito apertado para o fim deste ano" (Ricardo Moraes/Reuters)

Samarco: "Está ficando muito apertado para o fim deste ano" (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 23 de maio de 2017 às 16h04.

Última atualização em 23 de maio de 2017 às 18h39.

Rio de Janeiro - A mineradora Samarco já considera desafiador retomar suas atividades de mineração ainda neste ano, diante da morosidade para obter licenciamentos ambientais, mas segue confiante do apoio de seus acionistas e de governos, apesar da crise política e da mudança na presidência da Vale.

O presidente da Samarco, Roberto Carvalho, afirmou à Reuters nesta terça-feira que há incertezas sobre o cumprimento da previsão de operar ainda neste ano, por considerar que os dois processos de licenciamento ambiental necessários para voltar às atividades estão demorando mais do que a empresa deseja.

"Está ficando muito apertado para o fim deste ano, mas se tudo correr bem daqui para frente ainda dá tempo, mas a gente não tem condições de garantir porque não depende da gente... cada dia que passa aperta mais um pouco", afirmou Carvalho, por telefone, após participar de audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Na audiência, o presidente apresentou seus esforços para voltar a operar e, segundo ele, foi amplamente apoiado por prefeitos e políticos que defendem as atividades da empresa, por gerar renda e emprego em um momento de dificuldades econômicas do Brasil.

A mineradora interrompeu suas atividades após o rompimento de uma de suas barragens em Mariana (MG), em novembro de 2015, que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e poluiu o rio Doce, que deságua no litoral do Espírito Santo. O evento foi considerado o maior desastre ambiental do Brasil.

A retomada da Samarco, uma joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP Billiton,, é importante para que a empresa possa arcar com reparações cobradas após o incidente, que devem atingir valores bilionários.

Em sua primeira previsão, a empresa esperava voltar a operar no ano passado, com capacidade limitada de produção de cerca de 19 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro por ano, antes de adiar para este ano, diante das dificuldades com licenças ambientais.

Para retomar suas operações, a Samarco precisa de dois licenciamentos distintos, sendo um para o uso de uma cava de mineração exaurida para a deposição de rejeitos e outra para a volta das operações do complexo de Germano, em Mariana.

O processo para o licenciamento da cava, chamada Alegria Sul, teve início em junho de 2016 e segue os trâmites necessários junto ao órgão ambiental de Minas Gerais (Semad).

Segundo o presidente, após obter essa licença, a empresa precisaria ainda de mais cinco meses para preparar o local.

Já o processo de licenciamento para o complexo de Germano esbarra na dificuldade da empresa em obter o aval de Santa Bárbara (MG), um dos cinco municípios diretamente influenciados pela empresa.

Santa Bárbara foi o único que não entregou a declaração de conformidade à mineradora, enquanto defende que o local de captação de água da empresa na cidade está numa área degradada.

A prefeitura afirmou nesta terça-feira que emitirá um parecer até 6 de junho, após ter sido notificada por decisão judicial. Mas não adiantou qual será o conteúdo do documento.

A Samarco precisa ainda da retomada para honrar seus compromissos financeiros com mais tranquilidade.

A empresa tem cerca de 3,8 bilhões de dólares em dívidas, sendo 1,6 bilhão com bancos e 2,2 bilhões com detentores de bonds.

Segundo Carvalho, uma melhor clareza sobre quando poderá voltar a funcionar é essencial para que a Samarco possa renegociar dívidas com os credores.

"A gente tem discutido com bancos e bondholders, mas condição básica para isso é o retorno da empresa... quando volta, como será a geração de caixa... isso está de certa forma dependente desse processo todo de licenciamento", afirmou, sem dar detalhes sobre as negociações ou sobre futuros vencimentos.

Apoio incondicional

O presidente da Samarco destacou ainda que tem tido forte apoio de seus acionistas e que a posse do novo presidente da brasileira Vale, Fabio Schvartsman, nesta semana, não deve afetar rumos traçados anteriormente.

"O apoio que a Vale e BHP têm nos dado é enorme e incondicional... o processo já está bem avançado e eu não acredito que tenha mudanças decorrentes do Fábio ter tomado posse como CEO da Vale", afirmou, ressaltando que os acionistas estão provendo o capital de giro da Samarco desde o ano passado.

Uma possível mudança no governo federal, com o agravamento da crise política no Brasil, também não deve afetar os planos da Samarco de retornar às operações, na avaliação de Carvalho, apesar de ponderar que os reflexos no câmbio e na economia impactam o mercado como um todo, incluindo a companhia.

O presidente destacou que a empresa já passou por uma mudança de governo --com o afastamento da presidente Dilma Rousseff-- com o qual havia alcançado um importante acordo, e que isso não impactou fortemente os planos da empresa.

"Nós passamos por uma mudança do governo após o acidente, um grande acordo foi negociado com um governo e depois outro governo assumiu. É claro que isso sempre dificulta um pouco mais, mas hoje acho que impactaria menos do que foi naquela época, porque hoje já tem um entendimento mais claro da situação que está, com pequenos pontos para avançar", afirmou.

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