Rede D’Or é a empresa do ano de Melhores e Maiores
Maior rede de hospitais do país dobrou de tamanho em cinco anos. Agora investe em parcerias para se manter competitiva
Mariana Desidério
Publicado em 26 de agosto de 2019 às 22h30.
Última atualização em 27 de agosto de 2019 às 16h45.
A união da qualidade com uma boa gestão dos números levou à escolha da Rede D’Or, maior grupo de hospitais do Brasil, como empresa do ano em MELHORES E MAIORES 2019 . A revelação foi feita na noite desta segunda-feira, durante cerimônia realizada na Sala São Paulo, na capital paulista. EXAME premia a empresa do ano desde 1974, na mais tradicional premiação do capitalismo brasileiro. A Rede D'Or levou o prêmio pela primeira vez.
Nascida no Rio de Janeiro, em um contexto de falta de opções de atendimento para o público rico da zona sul carioca, a Rede D’Or tem hoje 45 hospitais e mais de 40 clínicas oncológicas. A companhia viu a receita crescer de 126,5 milhões de dólares, em 2009, para 1,96 bilhão, em 2018 (no consolidado o grupo faturou 2,9 bilhões de dólares). No mesmo período, o lucro líquido da controladora foi de 6,7 milhões de dólares para 308 milhões, com aumento de 20% no ano passado.
O crescimento vigoroso está baseado na ideia de atender bem para atender sempre. Nas unidades da bandeira Star, a mais sofisticada e cara da rede, há um enfermeiro para cada dois pacientes na unidade de tratamento intensivo. O objetivo é fazer com que pacientes e médicos prefiram os hospitais da Rede D’Or aos concorrentes.
Para isso, 30% da remuneração dos diretores dos hospitais está atrelada a metas de qualidade. Como a parte administrativa é centralizada, esses executivos ganham mais tempo para focar o atendimento. O resultado é que o índice de satisfação dos clientes nas unidades da bandeira Star é de 9,5 (de zero a 10). Na rede toda, o índice, medido pela própria empresa, fica em 8.
Enquanto em hospitais que não atuam em rede o gasto com administração pode chegar a 15% da receita, nos hospitais da Rede D’Or esse custo representa 4%. Por causa do volume de compras, a companhia consegue negociar bons descontos com fornecedores, e os preços chegam a ficar 20% abaixo da média do mercado.
O grupo guarda o luxo para os hospitais mais caros, como os da bandeira Star. Na parte administrativa, as estruturas são simples e funcionais. A sede da empresa no Rio de Janeiro, por exemplo, fica em uma sobreloja sem glamour no bairro de Botafogo.
Por trás desse sucesso está a família Moll. O cardiologista Jorge Moll, que fundou a empresa em 1977 junto com a mulher, Alice, hoje preside o conselho de administração. Dos cinco filhos do casal, três fazem parte do conselho, um preside o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e uma atua como médica. O caçula, Paulo Moll, de 38 anos, é o vice-presidente e acompanha o dia a dia do negócio ao lado do presidente, Heráclito Brito. Em janeiro, Paulo vai assumir a presidência e Brito passará a presidir uma holding com os negócios da rede.
A Rede D’Or aproveitou um momento único do mercado de saúde brasileiro. Até 2015, a participação de capital estrangeiro no setor era proibida, limitando a concorrência aos grupos nacionais. Nesse contexto, a companhia cresceu e comprou hospitais regionais importantes. Naquele ano, o governo derrubou a barreira aos estrangeiros no mercado de hospitais. A Rede D’Or, que já tinha saído na frente, capitalizou-se para crescer ainda mais.
Na época, o fundo americano de participações Carlyle pagou 1,8 bilhão de reais por uma fatia da companhia e o GIC, Fundo Soberano de Singapura, pagou 2,4 bilhões de reais por outra parte do negócio. Hoje, o controle da empresa é dividido em 57,4% da família Moll, 25,9% do GIC, 11,9% do Carlyle e o restante de sócios minoritários.
Recentemente, a companhia anunciou investimento de 8 bilhões de reais até 2023 em crescimento orgânico, com a construção de mais dez hospitais. Contra a verticalização da concorrência, a Rede D’Or também tem desenhado um modelo em que o atendimento fica centrado nos hospitais de sua rede. O objetivo é reduzir a proporção de leitos vazios em seu parque hospitalar, ainda que isso signifique perder margem por paciente.
Como parte desse plano, a companhia comprou no início de agosto 10% das ações da administradora de planos de saúde coletivos Qualicorp, a maior do setor, com cerca de 2,4 milhões de pessoas em sua carteira. O futuro será mais complexo, mas a Rede D’Or investe para se antecipar aos problemas.