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Quais as vantagens e riscos do COE, investimento que cresceu 50% em 2021?

Os Certificados de Operação Estruturada (COE) chegaram a 31 bilhões de reais distribuídos aos investidores em 2021. A EXAME entrevistou especialistas para explicar como funciona e quais os riscos de investir nesse produto

Ações, opções e ativos de renda fixa: o COE (Certificado de Operações Estruturadas) pode reunir todos esses ativos dentro da sua carteira (Germano Lüders/Exame)
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Bianca Alvarenga

Publicado em 9 de março de 2022 às 06h04.

Última atualização em 9 de março de 2022 às 08h13.

Antes visto como um enigma por boa parte dos investidores, os Certificados de Operações Estruturadas (COE) conquistaram espaço entre as aplicações de renda variável. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o volume distribuído em COE saltou de 19,9 bilhões em 2020 para 31,2 bilhões de reais no ano passado, um avanço de mais de 50%.

Apesar do crescimento em volume, o COE ainda é um produto que desperta dúvidas entre os investidores. Isso se dá, em primeiro lugar, porque o COE tem um funcionamento bastante diferente do de outras aplicações da mesma classe. Além disso, a própria dinâmica de estruturação dessa aplicação permite que seja possível encontrar COEs com diferentes propósitos no mercado.

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Para ajudar a desvendar esse investimento, a EXAME Invest entrevistou especialistas que deram dicas sobre o que observar ao analisar um COE e quais são os riscos e oportunidades desse produto.

O que é e como funciona o COE?

Os Certificados de Operações Estruturadas (COE) são inspirados em um instrumento chamado notas estruturadas, negociado nos Estados Unidos e Europa. O mecanismo do COE e das notas estruturadas é o mesmo: a combinação de ativos de diferentes classes dentro de um mesmo produto. Pode ser, por exemplo, a união entre um título de crédito (renda fixa) e um derivativo ou um ativo de renda variável.

O prazo de resgate de um COE varia entre seis meses e cinco anos, na maior parte dos casos. Quanto mais longo o investimento, maior tende a ser o rendimento, mas também é maior o risco de o COE não alcançar seus "objetivos".

Para entender como isso funciona, é importante saber que o rendimento da maioria dos COEs está atrelado a um cenário futuro– principalmente aqueles que têm em sua composição algum derivativo. É possível contratar um COE que "aposta" na alta ou na baixa de uma ação, de uma moeda ou um índice.

Vamos supor que, após analisar o mercado, o investidor preveja uma queda do dólar nos próximos meses e compre um COE atrelado à variação da moeda, com rentabilidade de até 20%. Se houver uma desvalorização de 30% do dólar, por exemplo, o cliente recebe o capital investido e mais o teto de 20% da rentabilidade.

Caso o dólar tenha recuado 15%, o cliente recebe o mesmo valor que investiu, sem nenhuma perda, mas sem nenhum rendimento. Essa é a regra da maioria dos COE, mas alguns podem também prever a perda de parte do valor principal (ou seja: aquilo que foi investido inicialmente).

Quais são os tipos de COE?

O COE simples é composto ou por uma opção de compra (call) ou venda (put). Simplificando, é uma aplicação que tem como objetivo a exposição do investidor a alta ou a queda de uma ação ou ativo. Nessas aplicações, o investidor ganha o que superar o preço do exercício de opção. Por exemplo, se o Ibovespa ultrapassar 130 mil, o investidor ganha um adicional previsto no contrato do COE.

Já o COE complexo é uma aplicação que costuma ter barreiras ou envolver múltiplos ativos. Por exemplo, um COE ligado ao Ibovespa pode definir que se o índice da bolsa ultrapassar um determinado número de pontos o investidor nem perde e nem ganha: terá de volta apenas o que investiu até o final do vencimento do título, porém sem correção pela taxa de juros no período. Também são considerados COEs complexos aqueles que incluem múltiplos ativos, e não apenas um único ativo.

Além disso, como já mencionamos, existem COEs que prevêem também a perda do valor principal. Essa condição deve estar descrita claramente no momento da contratação do produto.

Por que a oferta de COE aumentou?

Embora o COE contemple ativos de diferentes origens, a emissão desse investimento é feita exclusivamente por bancos e instituições financeiras. Nos últimos dois anos, a queda da taxa básica de juros incentivou a busca por ativos com rendimento mais atrativo, e os bancos passaram e emitir um volume maior desses ativos.

Além disso, a volatilidade da bolsa faz com que o investidor busque opções para se proteger das altas e baixas do mercado. O COE pode ser um bom instrumento para isso, desde que os riscos e custos sejam plenamente conhecidos.

"Muitas vezes as instituições distribuem esses ativos com foco na característica de capital garantido, para que o investidor fique tranquilo sabendo que não perderá o dinheiro investido. Por outro lado, é importante que esse investidor também saiba que há um risco de oportunidade, pois o investimento pode não trazer nenhum rendimento, se o COE não tiver o desempenho esperado", explica Bruno Di Giacomo, sócio da Blackbird.

Nesse caso, dado que existem outras aplicações poderiam ter rendido mais neste período, e dado que a própria inflação corrói o poder de compra de valores investidos, embora não tenha perdido o dinheiro inicialmente aplicado, o investidor acabou deixando de ganhar em outras opções financeiras.

Quais os riscos de investir em COE?

Um estudo conduzido pela Fundação Getulio Vargas no ano passado analisou COEs distribuídos entre 2016 e 2019 e concluiu que a maior parte deles rendeu menos do que os títulos públicos com mesmo prazo de vencimento. O Tesouro Direto é apontado como base, pois trata-se da alternativa de investimento mais segura disponível no mercado, dado que o emissor é o próprio Tesouro Nacional, do governo federal.

O levantamento também revelou que COEs simples e de menor prazo tendiam a ter um retorno melhor do que as opções mais complexas desse produto.

É importante lembrar, no entanto, que assim como o volume de COE tem crescido, a diversidade de perfis de aplicação também aumentou. Pedro Tiezzi, analista de investimentos da SVN, lembra que o COE nasceu como um produto com aparência de renda fixa, mas que as estruturas têm ficado cada vez mais sofisticadas.

"O COE é um ativo que durante um bom tempo foi controverso no mercado, porque era vendido como um produto de renda fixa, mas é uma aplicação sem liquidez e cujo rendimento pode ser zero. Mas a própria estrutura do COE permitiu que o produto evoluísse e trouxesse condições de performance mais atrativas", lembra Tiezzi.

A questão da liquidez é essencial, pois o COE não é uma aplicação que permite o resgate antecipado. Os distribuidores (corretoras e bancos) podem aceitar a "recompra" do papel para negociação no mercado secundário, mas isso, em geral, implica na perda de boa parte da rentabilidade ou até de parte do valor inicial investido.

"Os COEs que têm derivativos até podem render uma boa saída antecipada, caso o cenário seja favorável, mas não recomendamos que o investidor faça isso, porque mesmo nesses casos há um deságio. O ideal é carregar até o vencimento", pondera Di Giacomo, da Blackbird.

Outro ponto de atenção é o custo do COE. Parte da controvérsia que envolve o produto é em razão da taxa que os distribuidores recebem quando o investidor aplica o dinheiro em um COE.

Desde 2020, essas taxas passaram a ser informadas obrigatoriamente já no momento da oferta, para que o investidor saiba se aquele produto está sendo oferecido pelo seu consultor ou agente autônomo porque é adequado para seu perfil, ou se é somente para atender ao interesse do distribuidor.

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