A Natura quer a Avon. Seus acionistas, nem tanto. Por quê?
A descrença do mercado com a estratégia da Natura vem do histórico de dificuldades da Avon pelo mundo
Karin Salomão
Publicado em 25 de março de 2019 às 18h52.
Última atualização em 26 de março de 2019 às 12h35.
A Natura está firme em seu plano de se consolidar pelo mundo, mas o apetite por aquisições pode trazer instabilidade para a empresa.A companhia brasileira de cosméticos confirmou que negocia a compra da concorrente Avon , mas o plano não agradou o mercado. As ações da Natura caíram 7,8% no dia 22, após o anúncio, e continuam em queda de 3% hoje, 25. Enquanto isso, os papéis da Avon negociados em Nova York subiram 10% na sexta-feira.
Os primeiros rumores da aquisição surgiram em setembro, mas na época a companhia negou as conversas.A Avon é maior que a Natura e apresentou faturamento de 5,4 bilhões de dólares em 2018, queda de 5%, enquanto a brasileira teve faturamento de 13,3 bilhões de reais em 2018, crescimento de 13,5%. Em número de revendedoras, a diferença se mantém. A brasileira tem 1,7 milhão de consultoras, enquanto a rival tem 6 milhões.
Comprar a concorrente pode ajudar a Natura a aumentar sua participação internacional e a se fortalecer nos Estados Unidos. Também pode ajudar a empresa a se consolidar no topo do mercado. Com 11,7% do mercado de cosméticos no Brasil, está à frente da Unilever e do Grupo Boticário, mas por margens pequenas.
Por outro lado, a aquisição pode adicionar dificuldades ao seu negócio. A descrença do mercado com a estratégia da Natura vem do histórico de dificuldades da Avon pelo mundo. A companhia perdeu parte de seu apelo junto ao público e a credibilidade das representantes. Assim, a Avon, que já chegou a valer 20 bilhões de dólares, hoje o valor de mercado é de cerca de 1,3 bilhão de dólares.
Depois de recusar a proposta de venda para a Coty, em 2012, que avaliava a empresa em quase 10 vezes seu valor atual, a divisão norte-americana da empresa acabou sendo vendida em 2015. O comprador é a Cerberus Capital Management LP, empresa de investimentos privados com sede em Nova York, conhecido como um fundo abutre, interessado em empresas em dificuldade.
Para a Avon, pode ser a solução para seu negócio. Até então, a companhia criava estratégias para recuperar o apelo e o público. "A equipe de gerenciamento da Avon continua focada na estratégia de recuperação que temos articulado para os investidores para gerar valor de longo prazo para nossos acionistas", escreveu a empresa em comunicado.
Em sua apresentação de resultados do quarto trimestre de 2018, lançada em fevereiro, a companhia expõe um plano até 2021 para recuperar vendas e imagem. Para 2018, o plano era voltar ao básico e melhorar o serviço, a satisfação das representantes, melhorar a competitividade e modernizar os produtos. Para 2019, o projeto era estabilizar as receitas e buscar uma ligeira melhora nas margens, que caíram 4,2 pontos porcentuais no último ano, para 5,7%.
A Avon já tem uma relação importante com o Brasil. O país é o maior mercado para a companhia, responsável por 22% do faturamento, mesmo que as vendas por aqui tenham caído nos últimos quatro trimestres. A operação brasileira da Avon é liderada por um ex-executivo da Natura.
Estratégia internacional
Para manter o topo e ganhar mercado internacionalmente, a Natura foi às compras.A companhia adquiriu a australiana Aesop em 2012 e a britânica The Body Shop em 2017. Com as compras, conquistou um portfólio mais amplo, com produtos mais caros, e uma presença internacional forte com milhares lojas ao redor do mundo.
O mercado também reagiu negativamente com a compra da The Body Shop, que pertencia à L'Oreal. Com a notícia, as ações caíram 11% na época. Desde então, no entanto, se valorizaram 40%.As aquisições ajudaram a empresa a crescer. A The Body Shop viu as vendas crescerem 17,7% em 2018 e a Aesop aumentou as receitas em 50,6%.
Criada como uma empresa de vendas diretas, a Natura tem 45 lojas próprias, produtos em 3,8 mil farmácias e comércio eletrônico. A Aesop tem 227 lojas em 25 países e a The Body Shop está presente em 69 países com 2.935 lojas e 20 mil consultoras.
O Grupo Boticário não ficou atrás. Além da criação de novas marcas, como Quem disse, Berenice? e Eudora, comprou a Vult em março do ano passado.