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Oi vai jogar na retranca contra a Portugal Telecom

Empresa torna-se alvo dos portugueses, mas interesse do governo na operadora dificulta fusão, dizem analistas

Oi e PT: disputa Brasil X Portugal também no campo das telecomunicações (.)

Oi e PT: disputa Brasil X Portugal também no campo das telecomunicações (.)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - Na manhã desta sexta-feira (25/6), Brasil e Portugal enfrentaram-se em Durban pela Copa do Mundo da África do Sul. Em um jogo bastante truncado, o empate conferiu a liderança do Grupo G ao Brasil. Fora dos gramados, outra disputa tão embolada quanto a de hoje começa a opor brasileiros e portugueses. Trata-se do eventual interesse da Portugal Telecom em entrar no capital da Oi, caso venda a sua fatia na Vivo para a espanhola Telefônica. Mas, ao contrário da seleção brasileira, que depositou suas esperanças no ataque de Luis Fabiano e Nilmar - sem resultados -, no jogo das telecomunicações, os brasileiros tendem a ficar na retranca.

O controle da Oi é exercido pela holding Telemar Participações. Já a direção da holding é dividida entre um grupo de investidores privados e fundos de pensão ligados ao governo. Do primeiro lado, encontram-se a Andrade Gutierrez Telecom, a La Fonte Telecom, do empresário Carlos Jereissati, e a Fundação Atlântico (o fundo de pensão da própria empresa). Juntos, esses investidores detêm 50,18% da holding. Do outro, estão a Previ, a Funcef e a Petros, fundos de pensão do Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras, respectivamente. Junta-se ao grupo, o BNDESPar, o braço do BNDES para participação em empresas. Esses investidores possuem os outros 49,82% da holding.

Se a Portugal Telecom decidisse partir para o ataque, o primeiro alvo seriam os investidores privados da holding. Se algum deles (ou todos) se interessasse, os fundos de pensão e o BNDESPar poderiam formar uma linha de impedimento e barrar a jogada. A avaliação é de Beatriz Battelli, analista de telecomunicações da Brascan Corretora. "Não há nenhum empecilho legal para a venda do controle para uma estrangeira", afirma Batteli. "Mas, pelo acordo de acionistas, o grupo liderado pelo governo pode exercer seu direito de preferência na votação dos acionistas e inviabilizar a venda".

A corretora Ativa também aposta que o governo vai usar os fundos de pensão como zagueiros para bloquear a jogada da Portugal Telecom - tendo o BNDES como cabeça-de-área. "Acreditamos que a participação indireta do governo no bloco de controle, por meio do BNDESPar e de fundos de pensão ligados a empresas estatais, pode atrapalhar esse movimento", afirma a corretora, em relatório assinado pela analista Luciana Leocádio.

Vestindo a camisa

Por ora, parece remota a possibilidade de que os acionistas privados da Oi entreguem o jogo para o rival. Pelo contrário: os sinais mais recentes são de que estão vestindo a camisa da operadora brasileira. Nesta semana, jornais brasileiros informaram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com o principal executivo da Oi, Luiz Eduardo Falco, e os sócios privados da companhia - os empresários Sérgio Andrade, dono da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, da La Fonte.

No encontro, o grupo pediu a ajuda de Lula para blindar a operadora contra uma eventual proposta da Portugal Telecom - e, de quebra, alertaram o presidente sobre o fortalecimento do bilionário Carlos Slim no mercado brasileiro, caso o mexicano conclua a fusão entre a Claro e a Embratel. Lula foi um dos principais defensores da criação de uma supertele de capital nacional - e viu na fusão incompleta da Oi com a Brasil Telecom a realização desse projeto. Por isso, os analistas acreditam que o presidente tenda a apoiar o pleito dos empresários por proteção. O noticiário levou a Portugal Telecom a negar, publicamente, que tenha procurado a Oi para negociar.


 

Encobrindo o goleiro

O mercado alerta, porém, que não se pode menosprezar o eventual apetite da Portugal Telecom pela Oi. Atualmente, a Vivo representa 51% da receita global da companhia. Seus dirigentes já deram sucessivas declarações de que deixar o Brasil é algo impensável para o grupo. Por isso, os analistas são cautelosos e não descartam que o ataque português surpreenda os brasileiros a ponto de uma oferta atraente encobrir o goleiro – no caso, o governo.

"Não descartamos a possibilidade de uma oferta atrativa o suficiente para convencer os controladores da Telemar a vender o negócio", afirma a Ativa. Embora considere que a entrada da Portugal Telecom tem apenas uma "média probabilidade" de ocorrer, a corretora não descarta uma oferta alta pela empresa: 12,2 bilhões de reais no total, cerca de 5,5 bilhões de euros. A conta considera um múltiplo igual a 10 vezes o ebitda da Oi, além do pagamento de 80% de tag along para os minoritários. Como a última oferta da Telefônica pela metade que os portugueses detêm na Vivo está em 6,5 bilhões de euros, a Portugal Telecom poderia comprar a Oi e ainda sair com dinheiro em caixa.

Para Virgílio Freire, consultor de telecomunicações, ex-presidente da Vésper e Lucent, a conversa dos empresários com Lula pode ter sido um "blefe" da Oi para conseguir benefícios do governo em outros segmentos, principalmente na oferta de serviços de banda larga. "Não duvido que a Portugal Telecom não tenha feito proposta alguma pela Oi, enquanto a Oi foi se mostrar fragilizada ao governo", afirma o consultor. De acordo com Freire, o setor de banda larga é hoje o mais cobiçado pelas operadoras e também o que está com as regras mais indefinidas, por conta do leilão da banda H e da chegada da Telebrás no mercado. "Ninguém vai querer ficar de fora desse segmento, isso sim", diz.

Jogo de cena ou não, o ponto é que, neste momento, a Oi encontra-se numa situação delicada na tabela do mundial das telecomunicações, segundo os analistas. "Entendemos que, na atual conjuntura, a Oi está mais para alvo de aquisição do que para consolidador do setor", diz a Ativa. Os próximos lances dirão se a retranca armada pelo governo será capaz de deter os portugueses.

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