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O fenômeno da previdência privada

Thais Folego Os fundos de investimento não vivem um período que pode ser chamado de profícuo. Mais saiu do que entrou dinheiro nos fundos de ações, renda fixa e multimercados nos últimos 12 meses. A única exceção ficou por conta dos fundos de previdência, que receberam incríveis 43 bilhões de reais no período. E o […]

REAL: a caderneta de poupança teve saques de 95 bilhões de reais entre 2015 e 2016  / Marcelo Sayão / EFE / VEJA (Marcelo Sayão/EFE)

REAL: a caderneta de poupança teve saques de 95 bilhões de reais entre 2015 e 2016 / Marcelo Sayão / EFE / VEJA (Marcelo Sayão/EFE)

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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2016 às 19h30.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h31.

Thais Folego

Os fundos de investimento não vivem um período que pode ser chamado de profícuo. Mais saiu do que entrou dinheiro nos fundos de ações, renda fixa e multimercados nos últimos 12 meses. A única exceção ficou por conta dos fundos de previdência, que receberam incríveis 43 bilhões de reais no período. E o fluxo deve aumentar à medida que a economia melhorar e a reforma da previdência pública avançar.

“Em tempos de crise e incertezas, produtos de proteção como previdência e seguro de vida acabam ganhando relevância na hora de as pessoas decidirem o que fazer com o seu dinheiro”, diz Luciano Snel, diretor da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Segundo ele, pesquisas mostram que a previdência privada já aparece entre os cinco itens de desejo da nova classe média brasileira. Atualmente, 12,5 milhões de brasileiros possuem 594 bilhões de reais em fundos do tipo VGBL e PGBL. Cerca de 300.000 adquiriram o produto nos últimos 12 meses terminados em junho.

O aumento da expectativa de vida e as discussões sobre mudanças nas regras do INSS também contribuem para a corrida para a previdência privada. “Sem dúvida a reforma da previdência tem efeito sobre a captação, porque as pessoas percebem que o governo não será capaz de manter sua aposentadoria, e que elas terão que poupar por si só”, diz Sandro Bonfim, superintendente de produtos da Brasilprev, empresa de planos de previdência do Banco do Brasil e da americana Principal.
O sucesso dos planos de previdência não é recente, mas se manteve até na recessão. Os fundos mostram captação líquida positiva desde 2002, com crescimento de dois dígitos, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Isso se deve principalmente a dois fatores: ao grande exército de gerentes de bancos que ofertam os produtos aos seus milhares de clientes e aos incentivos tributários dado por esses planos. “O poder de venda dos bancos é um fator muito importante para alavancar os planos de previdência”, diz Lauro Araújo, diretor da Las Consultoria.

O setor é, de fato, bastante concentrado nos grandes bancos de varejo. Segundo dados da Fenaprevi, 80% do patrimônio dos fundos de previdência pertence a três bancos brasileiros: Brasilprev (29,21%), Bradesco Vida e Previdência (28,61%) e Itaú Vida e Previdência (22,84%). O fenômeno de captação, porém, tem atraído cada vez mais gestores independentes para o segmento. Exemplo disso foi a emblemática estreia neste mercado da Verde Asset, a famosa gestora de Luis Stuhlberger.

Em parceria com a Icatu, o Verde lançou em dezembro um fundo de previdência multimercado que investe de forma ativa em renda fixa, ações brasileiras e americanas. Até agosto, o fundo captou 355 milhões de reais e apresenta um rendimento de 11,6% desde o seu lançamento, ante um CDI de 10% no mesmo período. “Este é um mercado extremamente dominado pelos bancos, então as seguradoras independentes precisam trazer estratégias diferenciadas de gestão dos ativos para este mercado, como multimercado macro e crédito privado”, diz o superintendente de produtos de previdência da Icatu, Felipe Bottino. Ele trabalha com o conceito de plataforma aberta, ou seja, distribui produtos de outras gestoras, entre elas Brasil Plural, JP Morgan, Vinci Partners, BNP Paribas, Ibiúna e Quest.

Vida mais dura

Com a perspectiva de queda da taxa básica de juros da economia, estratégias passivas de investimento não serão mais ser suficientes para alcançar a rentabilidade ostentada nos anos de juros entre os maiores do mundo. O Boletim Focus, do Banco Central, mostra que economistas esperam que a taxa Selic termine 2017 em 11%, portanto 3,25 pontos percentuais abaixo dos atuais 14,25% ao ano. O mercado financeiro brasileiro experimentou brevemente esse cenário de queda de juros em 2012, quando a Selic chegou a 7,25% ao ano e obrigou os gestores a diversificarem suas carteiras.

Marcelo Wagner, superintendente de planejamento, riscos e investimento da Brasilprev, avalia que um primeiro movimento de diversificação deva começar dentro da própria renda fixa, onde está alocado cerca de 90% do patrimônio dos fundos de previdência. Depois deve vir a renda variável, com a aplicação em ações de fora do país, possibilidade que foi aberta recentemente pra o setor. “A trajetória do que vai acontecer está dada. A questão é quando isso vai acontecer. A taxa de juros vai determinar a velocidade de quando isso vai acontecer”, diz.

O custo também vai passar a pesar mais sobre a rentabilidade desses fundos com uma taxa de juros em queda. Esses produtos são, em geral, considerados caros se comparados aos fundos de investimentos comuns, uma vez que além da taxa de administração cobram também uma taxa de carregamento (valor cobrado na entrada e na saída dos recursos no plano). Os bancos cobram em média de clientes de varejo taxas de administração entre 1,5% e 2%, mais taxas de carregamento de entrada e de saída que podem chegar a 1%.

Especialistas avaliam que o custo é importante para esses produtos de longo prazo, mas que ele deve ser avaliado sob a perspectiva da performance e da consistência do retorno do fundo. “Não me importo de pagar 2% de taxa num fundo ativo que me renda 200% do CDI. Já numa carteira passiva pagar isso é suicídio”, diz Araújo, da Las Consultoria. Opções de gestores e estratégias de investimentos parecem que não vão faltar no mercado de previdência privada. Competição entre os gestores, também não.

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