Negócios

Nissan se prepara para um drástico corte de funcionários

Força de trabalho será reduzida em mais de 7% em um grupo de 139.000 funcionários

Nissan: Depois de uma queda de 57% em seu lucro líquido em 2018/19, a Nissan deverá ter uma queda de 90% no lucro operacional (Toru Hanai/Reuters)

Nissan: Depois de uma queda de 57% em seu lucro líquido em 2018/19, a Nissan deverá ter uma queda de 90% no lucro operacional (Toru Hanai/Reuters)

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AFP

Publicado em 24 de julho de 2019 às 08h05.

A fabricante japonesa Nissan, que já foi a força motriz da aliança com a a francesa Renault, está em crise: prepara-se para anunciar na quinta-feira medidas drásticas para reequilibrar suas contas, com a imprensa japonesa evocando mais de 10 mil cortes de empregos.

Seu chefe, Hiroto Saikawa, já havia alertado: as reformas serão dolorosas, e o grupo não tem outra escolha, encurralado, segundo ele, pela estratégia de expansão forçada liderada por Carlos Ghosn.

"Não comentamos sobre especulações", respondeu uma porta-voz da Nissan. Mas de acordo com a agência de notícias Kyodo e os principais jornais do país, o anúncio virá na quinta-feira, por ocasião da publicação pela fabricante de seus resultados trimestrais, que deverão ser muito fracos.

Depois de uma queda de 57% em seu lucro líquido em 2018/19, a Nissan deverá ter uma queda de 90% no lucro operacional no primeiro trimestre do atual ano fiscal (abril-junho), informou o jornal econômico Nikkei em seu site, sem citar fontes.

Sua compatriota Mitsubishi Motors, última a entrar na aliança, apresenta suas contas nesta quarta-feira e, depois de um ano muito bom, também espera uma queda nos lucros.

"Inevitável"

Com os 4.800 postos já mencionados em maio pela Nissan, pelo menos 5.200 postos de trabalho adicionais estão na mira. Os cortes podem afetar fábricas na América do Sul e em outras áreas onde a rentabilidade da Nissan é baixa, diz Kyodo.

Hiroto Saikawa, que se distinguiu por seu zelo em cortar custos sob as asas de Carlos Ghosn na virada dos anos 2000, quando a Nissan estava à beira da falência, adota agora o mesmo método. A força de trabalho será reduzida em mais de 7% em um grupo de 139.000 funcionários.

Na Bolsa de Valores de Tóquio, esses cortes foram recebidos de forma bastante positiva por investidores que calculam especialmente as vantagens financeiras: as ações fecharam com um ganho de 0,95%, a 781,6 ienes.

"Esta é uma resposta apropriada para as vendas fracas", comentou friamente à AFP Janet Lewis, especialista do setor na Macquarie Capital Securities. "As montadoras não estão em plena forma, e algumas precisam reduzir sua produção", diz, tomando como exemplo as americanas Ford e General Motors.

Para a Nissan, "uma reestruturação em larga escala de toda a empresa, não apenas das fábricas, é inevitável", diz Tatsuo Yoshida, analista da Sawakami Asset Management.

 "Surdo ou cego"

Segundo ele, o grupo está em "excesso de capacidade" devido às ambições passadas de Ghosn, obcecado em ser o maior do mundo.

Mas, em um contexto difícil para a indústria, a Nissan parece hoje sem fôlego. A empresa sofreu um forte declínio nas vendas de seus carros nos Estados Unidos e na Europa, sem mencionar o impacto em sua imagem do caso Ghosn.

A empresa japonesa contribuiu largamente para desencadear a saga, conduzindo a investigação interna contra seu chefe emblemático. Preso em novembro, o magnata deposto foi indiciado quatro vezes pelos tribunais japoneses.

"Não existe uma fórmula mágica para ressuscitar a Nissan", mas requer "liderança sólida" e este não é o caso de Saikawa, que continua na liderança por falta de outros candidatos potenciais, segundo o especialista.

Contestado pelos acionistas e pouco apoiado internamente devido à sua antiga proximidade com Ghosn, ele pode "não aguentar muito tempo", prognostica Yoshida. E "a Nissan deve melhorar a situação sem demora ou fortalecer sua posição" em uma aliança à beira da ruptura.

Os dois parceiros não estão na mesma sintonia: a Renault, que detém 43% de seu capital, quer mais integração, enquanto a Nissan quer preservar sua independência a todo custo.

Jean-Dominique Senard, presidente do conselho da Renault e chefe da aliança alertou sobre sua vigilância. "Tem que ser surdo ou cego para não entender que a recuperação da Nissan é uma questão prioritária", disse ele em uma entrevista em junho.

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