"Não somos ficha suja", diz diretora da Eletrobras
Para Lucia Casasanta, empresas privadas dependem única e exclusivamente da vontade dos donos, já em empresas estatais os procedimentos são mais complexos
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de julho de 2018 às 10h53.
Última atualização em 23 de julho de 2018 às 10h57.
São Paulo - É bem mais fácil implementar regras de compliance no ambiente privado do que numa empresa estatal . Essa é a avaliação da diretora de conformidade da Eletrobras , Lucia Casasanta. Ao assumir o cargo, diz, encontrou uma empresa com o "moral muito baixo". A seguir, trechos da entrevista.
Qual é a maior mudança realizada no modo de operar da Eletrobras nesses dois anos?
Quando a gestão atual chegou, era um momento de moral muito baixa. Havia uma investigação independente acontecendo, mas inconclusiva, e muita incerteza a respeito do envolvimento nas questões da Lava Jato. Havia um processo de deslistagem das ações da Eletrobras aberto nos Estados Unidos. Conseguimos concluir a etapa importante da investigação, que quantificava o impacto financeiro e como a Lava Jato afetava os principais investimentos da Eletrobras. Isso foi quantificado, registrado e arquivado na SEC (órgão regulador dos EUA). No mesmo momento, o processo foi suspenso e voltaram a negociar ações lá.
Quais são os desafios para a conformidade da Eletrobras?
Nesse período, nós atualizamos mais de 20 políticas relativas ao compliance, agora temos um novo regulamento de compras, um canal para denúncias externo unificado. O programa é robusto, mas nunca se está 100%, é uma eterna construção.
Antes, a sra. atuou no setor privado. Qual é a diferença?
Numa empresa privada é muito mais fácil, além de menos custoso. A empresa privada depende única e exclusivamente da vontade dos donos. A estatal tem também o lado governamental, que é o mais complexo. Chega a ser incomparável. Em empresa privada é uma questão de "quero" ou "não quero". E o "não quero" define várias outras questões. Por exemplo: a empresa privada pode dizer a um fornecedor que não quer contratá-lo. Na estatal, é preciso dar o direito de concorrência. A estatal tem um processo mais caro, porque abre direito de concorrência e precisa exigir e conferir procedimentos. Fica mais caro e demorado.
Há risco de perder o que foi conquistado na Eletrobras nos últimos anos?
Eu acho que é um processo que não tem volta. O procedimento está consolidado.
Uma reportagem do 'Estadão/Broadcast' apontava que a influência política na indicação de diretores continua forte. Isso é perigoso para a Eletrobras?
Temos uma política bastante robusta sobre indicação, muito suportada na lei das estatais. Há questões claras sobre ligação com política e se requer níveis de experiência técnica e acadêmica. É feito um processo interno, que passa pela diretoria de conformidade, com checagem de currículo, por governança e pela comissão de indicação, órgão do conselho de administração da holding com conselheiros independentes. Tivemos casos de indicados que não passaram.
A sra. enfrentou resistências internas às mudanças?
Não se iludam, não gostamos de estar nos jornais, de ter pecha de empresa com ficha suja. Não somos ficha suja. Fomos vítimas (da corrupção) e agora somos um case de sucesso e queremos continuar assim.