Lista de compras, trânsito seguro e arquitetura: veja 3 startups que captaram milhões com IA
Diversas startups decidiram incluir inteligência artificial nos seus modelos de negócio; outras, nasceram por causa dela
Repórter de Negócios
Publicado em 3 de janeiro de 2024 às 13h49.
Nenhum termo foi tão discutido nas rodas de conversas de startups em 2023 do que inteligência artificial. O assunto, que vinha caminhado a passos mais lentos na última década, ganhou escala no ano passado com a força e popularização da IA generativa, influenciada, principalmente, pela OpenAI e seu ChatGPT.
A bem da verdade, quase toda startup decidiu que era hora de incluir inteligência artificial nos seus modelos de negócio. Algumas, porém, não só incluíram como foram concebidas já tendo a IA como centro principal da operação.
Para os fundos de investimento, oportunidade de aportar dinheiro nessa que é, sem dúvida, uma das grandes apostas do futuro - e já do presente, também.
Relembre abaixo três aportes noticiados pela EXAME em 2023 em startups que já usam, na sua essência, inteligência artificial.
Avaliar direção de motoristas: aporte de R$ 7,2 milhões
Sabe as notas que damos aos motoristas de aplicativo depois de uma corrida? Geralmente, avaliamos o profissional por itens como segurança, tranquilidade na viagem e qualidade do veículo. A startup Able-On tem uma missão parecida: ela precisa avaliar como motoristas de frotas de companhias dirigem. Mas como fazer isso em escala, considerando que há empresas com centenas de caminhões ou veículos para transporte? Usando inteligência artificial.
Na prática, a Able-On instala sensores - ou usa os que já existem nos veículos - para fazer análise de vários dados em tempo real, e avaliar como está a condução do motorista. Esses dados são encaminhados para a inteligência artificial proprietária da empresa, que analisa se há algum desvio de comportamento e gera reports para os próprios motoristas e para as empresas donas das frotas.
“Baseado em algoritmo próprio de IA, a tecnologia faz a leitura de dados de geoposicionamento de um veículo e começa a identificar padrões comportamentais que levam a desgaste excessivo, consumo elevado e aumento de risco de acidente”, afirma o cofundador Normano Ribeiro. “Esta análise é traduzida em indicadores de tranquilidade e conforto, que por sua vez, permitem ser correlacionados com o objetivo da operação do cliente".
Com essa tecnologia, a startup anunciou em 2023 uma captação de 7,2 milhões de reais feita pela locadora goiana de veículos para frotas ITA Frotas. O dinheiro será usado para ampliar as funcionalidades de IA da plataforma e dobrar o tamanho da empresa.
- Veja detalhes da empresa aqui: Essa startup usa IA para avaliar a direção de motoristas. E acaba de captar R$ 7,2 milhões por isso
Projetos de arquitetura: aporte de R$ 6,2 milhões
Um banco precisa cuidar da reforma e da arquitetura de suas centenas, senão milhares de agências. Normalmente, a equipe de arquitetura da instituição financeira levaria alguns dias, ou então semanas, para cada projeto. Isso porque precisa estudar e entender onde é melhor colocar os caixas eletrônicos, as mesas de atendimento e até a porta giratória. Com a Arqgen, startup de inteligência artificial para arquitetura, porém, o banco faz isso em segundos.
O caso acima não é só um exemplo, mas é também a história que levou à criação da startup de arquitetura generativa de São Paulo. Os arquitetos fundadores, Alexandre Kuroda e Thomas Takeuchi, estavam estudando o assunto dentro do hub de inovação Inovabra em 2019 quando a incubadora, o banco Bradesco, os procurou para falar dessa dor.
De lá para cá, a startup validou o produto com novos clientes e recebeu um milhão de reais no programa de subvenção da Fapesp/Finep. Em 2023, a empresa concluiu sua primeira rodada de investimento para consolidar e expandir a ferramenta para construtoras e incorporadoras de diferentes regiões e tamanhos. “Se conseguimos organizar objetos dentro de uma agência, conseguimos organizar salas dentro de um apartamento, ou prédios dentro de um terreno”, afirma o co-fundador.
O cheque foi de 6,2 milhões de reais. O aporte é coliderado pela Terracotta Ventures, venture capital no setor de construtechs e proptechs, e pela ABSeed, casa de investimento de venture capital focada em empresas com soluções SaaS. A rodada contou ainda com a participação de BR Angels e Smart Money Ventures.
- Saiba mais e veja detalhes: Essa startup usa AI para fazer projetos de arquitetura. E acaba de receber R$ 6,2 milhões por isso
Lista de compras: aporte de R$ 1 milhão
Facilitar a venda no e-commerce. Foi o que o empreendedor mineiro Murillo Pires quis fazer ao criar a B2List. A startup, nascida em 2020, vende uma ferramenta para que atacados e distribuidores possam oferecer listas inteligentes aos pequenos varejistas mostrando o que eles precisam comprar. E tudo isso por WhatsApp.
“A ideia é oferecer a venda mais simples possível”, afirma Pires. “Tudo acontece por WhatsApp, sem necessidade de se logar. A inteligência artificial identifica o que o varejista costuma comprar, em que momento do mês, e monta listas que chegam por mensagem. O pequeno comerciante só precisa autorizar ou editar a lista”.
A inteligência artificial usada pela B2List foi desenvolvida pela própria empresa e usa o que a área chama de "modelagem estatística". Nessa tecnologia, os algoritmos vão aprendendo a partir de diversas bases de dados e do acúmulo de experiência. Por exemplo, se todo dia 10 o varejista compra pacotes de arroz, de feijão e de açúcar, o sistema vai entender isso e passar a oferecer automaticamente esses produtos na data. Mas, se o atacado registrar que o varejo só comprou o açúcar, o sistema também consegue identificar isso e oferecer o restante da mercadoria alguns dias depois.
Em 2023, três anos depois de ser lançada no mercado, a B2List recebeu seu primeiro aporte. São 1 milhão de reais, divididos em duas frentes. Um deles é da BossaNova Investimentos, de 500.000 reais. Outro vem da gestora de venture capital Domo Invest, com o mesmo valor.
O montante será aplicado de maneira cautelosa, diz Pires. Parte dele será aplicado na melhoria do produto, contratando pessoas de tecnologia para ajudar no desenvolvimento da inteligência artificial. Outra parte será destinada à área comercial, para potencializar as vendas.