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Klajner, do Albert Einstein: a indústria da doença precisa mudar

Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein fala sobre a importância de colocar a prevenção e a promoção da saúde como prioridades

Sidney Klajner: Médico durante participação de debate no Exame Fórum Saúde, em São Paulo (Germano Lüders/Exame Hoje)

Sidney Klajner: Médico durante participação de debate no Exame Fórum Saúde, em São Paulo (Germano Lüders/Exame Hoje)

CA

Camila Almeida

Publicado em 13 de setembro de 2017 às 18h05.

Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 18h06.

Remédios, consultas, cirurgias, internações, próteses, exames com realizados com máquinas de última geração. A saúde está cada vez mais cara, com a inflação médica batendo recorde ano após ano – em 2016, chegou a 19%, três vezes mais alta do que a de inflação de 6% registrada no país como um todo. Porém, por trás de todos esses procedimentos está a doença, e é o tratamento que tem movido a economia da saúde, não a prevenção.

Para o médico Sidney Klajner, que é cirurgião gastrointestinal e presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, está na hora de a indústria da doença, que movimenta gigantes como farmacêuticas, laboratórios, hospitais, clínicas e planos privados, se transformar na indústria da prevenção e promoção da saúde.

Durante o EXAME Fórum Saúde, realizado em São Paulo no último dia 12, o médico alertou para a necessidade de todos os players se voltarem para a construção de uma sociedade menos doente, com investimentos em nutrição, atividades físicas e políticas antitabagismo e antialcoolismo, além de pressionar para a construção de cidades mais saudáveis.

No evento, o senhor se referiu à indústria da doença, afirmando que ela é lucrativa para vários setores. O que precisa ser feito para que a indústria veja a saúde como lucrativa?

Algumas iniciativas foram feitas no sentido de trazer para o mesmo debate todos os players da saúde, inclusive a indústria, em prol da saúde do nosso cidadão. O ministro [Ricardo Barros, que também participou do fórum] lembrou agora que, se o mês não tiver doença, o sistema quebra. Todos estão envolvidos em ganhos e em sustentabilidade com base na doença. À medida que, de uma maneira única, todos se envolverem numa mudança do modelo de remuneração, poderemos falar em promoção da saúde e não da doença. Porque enquanto a sustentabilidade, a rentabilidade, o lucro financeiro se basearem na doença e na utilização do sistema, na prótese, na internação, no procedimento cirúrgico, não adianta um player mudar sozinho a sua característica, porque ele vai ser ver falido perto dos outros. Existe uma necessidade de o modelo lentamente ser mudado.

O senhor também mencionou que as empresas têm que entender o próprio papel delas na promoção da doença na população. O que as empresas também têm que mudar pelo bem da saúde dos próprios funcionários e para o próprio benefício delas?

A empresa tem que participar influenciando o seu colaborador para que ele seja um divulgador das melhores práticas de promoção da saúde. Atividade física é um exemplo; vai prevenir obesidade, síndrome metabólica. Também podem ser feitas campanhas no sentido de coibir tabagismo, de praticar uma vida mais saudável e de promover cidades mais saudáveis.

No Brasil, ainda falamos muito sobre tratamentos e pouco sobre prevenção. A obesidade é um exemplo [aumentou 60% nos últimos dez anos e é a causa uma série de doenças], mas pouco se vê em termos de políticas voltadas para a alimentação. O que falta para que esse assunto de fato entre na pauta?

A alimentação é um dos aspectos de prevenção e promoção de saúde, quando a gente fala de doenças não-comunicáveis ou crônicas [aquelas causadas por uma combinação de fatores genéticos, psicológicos, comportamentais e ambientais]. Existe a necessidade de ampliar o raciocínio sobre cidades saudáveis, onde podemos promover o envelhecimento com saúde, que é muito mais do que simplesmente controlar a hipertensão. No Brasil, tem uma disponibilidade muito grande daquilo que não é bom para a saúde, até de modo mais barato; aí a população mais carente vai atrás do biscoito com refrigerante, isso se reflete nas merendas disponíveis nas escolas… Alguns países resolveram o problema do refrigerante aumentando seu custo. Assim como o tabagismo; o cigarro no Brasil talvez esteja os mais baratos do mundo. Então, a obesidade talvez seja a ponta de um iceberg nas políticas de promoção da saúde que vem antes do atendimento médico propriamente dito.

A gente alguma noção de quanto a prevenção, se fosse mais praticada, aliviaria os custos com saúde?

Em números palpáveis não, mas existem cases que podem ser estudados. No Hospital Albert Einstein, foram criadas clínicas de atendimento ao nosso colaborador focadas em atenção primária e promoção da saúde, que é a clínica Cuidar. Lá, o trabalhador conta com um médico da família, que faz acompanhamentos com retornos programados e assim por diante. Já houve redução de 20% no número de internações, no primeiro semestre de 2017, quando comparado ao ano passado. É um indício de que estamos fazendo bem.

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