Estagiária de jornalismo
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 18h16.
Na década de 1980, o boom do mercado de ações norte-americano foi responsável pela criação de uma classe de jovens ricaços de rápida ascensão, os yuppies. O fenômeno foi tão visível e significativo que reverberou por mais de uma década pela cultura pop, com o livro e filme "Psicopata Americano", sendo um retrato satírico e extremo das dinâmicas desse grupo.
A ideia voltou a ser aplicada no início da década de 2010, quando o Vale do Silício produziu diversos novos jovens bilionários, como Mark Zuckerberg. Essa nova onda de yuppies também teve obras satíricas dedicadas a eles, como "A Rede Social", de 2010.
Ambas as ondas de jovens endinheirados e ambiciosos, no entanto, não foram tão numerosas quanto a atual. Em 2025, o número de bilionários com menos de 30 anos saltou a um nível nunca visto. Se os paralelos históricos se mantiverem, essa é a maior onda de yuppies do último século.
Impulsionados principalmente pela inteligência artificial, mercados de previsão e apostas online, 13 empreendedores na casa dos 20 anos alcançaram fortunas bilionárias em tempo recorde. É o maior número já registrado nessa faixa etária, segundo a Forbes, superando o recorde anterior de sete jovens bilionários em 2022.
A ascensão foi tão acelerada que alguns deles chegaram ao chamado “clube do bilhão” antes mesmo de completar a idade mínima para alugar um carro em vários países.
“É definitivamente louco. Parece tudo muito surreal”, afirmou Brendan Foody, cofundador da startup de IA Mercor e um dos novos ricaços, em entrevista à Forbes.
O avanço dos jovens bilionários faz parte de um movimento maior na economia global.
Em 2025, o mundo registrou a criação de 196 novos bilionários self-made, o segundo maior número já contabilizado em um único ano, de acordo com o relatório Billionaire Ambitions, da UBS.
Esse grupo adicionou US$ 386,5 bilhões à riqueza global, elevando o patrimônio total dos bilionários para US$ 15,8 trilhões, um crescimento de 13% em apenas 12 meses.
Os Estados Unidos e a China lideram a formação dessa nova elite econômica, mas o relatório destaca a diversificação setorial.
Além da tecnologia, surgiram bilionários em áreas como biotecnologia, infraestrutura, bebidas e criptoativos. Ainda assim, a tecnologia, especialmente a IA, segue como o principal motor de crescimento.
Apesar da renovação, o perfil médio do bilionário global continua envelhecido: a idade média é de 67 anos, e há mais de 500 bilionários com 80 anos ou mais. Os jovens seguem sendo exceção.
Segundo a Forbes, os 13 bilionários self-made com menos de 30 anos concentram suas fortunas principalmente em inteligência artificial, mercados de previsão e apostas online. Entre os destaques estão:
Surya Midha (22 anos) — US$ 2,2 bilhões —Software de IA
Brendan Foody (22) — US$ 2,2 bilhões — Software de IA
Adarsh Hiremath (22) — US$ 2,2 bilhões — Software de IA
Michael Truell (25) — US$ 1,3 bilhão — Software de IA
Aman Sanger (25) — US$ 1,3 bilhão — Software de IA
Sualeh Asif (25) — US$ 1,3 bilhão — Software de IA
Arvid Lunnemark (26) — US$ 1,3 bilhão — Software de IA
Fabian Hedin (26) — US$ 1,6 bilhão — Codificação de IA
Shayne Coplan (27) — US$ 1 bilhão — Polymarket (mercado de previsões)
Alexandr Wang (28) — US$ 3,2 bilhões — Scale AI (IA)
Luana Lopes Lara (29) — US$ 1,3 bilhão — Mercado de previsões
Tarek Mansour (29) — US$ 1,3 bilhão — Mercado de previsões
Ed Craven (29) — US$ 2,8 bilhões — Cassino online
Esses jovens bilionários construíram suas fortunas em setores emergentes ou acelerados pela tecnologia.
Por exemplo, os três primeiros da lista — Midha, Foody e Hiremath — cofundaram a startup de recrutamento em IA Mercor, avaliada em US$ 10 bilhões após rodada de investimentos em 2024, tornando-os os mais jovens self-made bilionários da história.
Alexandr Wang, cofundador da Scale AI, se beneficiou de um grande investimento da Meta, que comprou 49% da empresa por cerca de US$ 14 bilhões, elevando seu patrimônio para mais de US$ 3 bilhões.
Luana Lopes Lara se tornou a mulher bilionária self-made mais jovem do mundo após a Kalshi, plataforma de mercados de previsão, alcançar valuation de US$ 11 bilhões.
Ao todo, há 30 bilionários na faixa dos 20 anos, considerando também os herdeiros.
Destes, 17 receberam fortunas familiares, como o alemão Johannes von Baumbach, de 20 anos, herdeiro do setor farmacêutico.
A inteligência artificial é o grande elo entre a maioria desses novos bilionários.
Segundo a Forbes, setores que praticamente não existiam há uma década agora criam fortunas bilionárias em velocidade inédita. Startups de IA focadas em recrutamento, programação e infraestrutura digital alcançaram avaliações de dezenas de bilhões de dólares em poucos anos. Algumas, em poucos meses.
O relatório da UBS reforça esse cenário ao apontar que a riqueza de bilionários do setor de tecnologia cresceu 23,8% em 2025, enquanto áreas industriais e financeiras também avançaram com força.
Para Benjamin Cavalli, chefe de clientes estratégicos da UBS Global Wealth Management, uma nova geração está redesenhando o mapa da riqueza global, com foco em inovação e independência financeira.
O relatório destaca que 82% dos bilionários esperam que seus filhos busquem independência financeira, e não apenas a continuidade dos negócios familiares. Apesar dessa aparente expectativa, as heranças somaram US$ 297,8 bilhões transferidos em 2025.