Jornais latinos mantêm crescimento apesar da crise
Jornais da região tiveram aumento no número de leitores e no faturamento publicitário entre 2005 e 2009, diferente do que ocorre nos EUA e na Europa
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 20h31.
Bogotá - Os jornais latino-americanos continuaram ganhando leitores e aumentando sua renda com publicidade entre 2005 e 2009, apesar da crise financeira, segundo um informe da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA), apresentado em Bogotá.
"Esqueçam os profetas que dizem que todos os jornais vão morrer", disse o presidente da WAN-IFRA, Christoph Riess, no primeiro encontro latino-americano desta associação, que se realiza na quarta e quinta-feira.
Na América Latina, o número de leitores de jornal aumentou 5,1% entre 2005 e 2009, passando de 13 para 14,1 milhões de pessoas, diferente do ocorrido na Europa no mesmo período, quando a cifra caiu 7,9%, segundo Riess.
A renda publicitária dos jornais latino-americanos também aumentou 65% neste período; enquanto na América do Norte teve queda de 33,1% e na Europa, de 13%.
No entanto, o tempo dedicado à leitura de jornais diminuiu drasticamente na América Latina, passando de uma média diária de 97 minutos em 2005 para 35 minutos em 2009, e migrou para a internet (146 minutos em 2005 contra 175 em 2009), a rádio e a televisão.
Riess destacou, no entanto, que a "importância dos jornais continua muito grande" na região.
Na Colômbia, os jornais chegam a 43% da população, no Chile a 36,8% e no Brasil a 27%, segundo a WAN-IFRA.
Mas a associação advertiu que globalmente os jornais não poderão compensar com a internet as perdas de ingressos publicitários de suas edições impressas, nem a queda das vendas, razão pela qual recomenda concentrar-se no desenvolvimento de conteúdos como "fórmula para sobreviver" e atrair mais leitores.
Esta tem sido a estratégia do grupo de mídia brasileiro RBS, cujos benefícios alcançaram 122 milhões de dólares em 2010, explicou Cristiano Nygaard, diretor de operações.
O jornal Zero Hora, um de seus oito jornais, conta com 19 seções, suplementos temáticos diários e oferece conteúdos projetados especialmente para atrair os jovens (53% de seus leitores têm menos de 40 anos). Seu segredo é "muito, muito localismo", com edições adaptadas a cada segmento.
Esta fórmula se repete na Colômbia através da aliança de jornais Grupo Nacional de Mídia (GNM), que fundou o jornal popular Q'Hubo, cuja circulação diária, somando as edições regionais, alcança 1,9 milhões de exemplares.
A casa editorial El Tiempo, jornal que completa 100 anos, se centrou na integração dos conteúdos com a marca El Tiempo, presente nas bancas de jornal e também em duas emissoras de televisão, 15 portais, sites móveis e redes sociais, apostando na "credibilidade da informação".
Na Argentina, o grupo Clarín também se centrou em conteúdo, criando produtos nicho, como uma revista dedicada a pequenas e médias empresas, ou Genios, para os jovens.
Globalmente, "a América do Sul mantém o impulso e isto se deve à sua mobilidade social", disse à AFP Francisco Amaral, sócio da Cases i Associats, empresa espanhola dedicada à renovação de jornais.
"Isto se reflete no 'boom' da imprensa popular e na necessidade de atualizar produtos", acrescentou, indicando que as classes populares consomem mais, pois querem ascender socialmente.
"A América Latina é um continente de oportunidades: por sua situação econômica, porque a publicidade ainda pode se desenvolver, porque a circulação dos jornais é estável, os preços equilibrados e os grupos de mídia, fortes", concluiu Riess.