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Insipirado pelo pai artista, ele quer fazer com que o dinheiro fique com os artesãos na Amazônia

Nos primeiros dois anos de operação, a startup de Régis já quer ter circulando em sua plataforma 1% do mercado de artesanato do Brasil, ou seja, 500 milhões de reais

Régis Moraes, da Origens: "Nossa ideia é valorizar a página do artista, fazer com que os consumidores conheçam o artista" (Daniel Giussani/Exame)

Régis Moraes, da Origens: "Nossa ideia é valorizar a página do artista, fazer com que os consumidores conheçam o artista" (Daniel Giussani/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 15h39.

Última atualização em 15 de agosto de 2024 às 15h40.

FLORIANÓPOLIS  (SC)* - O artesanato sempre esteve na vida do amapaense Régis Moraes. Seu pai, de mesmo nome, era uma referência no artesanato amazônico no início dos anos 2000, uma época, porém, que nem a região nem a arte regional eram tão valorizadas como são hoje.

Sem muitas oportunidades, o pai de Régis migrou para o Paraná e teve que se virar pintando paredes e placas. Antes de morrer, falou que gostava de morar no sul do país, mas diferente do Amapá, onde era um artista com certo nome, no sul, "não era ninguém".

Essas palavras ficaram na cabeça do Régis filho. Desde então, ele pensa sobre como pode valorizar mais o nome e a renda dos artesãos que ficaram na Amazônia.

O cenário hoje é bem diferente de 20 anos atrás. A região amazônica está em alta e às vistas de sedir o evento mais importante de meio ambiente do mundo, a COP 30, no ano que vem. O artesanato local também ganhou força, assim como de outras partes do Brasil, e hoje movimenta 50 bilhões de reais anuais no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Cultura.

A batalha de Régis, porém, é fazer com que a maior parte deste dinheiro fique com o artesão, e não com atravessadores.

"Decidi que iria hornar o nome de meu pai e fazer com que os artesãos da Amazônia fossem reconhecidos de fato, financeiramente também", diz. "Hoje, um atravessador vai até a Amazônica, compra um colar por 30 reais e revende em São Paulo por 300 reais. Ou na Europa por 1.500 reais. O artesão precisa receber melhor".

Foi assim que nasceu a Origens, uma startup que funciona como um e-commerce para artesãos da região Amazônica. Lançando em MVP neste ano, a plataforma deve estar rodando por completo em novembro. Além de colocar itens à venda, a ideia é que cada artista tenha uma página com vídeos, histórias e textos que ajudem a apresentar o artista aos consumidores.

"Pessoal fala que somos a Amazon dos artesãos, mas na verdade, somos como o Spotify", diz. "Porque nossa ideia é valorizar a página do artista, fazer com que os consumidores conheçam o artista".

Nos primeiros dois anos de operação, a startup de Régis já quer ter circulando em sua plataforma 1% do mercado de artesanato do Brasil, ou seja, 500 milhões de reais. A plataforma deverá ficar com 20% desse valor. Já os artesãos ficarão com 80%.

O grande desafio para a plataforma decolar, porém, é a logística. Para chegar no Amapá, por exemplo, há poucas estradas, e as mercadorias precisam escoar, majoritariamente, por barcos ou aviões, o que encarece a operação. Isso não deve ser limitante, porém, no momento em que a plataforma ganhar escala e os custos puderem ser melhor distribuídos.

Já para acessar os artistas, o startupeiro conta com apoio de salas de artesãos espalhadas pelos Estados e com o Sebrae local, que tem um programa para artesanato.

Cenário de startups de impacto

A Origens é uma das startups de impacto selecionadas pelo Sebrae para participarem do Startup Summit, festival de inovação que acontece nesta semana em Florianópolis.

Startups de impacto são aquelas que buscam solucionar desafios sociais e ambientais.

Uma pesquisa inédita do Sebrae apontou que, das 408 startups de impacto no país, mais da metade foca seus esforços em resolver questões do meio ambiente, como a redução de gases de efeito estufa e a gestão de resíduos. Essas startups costumam ser chamadas de greentechs. Já em relação às preocupações sociais, os objetivos são o suporte ao empreendedorismo e a inclusão de públicos excluídos e sub-representados na sociedade.

Em ordem de relevância, estão as principais problemáticas socioambientais que as startups se propõem a solucionar, de acordo com a pesquisa:

  • 18,70% Reciclagem e gestão de resíduos
  • 18,33% Redução de emissão de gases efeito estufa
  • 17,59% Uso sustentável de recursos naturais
  • 12,78% Logística reversa
  • 11,48% Produção agrícola sustentável

Cerca de 60% das startups de impacto mapeadas estão concentradas nas regiões Sudeste (41,42%) e Nordeste (21,08%). Já as regiões Sul e Norte apresentaram uma participação semelhante no número de startups de impacto, contribuindo com 15% cada܂. Por fim, a região Centro-Oeste, conta com 6% das startups de impacto nacionais.

Cerca de 40% das startups de impacto encontram-se nos estágios de ideação e validação do produto, quase metade delas ainda não faturam. Dentre as que já possuem receita, boa parte fatura até 360.000 reais.

Das startups de impacto mapeadas no estudo, apenas 12,5% faturam até 4,8 milhões de reais anuais e apenas 1,7% apresentam faturamento superior a esse valor.

*O repórter viajou a convite do Startup Summit

Acompanhe tudo sobre:StartupsAmazônia

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