André Salles, da Solar Coca-Cola: “Queremos oferecer bebidas para cada ocasião do dia. No café da manhã, pode ser um suco. Durante o dia, água ou isotônico para hidratação. No almoço, refrigerantes. E à noite, algo para relaxar, como os drinks alcoólicos" (Jooao / Solar Coca-Cola)
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de novembro de 2024 às 11h49.
FORTALEZA (CE) - Todos os dias, o equivalente a 36 milhões de garrafinhas de Coca-Cola saem das 13 fábricas da Solar, a segunda maior engarrafadora da marca no Brasil. Essas bebidas abastecem cerca de 400.000 pontos de venda, de pequenas mercearias a grandes restaurantes, espalhados pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste. É um sistema logístico que atravessa rodovias e rios, enfrentando desafios sazonais como a navegabilidade da Amazônia em tempos de seca.
“A gente tem que saber exatamente quando um rio está cheio para poder navegar. Esse tipo de conhecimento é essencial para nossa operação,” explica André Salles, CEO da Solar Coca-Cola. Em uma entrevista exclusiva para a EXAME, Salles revelou os planos ousados da empresa: um investimento recorde de 1,5 bilhão de reais em 2024. Esse será o maior aporte anual da história da empresa, que tradicionalmente investia cerca de 600 milhões de reais por ano.
Nos próximos cinco anos, a Solar planeja investir mais de 5 bilhões de reais para fortalecer suas operações.
“Vamos aplicar em novas fábricas, linhas de produção e tecnologia avançada. É um movimento que acompanha o crescimento robusto da empresa,” diz Salles.
Em 2023, o faturamento deve atingir 15 bilhões de reais, contra os 13 bilhões de reais de 2022. Desde que Salles assumiu o comando, em 2019, a Solar praticamente dobrou seus resultados, com EBITDA saltando de 600 milhões de reais para 1,9 bilhão de reais no último ano.
A história da Solar reflete um processo de consolidação que transformou a empresa em um gigante do sistema Coca-Cola. Suas raízes remontam à década de 1970, quando grupos como a Refrescos Cearenses e a Renosa começaram a engarrafar a marca no Norte e Nordeste. Em 2013, após a fusão com a Refrescos Guararapes, surgiu oficialmente a Solar Coca-Cola.
Hoje, a empresa tem um alcance impressionante: 13 fábricas, 120 centros de distribuição (entre próprios e parceiros) e 19.000 funcionários. Seu território de atuação cobre 70% do Brasil, alcançando uma população de 80 milhões de pessoas em mais de 2.500 municípios.
“Não tem outra empresa de bens de consumo com nossa capilaridade", diz. "Se tem Coca-Cola sendo vendida no Norte, Nordeste ou em alguma região do agronegócio, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, fomos nós que levamos até lá".
Entre as iniciativas mais emblemáticas da Solar está o programa Printing House, com gráficas em Fortaleza, Recife, Salvador, Manaus e Belém. Por meio dele, a empresa transforma pequenos comércios locais com materiais personalizados de decoração e mobiliário, aumentando a visibilidade da marca e o faturamento dos parceiros. “É algo transformacional. Já vimos negócios dobrarem ou triplicarem de tamanho,” diz Salles.
Salles é formado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e possui especialização em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Antes de trabalhar na Solar, trabalhou na cervejaria Kaiser e chegou a ser CEO da Vompar, fabricante de Coca-Cola no Rio Grande do Sul, hoje adquirida pela FEMSA.
Para praticamente triplicar o EBIDTA, a Solar Coca-Cola tem investido em múltiplas frentes para garantir seu crescimento, mesmo em um setor que poderia ser considerado maduro.
“Ainda há muito espaço para crescer,” afirma André Salles, CEO da empresa. “Hoje, o consumo per capita de refrigerantes na região onde atuamos é inferior à média nacional, o que reflete um potencial relacionado à renda e às oportunidades de consumo.”
Para atender essa demanda, a Solar tem ampliado sua atuação em categorias novas e tradicionais. Refrigerantes de baixa caloria, como Coca-Cola Zero e bebidas isotônicas, têm mostrado crescimento expressivo.
“Estamos crescendo 70% em produtos zero açúcar e mais de 20% em isotônicos e energéticos,” diz Salles. Além disso, a empresa tem buscado tornar mais premium seu portfólio, com produtos como a bebida Schweppes e embalagens individuais, como latas e garrafas de 600 ml.
Salles explica que a estratégia da Solar é clara: acompanhar o consumidor em todos os momentos do dia.
“Queremos oferecer bebidas para cada ocasião do dia. No café da manhã, pode ser um suco. Durante o dia, água ou isotônico para hidratação. No almoço, refrigerantes. E à noite, algo para relaxar, como os drinks alcoólicos que distribuímos,” detalha o CEO.
Embora a Solar não produza bebidas alcoólicas, a empresa tem se consolidado como distribuidora de marcas como Heineken, Estrella Galicia, Campari e Aperol, além de produtos prontos para beber, como os drinks da linha Schweppes. “A distribuição desses produtos amplia nossa presença e fortalece nosso portfólio, atendendo a um consumidor que busca conveniência e qualidade em um só lugar,” afirma Salles.
Outro pilar do crescimento da Solar é a inovação tecnológica. A empresa produz 90% de tudo o que comercializa e está investindo em linhas mais modernas. “Estamos substituindo equipamentos antigos por outros com o dobro da capacidade. É algo que não só melhora a produtividade, mas também a eficiência,” diz Salles. Tecnologias como sensores conectados à internet das coisas permitem monitorar as fábricas em tempo real, garantindo a manutenção preditiva e a redução de custos.
O crescimento também é impulsionado por fatores macroeconômicos favoráveis.
“Estamos em um momento em que o aumento da renda disponível, especialmente nas classes D e E, impulsionado por programas como o Bolsa Família, o reajuste do salário mínimo e a redução do desemprego, reflete diretamente no consumo de bens não duráveis,” afirma Salles.
Ele explica que, quando há incremento na renda, os consumidores dessas faixas tendem a gastar em produtos do dia a dia, como alimentos e bebidas, o que beneficia diretamente empresas como a Solar. “Estamos surfando essa onda e aproveitando bem as oportunidades".
A digitalização também é uma prioridade. Hoje, cerca de 240.000 clientes da Solar utilizam o aplicativo da empresa para fazer pedidos e gerenciar estoques. “A gente não pode deixar faltar produto para o consumidor final. Com o uso de machine learning, conseguimos prever as necessidades dos nossos clientes e evitar rupturas nos pontos de venda,” explica o CEO.
Além disso, o programa Printing House tem transformado pequenos negócios no sertão e nas periferias. A iniciativa, que oferece material gráfico e mobiliário personalizado, já beneficiou mais de 40.000 pontos de venda.
“A gente acompanha o faturamento desses negócios antes e depois da parceria, e é impressionante: muitos crescem em dois ou três dígitos,” diz Salles. “É transformacional, porque estamos ajudando a mudar a vida de pequenos empreendedores, especialmente em regiões carentes.”
A Solar também aposta no crescimento inorgânico. Desde 2013, a empresa foi formada por sucessivas fusões e, em 2022, concluiu a integração do Grupo Simões, ampliando sua atuação na Amazônia.
“Esse movimento faz parte de um processo global do sistema Coca-Cola, que busca consolidar operações para ganhar escala e eficiência,” diz o CEO. Segundo ele, aquisições futuras estão no radar, assim como uma possível abertura de capital.
O investimento de R$ 1,5 bilhão anunciado para 2025 será aplicado principalmente na modernização e expansão das operações da Solar.
“Vamos substituir linhas antigas por outras mais modernas, com o dobro da capacidade produtiva. Também ampliaremos nossos centros de armazenagem e transporte, porque já estamos no limite da capacidade atual,” detalha Salles.
Além disso, a Solar deve abrir novas fábricas e investir em tecnologia de ponta, como sensores industriais e manutenção preditiva com internet das coisas. “Queremos estar preparados para crescer com eficiência. E isso inclui avanços no nosso app, que hoje já atende quase 240.000 clientes,” afirma.
Nos próximos anos, a Solar também não descarta aquisições. “Historicamente, somos consolidadores no sistema Coca-Cola. E sempre estamos de olho em boas oportunidades,” diz o CEO.
Outra possibilidade no radar da empresa é a abertura de capital, suspensa em 2021 devido à instabilidade do mercado. “Estamos prontos para o IPO, mas queremos esperar o momento certo,” diz Salles.
Com esse ciclo de investimentos, a Solar Coca-Cola busca se consolidar não apenas como um player de destaque no Brasil, mas como uma referência global no sistema Coca-Cola.