Negócios

De bilionário a foragido: a trajetória de Eike até aqui

O empresário, que chegou a ser o homem mais rico do Brasil e queria ganhar o mundo, é acusado de pagar propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral

Eike Batista: sonhos do empresário agora são bem mais modestos do que há cinco anos

Eike Batista: sonhos do empresário agora são bem mais modestos do que há cinco anos

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 19h56.

Última atualização em 31 de janeiro de 2017 às 15h28.

São Paulo - Eike Batista chegou a ser o homem mais rico do Brasil e confiava que atingiria o topo da lista dos maiores bilionários do mundo, na qual ocupou a sétima posição.

Ambicioso, batizou suas empresas com a letra "x" para representar sua capacidade de multiplicação da riqueza.

Mas o desfecho de sua trajetória se mostrou bem diferente do que o empresário sonhava. Nos últimos cinco anos, ele viu seu império ruir e, nesta quinta-feira, o ápice do enredo, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.

De empreendedor inspirador, Eike passou a ser símbolo de gestão fracassada e, agora, é assombrado pelo possível rótulo de corrupto.

Ele é investigado na Operação Eficiência, no âmbito da Lava Jato, por suspeita de pagar 16,5 milhões de dólares ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral por meio de uma conta no Panamá.

O político, detido desde novembro, é acusado de comandar uma organização criminosa que já lavou mais de 100 milhões dólares no exterior, segundo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal.

O dinheiro teria sido desviado de obras públicas feitas no estado durante a gestão de Cabral.

Os investigadores ainda não sabem dizer qual a contrapartida recebida pelo empresário pela suposta propina, mas defendem que sua prisão se justifica pelo fato de ele usar falsos negócios para forjar a legalidade de dinheiro lavado e, assim, "escamotear a verdade" dos órgãos públicos.

Para maquiar o montante pago a Cabral, ele teria criado um contrato de fachada para a intermediação de compra e venda de uma mina de ouro que nunca aconteceu.

Eike ainda não foi preso e é considerado foragido. A polícia não o encontrou durante batida em sua casa nesta manhã, no Rio. Segundo seus advogados, ele está em uma agenda de negócios em Nova York e deve se entregar, mas ainda não há data para que isso aconteça.

A PF tem registros de que ele deixou o país na noite do último dia 24 com destino à cidade norte-americana, mas ainda não conseguiu confirmar sua chegada ao local. O órgão acredita que ele possa ter viajado com o passaporte alemão. A Interpol já foi acionada.

A prisão estava decretada desde o último dia 13, mas a polícia ainda não trabalha com a possibilidade de que a operação tenha vazado e diz que ele não foi impedido de embarcar justamente para não comprometer a investigação.

Abaixo, relembre pontos importantes da novela de Eike Batista:

Como ele foi parar na Lava Jato?

O nome de Eike surgiu na Lava Jato em setembro de 2015.

Foi quando o delator Fernando Musa, ex-gerente da área de Internacional da Petrobras e ex-diretor da OSX, disse que a empresa naval do empresário havia participado de um esquema de propina para construir navios-plataforma para a estatal.

Um ano depois, ele entrou para o extenso rol de investigados na operação. A força-tarefa do Ministério Público Federal até batizou uma fase da apuração de "Arquivo X", em referência a seu grupo de empresas.

Na mesma época, Batista disse ter repassado 2,3 milhões de dólares ao PT por meio do ex-ministro da fazenda Guido Mantega, que chegou a ser detido enquanto acompanhava a esposa em uma cirurgia, em São Paulo. No mesmo dia, a prisão foi revogada pelo juiz Sérgio Moro.

Banido do mercado

Em novembro de 2015, Eike recebeu a proibição de ocupar os cargos de administrador ou de conselheiro fiscal em empresas de capital aberto por cinco anos.

Ele foi condenado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por ter votado em uma assembleia de acionistas da OGpar, antiga OGX, quando não poderia.

Na ocasião, foi aprovado o balanço da empresa em 2013, mesmo ano em que ela pediu recuperação judicial e teve prejuízo de 17,5 bilhões.

Batista era, simultaneamente, presidente do conselho de administração e sócio controlador da empresa e, em tese, não poderia votar para aprovar as contas de um período em que esteve na gestão. Para a CVM, ele agiu em causa própria.

O empresário ainda responde na Justiça por uso de informações privilegiadas e manipulação de mercado. O caso é referente à OSX, a empresa de construção naval.

Em 2013, ele teria obtido vantagens com a venda de ações da companhia dias antes de ela anunciar um plano para cortar custos e paralisar obras que corroeu o valor dos papéis.

Outra ação parecida referente à OGpar, movida por acionistas minoritários, foi extinta em dezembro do ano passado.

A derrocada

A OGX, hoje OGpar, era a principal empresa de Eike e não por acaso é a peça-chave de sua derrocada.

Depois que ela anunciou um grande corte na projeção de produção de seu principal campo de petróleo, Tubarão Azul, em junho de 2012, as ações começaram a cair.

Uma forte crise de confiança em todo o grupo EBX se instalou, já que as companhias da holding prestavam serviços (e eram dependentes) entre si.

Em apenas três dias após o anúncio, Eike despencou de sétimo homem mais rico do mundo para o 46º no ranking da Forbes. Em novembro, na lista elaborada pela Bloomberg, perdeu o posto de homem mais rico do Brasil para Jorge Paulo Lemann (que sustenta o pódio até hoje). Àquela época, sua fortuna era estimada em 18,6 bilhões de dólares.

Em julho do ano seguinte, a OGX comunicou que ia parar de construir plataformas e que não iria mais investir no campo de Tubarão Azul. Foi a gota d'água.

As agências de risco rebaixaram a nota da petroleira para o patamar de firmas próximas de dar calote e a CVM começou a investigá-la por falhas nos comunicados enviados ao mercado - que incluíam uma produção de petróleo que ficou só na promessa.

No fim daquele mês, Eike Batista já não era mais bilionário, segundo a Bloomberg, que calculava sua fortuna em 200 milhões de reais.

Em outubro, a OGX declarou um esperado calote de 45 milhões de dólares em juros de títulos emitidos no exterior. Nas semanas seguintes, pediu recuperação judicial, com débitos de 4 bilhões de reais.

Dias depois, foi a vez da OSX pedir socorro à Justiça. Ambas ainda seguem com os processos de reestruturação.

Mais modesto

Para pagar as dívidas, Eike vendeu quase todo o seu império (também se desfez de mimos e teve bens confiscados pela Justiça). Hoje, ele ainda tem fatias reduzidas na OGpar (antiga OGX), na OSX, na MMX (de mineração) e na CCX (de carvão, na Colômbia).

Boa parte do capital dessas empresas foi repassado a credores como o Mubadala, fundo soberano de Abu Dahbi sócio do empresário na holding EBX.

A LLX, de logística, agora pertence à norte-americana EIG e foi rebatizada de Prumo. A MPX, de energia, teve uma parcela significativa comprada pela E.On e passou a chamar Eneva – ela pediu recuperação judicial no fim de 2014, mas o processo já foi concluído.

A mineradora MMX e suas subsidiárias MMX Sudeste e MMX Corumbá também pediram intervenção judicial para negociar as dívidas e continuar operando em novembro do ano passado.

Hoje, os sonhos de Eike Batista são bem mais modestos. Entre seus projetos estão uma pasta que promete regenerar o esmalte dos dentes e um corredor logístico entre Argentina e Chile, nos Andes.

O mais desenvolvido deles seria o do creme dental, que já teria até nome: Elysium – sem nenhum "X".

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEBXEike BatistaOGpar (ex-OGX)Operação Lava JatoPrisões

Mais de Negócios

Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro: o que aconteceu com as grandes lojas que bombaram nos anos 80

O negócio que ele abriu no início da pandemia com R$ 500 fatura R$ 20 milhões em 2024

10 mensagens de Natal para clientes; veja frases

Ele trabalhava 90 horas semanais para economizar e abrir um negócio – hoje tem fortuna de US$ 9,5 bi