Na Philips, crescimento sem rentabilidade não vale nada
Ao se concentrar nas áreas de saúde e bem-estar, o presidente mundial da Philips fez uma opção pela rentabilidade no lugar do crescimento — uma estratégia que será colocada à prova agora por seu sucessor
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2011 às 11h07.
Nos dez anos em que esteve à frente da Philips, o holandês Gerard Kleisterlee transformou a empresa: fechou unidades de negócios, deu mais peso aos países emergentes e concentrou esforços em áreas em que a companhia não tinha tradição, como bem-estar. Nesse período, a Philips saiu de um prejuízo de 2,5 bilhões de euros para um lucro de 200 milhões de euros em 2009. Agora, a três meses de se aposentar (seu sucessor será o holandês Frans van Houten), Kleisterlee faz um balanço de sua gestão e comenta os desafios futuros.
1) EXAME - O senhor reforçou a presença da Philips em setores como o de equipamentos de saúde e saiu de outros tradicionais, como o de semicondutores. Por quê?
Gerard Kleisterlee - Queríamos ser uma empresa de crescimento sustentável e de boa rentabilidade, e não apenas de crescimento acelerado. Essa combinação só era possível se atuássemos fortemente em novas áreas, como a de saúde e bem-estar, que rendem margens maiores.
2) EXAME - Qual foi o papel do Brasil nessa transformação?
Gerard Kleisterlee - O Brasil é um dos nossos dez maiores mercados e, entre os emergentes, só fica atrás da China. Nos últimos anos, compramos algumas empresas locais e acabamos de adquirir uma companhia de software para saúde. Com uma população de quase 200 milhões de pessoas, ainda há muito para acontecer nessa área no país.
3) EXAME - E nas demais áreas de atuação da Philips? O Brasil também é estratégico?
Gerard Kleisterlee - Nosso negócio de consumo é particularmente promissor graças à nova classe média. Além disso, aqui há questões energéticas sérias a serem resolvidas, sobretudo com relação aos altos gastos com iluminação.
4) EXAME - A subsidiária brasileira desenvolve produtos específicos para essas necessidades?
Gerard Kleisterlee - Boa parte dos produtos da nossa linha Walita, por exemplo, foram desenvolvidos para atender as particularidades do mercado brasileiro.
5) EXAME - Como a empresa define o que será lançado por aqui?
Gerard Kleisterlee - No passado costumávamos trazer para o Brasil produtos de última geração, mas não encontrávamos mercado para eles. Estamos mais disciplinados agora. Partimos de um “insight” do consumidor para só então desenvolver um novo produto.
6) EXAME - O senhor disse no passado que a Philips precisava ser uma empresa menos holandesa, menos masculina e menos “velha”. Essa mudança aconteceu?
Gerard Kleisterlee - Em boa parte, sim. No Brasil, a idade média da equipe caiu sete anos. Em termos de nacionalidade, temos um norte-americano tocando o negócio de saúde e um belga na área de bem estar. Também temos mais mulheres – ainda não o suficiente, mas mais do que costumávamos ter.
7) EXAME - O senhor está deixando a Philips após quase uma década. Qual será o desafio de seu sucessor?
Gerard Kleisterlee - Acabamos de sair de uma recessão global. A recuperação da economia na Europa e nos Estados Unidos traz enormes oportunidades de expansão. É preciso aproveitá-las.