Negócios

Contra crise, Gerdau venderá mais ativos

Venda de ativos é considerada essencial para que a Gerdau enfrente crise de excesso de oferta de aço


	Gerdau: empresa deve vender ativos na Índia, na América Central e em parte da América do Sul
 (Divulgação)

Gerdau: empresa deve vender ativos na Índia, na América Central e em parte da América do Sul (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2016 às 09h21.

São Paulo - Na tentativa de ganhar fôlego para atravessar a crise do aço e de reduzir a sua pesada dívida de R$ 23,7 bilhões (valor bruto em março), a siderúrgica gaúcha Gerdau vai intensificar a venda de ativos considerados não estratégicos, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.

O movimento é considerado essencial para que o grupo controlado pela família Gerdau Johannpeter consiga enfrentar um cenário de excesso de oferta do produto no mercado mundial, agravado pela recessão no Brasil.

Fontes afirmaram ao jornal que a Gerdau está escolhendo "seletivamente" seu portfólio e deverá se desfazer de suas operações na Índia, na América Central e em parte da América do Sul, consideradas de baixo retorno, para concentrar seus esforços no Brasil e nos Estados Unidos.

A divisão América do Norte, aliás, tem ganhado mais espaço nas vendas totais da gigante siderúrgica, a 17.ª maior do mundo. Em 2010, a região respondia por 33% das vendas, enquanto o Brasil totalizava 38%.

Ao fim do ano passado, a situação se inverteu: representou 39% da receita líquida (de R$ 43,6 bilhões), enquanto o País encolheu para 29% do faturamento total.

Abatidas pelo aumento da capacidade global, sobretudo da China, aliada à queda dos preços internacionais do minério de ferro, gigantes globais estão se reorganizando, como as siderúrgicas chinesas Baosteel e Wuhan Iron and Steel, que devem se unir. Grandes mineradoras também estão em amplo processo de desinvestimentos.

No Brasil, a situação é ainda mais delicada pela crise econômica, que paralisou a construção civil e a indústria automobilística. Tradicionais grupos, como Usiminas, em plena guerra societária, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, ambos com dívidas pesadas, também anunciaram venda de ativos, mas não evoluíram.

Imagem abalada

A Gerdau conseguiu sair na frente de seus rivais brasileiros nesse processo - em junho, concluiu a venda de suas operações na Espanha, por 155 milhões de euros (mais 45 milhões de euros adicionais previstos para os próximos cinco anos), para o grupo de investidores locais Clerbil.

O mercado recebeu bem a operação, mas ainda não digeriu as crises internas do grupo familiar gaúcho. Em fevereiro, a siderúrgica, com operações agora em 13 países, teve sua reputação comprometida ao ser alvo de inquérito público aberto pela Polícia Federal na Operação Zelotes, que investiga sonegação fiscal. O presidente do grupo, André Gerdau, foi indiciado por corrupção ativa.

Há um ano, as relações com acionistas minoritários também azedaram. Eles acusam os controladores (a holding Metalúrgica Gerdau) de dificultar a participação deles em assembleias, segundo fontes.

Em julho de 2015, a siderúrgica anunciou aquisição de participações minoritárias em quatro empresas controladas do grupo, por R$ 1,98 bilhão, o que desagradou parte dos acionistas.

Os dois eventos - operação Zelotes e conflitos com minoritários - põem em dúvida as práticas de boa governança da Gerdau, mas não comprometeram o desempenho da companhia, diz Bruno Piagentini, da Coinvalores.

"Não sabemos os desdobramentos do inquérito (da Zelotes). É uma complicação adicional, mas não um grande problema para a empresa."

Na avaliação do analista, o maior desafio para as grandes siderúrgicas - Gerdau, CSN e Usiminas - é a demanda fraca no mercado brasileiro em função da crise que o País atravessa.

"No entanto, o fato de a Gerdau ser a mais internacionalizada e ter começado a vender ativos não estratégicos, traz um alívio para o caixa da companhia."

Não estratégicos

Um executivo de um grande banco estrangeiro, a par do processo de venda de ativos do grupo, diz que o momento não é bom para vender negócios.

"Há uma dificuldade, de maneira geral, de se encontrar comprador para ativos siderúrgicos neste momento. Um potencial comprador para os negócios da Gerdau na Índia não será o mesmo para os ativos da América Central e países sul-americanos, por exemplo."

Segundo outra fonte de banco, os potenciais compradores desses ativos serão grupos com atuação local. No caso da Índia, por exemplo, as unidades de negócio interessariam às companhias de lá.

Na América do Sul, os ativos da Colômbia e Peru são considerados mais atraentes, segundo outro banco estrangeiro.

"Embora não concordemos com a relação da Gerdau com seus acionistas minoritários, apoiamos a venda de ativos não estratégicos. Não entendemos ainda porque o grupo ainda não saiu da Índia", afirma um acionista minoritário relevante do grupo.

Ele também citou que a empresa teve oportunidade de atrair investidores para seus ativos de mineração na região do Quadrilátero de Minas Gerais em 2010, mas perdeu o ‘timing’.

Outro lado

Procurada, a Gerdau informou que manterá o mercado informado sobre decisões de venda e que avalia oportunidades de otimização de seus ativos com a visão de gerar maior retorno aos negócios.

Em relação à Operação Zelotes, reforçou que nem a companhia nem seus executivos "jamais prometeram, ofereceram ou deram vantagem indevida a funcionários públicos para que recursos em trâmite no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) fossem ilegalmente julgados em seu favor, até mesmo porque estes ainda se encontram em andamento".

Em relação aos acionistas, insiste que "conta com uma longa tradição de transparência".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:acoEmpresasEmpresas brasileirasGerdauIndústriaSiderurgiaSiderurgia e metalurgiaSiderúrgicas

Mais de Negócios

Esta marca brasileira faturou R$ 40 milhões com produtos para fumantes

Esse bilionário limpava carpetes e ganhava 3 dólares por dia – hoje sua empresa vale US$ 2,7bi

Os 90 bilionários que formaram a 1ª lista da Forbes — três eram brasileiros

Eles estudaram juntos e começaram o negócio com R$ 700. Agora faturam R$ 12 milhões