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Como Zuckerberg, do Facebook, perdeu R$60 bi em uma noite

Companhia anunciou resultados abaixo do esperado e perdeu 19% do valor de mercado na abertura do pregão desta quinta-feira. É o maior tombo da história

Facebook: rede social que, parecia à prova de balas, recebeu um tiro de canhão nesta quinta-feira (Chip Somodevilla/Getty Images)

Facebook: rede social que, parecia à prova de balas, recebeu um tiro de canhão nesta quinta-feira (Chip Somodevilla/Getty Images)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 26 de julho de 2018 às 12h35.

Última atualização em 26 de julho de 2018 às 15h41.

A rede social Facebookque parecia à prova de balas, recebeu um tiro de canhão nesta quinta-feira. A empresa que, resultado após resultado, parecia ter finanças de ferro frente aos escândalos que enfrentou este ano, viu suas ações caírem 19% na madrugada desta quinta-feira, depois de ter publicado resultados abaixo das expectativas de mercado, após o fechamento do pregão na quarta-feira.

O balanço abaixo do esperado fez o Facebook perder, em poucas horas, 115 bilhões de dólares (ou 440 bilhões de reais). É a maior perda de valor em um dia da história da bolsa americana. Poderia ser pior: na primeira hora após a divulgação do resultado, no chamado “after market” da bolsa americana, as ações chegaram a cair 24%. Mas até a abertura do pregão desta quinta-feira a queda estancou em 19%. Na bolsa americana, ao contrário do que acontece na brasileira, as negociações não param durante a madrugada.

A queda do Facebook é mais do que o valor de mercado das maiores empresas brasileiras. A fabricante de bebidas Ambev vale 297 bilhões de reais; o Itaú Unibanco, 283 bilhões; a Petrobras, 276 bilhões. A queda equivale à soma de valor de mercado de 14 das maiores empresas do país: Suzano, Cielo, Braskem, Fibria, Weg, Carrefour, Lojas Americanas, JBS, Gerdau, Magazine Luiza, Raia Drogasil, Eletrobras, Lojas Renner, Grupo Pão de Açúcar.

Ainda assim, a companhia tem desempenho positivo no ano: as ações acumulam alta de 12% desde janeiro e de 25% em 12 meses. Em cinco anos, o valor de mercado da companhia quintuplicou. O fundador da companhia, Mark Zuckerberg, perdeu nesta noite de terror, 15,6 bilhões de dólares (quase 60 bilhões de reais). Apenas dois brasileiros têm fortuna maior do que isso: Jorge Paulo Lemann, da cervejaria AB InBev (27 bilhões de dólares) e o banqueiro Joseph Safra (23 bilhões de dólares). Ainda assim, Zuckerberg não está exatamente pobre — sua fortuna equivale a 67 bilhões de dólares, segundo a revista americana Forbes.

Os motivos da queda

O curioso é que o Facebook não apresentou resultados piores que dos trimestres anteriores — apenas não cresceu como o mercado previa. A rede reportou um faturamento de 13,2 bilhões de dólares, uma alta de 42% em relação ao ano passado. Os lucros cresceram 31% e o número de usuários ativos diários cresceu 11%, uma queda de dois pontos percentuais em relação ao crescimento de 13% do mesmo período do ano passado.

O Facebook anunciou que o crescimento em vendas de propaganda digital e no número de usuários ativos diários desacelerou no segundo trimestre do ano. O problema é que líderes da empresa, incluindo Mark Zuckerberg, acreditam que essa trajetória deve continuar nos próximos trimestres, finalmente impactando os resultados financeiros da empresa.

A crença de que as coisas tendem a piorar foi o que mais impactou investidores e resultou na queda desta quinta-feira.

Segundo o analista Brian Wieser, da empresa de pesquisa de mercado Pivotal Research, casos polêmicos para a empresa como o escândalo da Cambridge Analytica ou os imbróglios com comissões legislativas e órgãos reguladores não foram mencionados na conferência com analistas, tampouco quaisquer consequências, como as multas tomadas pela concorrente Google na semana passada por reguladores europeus. “No entanto, acreditamos que outros ações podem decorrer desses acontecimentos e que podem ser significativos para a companhia, permanecendo como riscos em potencial”, escreveu em nota a investidores.

A esperança

Uma esperança para os próximos trimestres pode estar não no Facebook, mas em outra rede social controlada pela companhia: o Instagram.

Só no segundo trimestre deste ano, a rede social de fotos e vídeos alcançou a marca de 1 bilhão de usuários, lançou uma funcionalidade para vídeos na vertical, que podem durar até 1h (invadindo um espaço dominado pelo YouTube, da concorrente Google) e melhorou a disponibilidade de propagandas e de mecanismo de vendas na plataforma.

O Facebook não discrimina a participação do Instagram no faturamento total da empresa, mas estima-se que a rede deva faturar até 16 bilhões de dólares este ano e responder por 18% de todo o faturamento do grupo. Em dois anos, estima-se que o faturamento total do Instagram pode ser correspondente a 25% de toda a empresa, segundo uma previsão da consultoria EMarkerter.

Quando o Facebook comprou o Instagram por 715 milhões de dólares em 2012, a empresa de 13 pessoas ainda operava dentro da sede do Facebook. Hoje, fica a 5 minutos de ônibus da sede da companhia mãe, em um escritório próprio, onde trabalham 700 pessoas em um espaço que pouco remonta ao Facebook.

“O Instagram se tornou um monstro absoluto em termos de crescimento de usuário e engajamento”, escreveu o analista Rich Greenfield, da companhia de capital de mercado BTIG, em uma nota a investidores este mês. O sucesso fica evidente não só no 1 bilhão de usuários da plataforma, como também nos 400 milhões que usam o recurso Stories, que permite postar fotos e vídeos curtos com duração de 24h. É mais do que o dobro do que os 191 milhões de usuários diários do aplicativo Snapchat, que inspirou a implementação do Stories no Instagram.

Em março do ano passado, o Instagram afirmou que tinha alcançado a marca de mais de 1 milhão de anunciantes de propaganda. Perfis de empresas e negócios já passam dos 25 milhões. E a companhia começa a colocar funcionalidades de e-commerce diretamente na plataforma: é possível já para as marcas disponibilizar itens para a venda com preço e detalhes e um link externo para compras no site da marca.

Tudo isso sem polêmicas com órgãos reguladores e sem acusações de fake news. É a principal aposta de Zuckerberg para recuperar parte de seus bilhões.

 

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