Negócios

Botecos cariocas em São Paulo: como eles criaram um negócio que fatura R$ 6 milhões

Donos do Grupo Hungry, os dois ficaram no vermelho por quase três anos no primeiro empreendimento

Mariele Horbach e André Silveira, do Grupo Hungry: negócio deve faturar 10 milhões este ano (Grupo Hungry/Divulgação)

Mariele Horbach e André Silveira, do Grupo Hungry: negócio deve faturar 10 milhões este ano (Grupo Hungry/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de maio de 2023 às 08h01.

Última atualização em 22 de maio de 2023 às 10h47.

Os paulistanos convivem cada dia mais em harmonia com o estilo despojado dos negócios cariocas da gema. Espaços famosos e que conquistaram o paladar de cariocas e turistas como o Boteco Belmonte, Bracarense, Boteco da Rainha e, mais recentemente, o restaurante Delírio Tropical desembarcaram por aqui nos últimos anos.

Longe deste ‘glamour’, um casal começou uma empreitada em 2012 com o mesmo objetivo. Com nenhuma ou quase experiência, o publicitário e carioca André Silveira e gaúcha Mariele Horbach, que tinha no histórico o trabalho no restaurante da família em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, decidiram empreender.

O projeto era trazer um pouco do espírito e da atmosfera carioca para a selva de pedra, com os petiscos e os pratos que fazem sucesso no estado vizinho como o filé à Osvaldo Aranha, arroz de brócolis, o Vinicius de Morais e o strogonoff inspirado no restaurante La Molle.

Como foram os primeiros anos do negócio

Eles garimparam um espaço, juntaram as economias e começaram a dar vida ao Garota da Vila, na Vila Olímpia, inaugurado em 1º de abril de 2012. Ficaram quase três anos no vermelho. O desconhecimento sobre aspectos como gestão de pessoas, precificação e fluxo de caixa foram apenas alguns dos obstáculos que enfrentaram, além da relação com fornecedores e clientes.

As dificuldades chegaram antes mesmo da abertura do negócio. A reforma, estimada para dois, levou seis meses e consumiu quase todo o caixa. “O primeiro mês foi aterrorizante”, diz Horbach.

Com a corda no pescoço, o negócio entrou em uma espiral de “vender hoje para pagar amanhã” e teve que se afiançar em empréstimos bancários e familiares. “A gente não tinha plano B, tinha que dar certo”, conta Silveira.

Do vermelho para o azul

Os empreendedores recorreram ao Sebrae em busca de ajuda para aprender e equacionar todas essas questões.  Essa foi uma virada importante para o negócio, que começou a mostrar sinais de melhora. Além disso, André deixou o trabalho como publicitário para se dedicar totalmente ao Garota.

Com o casal se dividindo nas tarefas, o boteco registrou o seu primeiro ano no azul em 2015, feito que se repetiu no ano seguinte e abriu portas para a expansão do que hoje se transformou no Grupo Hungry. Em 2017, capitalizados, eles criaram o Bar Jobim, em Moema, e o Garota da Chácara, na Chácara Santo Antônio.

“Os dois começaram no azul e nunca ficaram no vermelho. Fruto da experiência com o negócio”, afirma Silveira. Antes deles colocarem os nossos empreendimentos na rua, fizeram uma lista dos erros cometidos com o primeiro boteco.

Os novos botecos nasceram em espaços bem menores, cerca de 40 metros quadrados, uma estratégia para economizar recursos na reforma, em mobiliário e em pessoal. Além disso, tinham que estar localizado em esquinas, como reza a lenda de todo boteco que se preze.

O último lançamento foi o Calçadão no Espeto, espaço criado em 2021 e que está sendo ampliado de 10 para 70 lugares. Com o modelo que traz uma proposta mais casual, de espetinhos e cerveja, o casal pretende levar essa bandeira para o mercado de franquias.

Outra aposta prevista para este ano é o lançamento da hamburgueira “Vaka Loka”. Em meio à pandemia de Covid-19, os dois criaram a marca de hambúrguer artesanal para vender no delivery e ajudar a sustentar as contas. Com a reabertura dos botecos físicos, resolveram guardar a ideia para o momento propício, transformada em uma nova oportunidade de negócios.

Qual o novo momento do negócio

Além dos espaços físicos, responsáveis por mais de 90% do faturamento, há uma outra divisão que traz incrementos residuais de receita: a ofertas de produtos com marcas próprias, estratégia que responde por cerca de 7%.

Ao longo do tempo, foram construindo parceria com fornecedores para a criação de:

  • Camisetas dos bares
  • Pimenta
  • Popos
  • Pratos
  • Conhaque de maracujá

Em 2022, o negócio fechou com 6 milhões de reais, alta de 100% em relação ao exercício anterior. Para este ano, a projeção é de romper a barreira dos R$ 10 milhões. A expectativa parte dos resultados dos últimos meses e também da expectativa gerada em torno da ampliação do Jobim, do Calcadão e da hamburgueria.

A consolidação financeira tem levado também à profissionalização. Antes, os dois jogavam em todas as posições, da cozinha até as contratações. Ao longo do ano passado, montaram uma estrutura financeira, de compras e Recursos Humanos. No período, surgiu também o Grupo Hungry como uma estrutura para abarcar todos os empreendimentos.

As mudanças estão alinhadas com o projeto de expansão tanto em São Paulo quanto para outros estados. O primeiro objetivo é transformar a marca “Garota” em uma rede, continuando a história iniciada com a Garota da Vila e a Garota da Chácara.

“Um segundo passo seria partir para o negócio de franquias, escolhendo a marca que tivesse mais potencial. A princípio, o Calçadão do Espeto”, afirma Silveira. Para acelerar os projetos, o grupo tem conversado com investidores e estudado caminhos para levar a imagem carioca e a bandeira do fluminense - paixão de Silveira - para outros endereços.

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedorismoRio de JaneiroSebraeBares

Mais de Negócios

De food truck a 130 restaurantes: como dois catarinenses vão fazer R$ 40 milhões com comida mexicana

Peugeot: dinastia centenária de automóveis escolhe sucessor; saiba quem é

Imigrante polonês vai de 'quebrado' a bilionário nos EUA em 23 anos

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira