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Bierly, da Bain: as escolas fora da curva

O gráfico de desempenho de alunos em escolas públicas nos Estados Unidos segue um triste padrão: quanto maior a concentração de estudantes de baixa renda, piores as notas obtidas. A realidade é reflexo de uma série de problemas do sistema de ensino, de falta de verba a descaso de governantes. Nesse cenário, no entanto, um […]

CHRIS BIERLY: um grande diretor é a única coisa em comum entre ótimas escolas / Divulgação
DR

Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2016 às 10h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h53.

O gráfico de desempenho de alunos em escolas públicas nos Estados Unidos segue um triste padrão: quanto maior a concentração de estudantes de baixa renda, piores as notas obtidas. A realidade é reflexo de uma série de problemas do sistema de ensino, de falta de verba a descaso de governantes. Nesse cenário, no entanto, um ponto chama a atenção. Ou melhor, uma série de pontos fora da curva. “Quando olhamos o gráfico, notamos algumas escolas com resultados surpreendentes”, diz o americano Chris Bierly, sócio da consultoria Bain&Company. Há cinco anos, Bierly e seu time começaram a investigar essas escolas específicas. “A verdade é que elas tinham uma única coisa em comum: um grande diretor”, diz Bierly. A partir daí, a ideia passou a ser entender como esse cenário de sucesso poderia ser replicado sem contar com o talento de uma única pessoa. Foi com esse desafio em mente que a Bain se aprofundou em cases de sucesso nos Estados Unidos e lançou o relatório Transforming Schools. Bierly falou à Exame do escritório da Bain, em Boston, sobre por que o modelo atual das escolas é inviável – e o que o Brasil pode aprender com isso.

Qual o modelo de liderança das escolas hoje, comparado ao de empresas? Uma empresa não duraria com o modelo de uma escola. Há três anos escrevemos um relatório sobre como os líderes surgiam nas escolas. Muitos professores descobrem que serão diretores duas semanas antes do início das aulas. Às vezes são professores fenomenais, mas que até então lidavam com crianças, não adultos. Se pensar em liderança como uma escada, estamos pedindo que os professores pulem 30 degraus ao mesmo tempo. Eles não tiveram degraus intermediários antes. Em empresas, há planos de carreira, de sucessão, uma hierarquia em que você constantemente avalia o talento no nível abaixo para ver quem pode subir e prepara essas pessoas com treinamento, mentoria…

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Por que essa falta de estrutura de liderança é um problema?
Vou dar um exemplo. Cuido das práticas de restaurantes da Bain globalmente e também tenho experiência local em varejo. Esses são negócios que precisam garantir que mais de 1.000 forneçam um serviço de alto nível. Em 30 anos de consultoria, a melhor explicação para como isso é possível é sempre a qualidade do líder local. Sempre. Aqui nos Estados Unidos, e talvez no Brasil, há uma grande ênfase em levar bons professores para as crianças. Nada é mais importante do que um bom professor.

Quais desafios de liderança um diretor de escola enfrenta?
Em média, nos Estados Unidos, 47 pessoas reportam diretamente ao diretor da escola. Para se ter uma ideia, em empresas, gerentes de equipes que têm pouco poder de decisão, como em call centers, são responsáveis por em média 15 pessoas. Em cargos com algum poder de decisão, são no máximo 7. O que estamos pedindo dos diretores é algo impossível.

No relatório, a Bain fala bastante sobre um segundo modelo, de professores-líderes. Como ele funciona?
Ele é um modelo muito mais escalável. A ideia é: no lugar de adicionar diretores-assistentes, as escolas em algumas cidades, como Denver, Charllotte, Washington DC e Dallas, estão experimentando dar mais poder aos professores. Em Denver, por exemplo, as escolas encontraram professores dentro do seu corpo docente para se tornarem líderes no desenvolvimento de outros professores. Há um líder de todas as turmas de 4ª e 5ª série de uma escola, um das turmas de 3ª e 2ª, e assim por diante. Esses professores dão aulas durante meio período e, no restante do tempo, se tornam líderes e mentores de seus pares. No Ensino Médio, o modelo é ter um professor líder por disciplina, como inglês, matemática…

Qual o papel do governo em incentivar essas mudanças nas escolas? Acredito que ela se dá de forma mais local. As mudanças acontecem quando um distrito vê que tem uma oportunidade, faz algo bom, e outros começam a copiar. O sucesso de um modelo vai inspirando mudanças e ajustes. No Brasil, imagino que um secretário de educação possa se interessar por esse modelo e procurar lugares no estado que gostariam de testá-lo. Assim como Denver. Seria muito difícil para um diretor fazer isso por conta própria. A melhor maneira é o sistema trabalhar junto com o diretor para pensar em novos modelos e, nos primeiros anos, dar um pouco mais de financiamento.

Existe um custo associado a essa mudança na estrutura de liderança?
Em escala, estamos falando de algo muito pequeno. Em Denver, o custo foi o de ter alguém para dar aulas meio período no lugar de 3 professores-líderes. Geralmente, existe dinheiro que pode ser movido de uma pilha para outra mas, nos primeiro anos da mudança, o ideal é ter algum financiamento inicial até encontrar uma maneira de fazer a nova estrutura caber no orçamento. O importante aqui é que estamos investindo em uma nova estrutura. Nesse contexto, estamos falando de liderança não porque administradores são mais importantes do que professores, mas porque a maneira de melhorar a qualidade da instrução dos alunos é dar aos professores um ambiente de trabalho onde possam crescer e se desenvolver como profissionais.

(Paula Rothman, de Boston)

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