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Após decisão da Ford, qual o futuro das 280 concessionárias da marca?

Diante da estratégia da montadora de focar em produtos de maior valor agregado, todos importados, o destino da rede se torna incerto

Concessionária da Ford: destino incerto (Ford/Divulgação)

Concessionária da Ford: destino incerto (Ford/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 15h55.

Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 23h20.

A decisão da Ford de fechar todas as suas fábricas no Brasil e trabalhar apenas com importação não implica somente na perda de milhares de empregos nas linhas de produção. Uma parcela significativa dos mais de 280 concessionários da marca devem fechar as portas, uma vez que o número de pontos de venda costuma ser proporcional aos volumes comercializados.

Conforme apurou a EXAME, o fechamento de concessionárias pode chegar a até 160 no país. Isso porque a maioria da rede se sustentava, basicamente, com a venda dos modelos de volume, como o Ka e o Ka sedã. O SUV Ecosport também representava uma boa fatia da comercialização.

Com a decisão de encerrar a produção local e importar modelos de maior valor agregado, acima de 100 mil reais -- como o SUV Territory e a picape Ranger --, a tendência é que os volumes de vendas da montadora recuem de forma significativa.

No ano passado, cerca de 85% dos veículos comercializados pela Ford foram produzidos no Brasil, somando aproximadamente 120.000 unidades, segundo levantamento da Bright Consulting.

"Muitas concessionárias da Ford vão fechar as portas. As lojas com maior apelo de carros populares devem ser as mais afetadas, visto que 70% dos veículos comercializados pela marca são deste segmento", afirma Murilo Briganti, diretor da Bright.

Em uma carta enviada aos concessionários, obtida pela reportagem da EXAME, a Ford afirma que os clientes da marca "continuarão sendo amplamente atendidos pela operação de vendas, serviços, peças de reposição e garantia, em todo o país". No entanto, no texto não há detalhes sobre como ficará a relação entre a montadora e a rede.

No texto, a montadora reforça ainda que vai acelerar os lançamentos de modelos "conectados e eletrificados" na região. Os preços desses veículos tendem a ser muito mais altos do que os campeões de vendas da Ford, o que acaba derrubando os volumes de comercialização das concessionárias e, consequentemente, a rentabilidade.

Os desafios da rede, a partir de agora, serão monumentais. Historicamente, os concessionários são o elo mais pressionado da cadeia automotiva, por um motivo: o altíssimo custo de operação.

Além dos custos fixos relativos ao showroom, os concessionários mantêm estoques de veículos -- que representam a maior fatia do capital de giro -- e de peças. Em muitos casos, abrigam oficinas.

Dependendo da metragem e da localização, como em pontos nobres da capital paulista, o capital de giro de uma concessionária pode ficar na casa dos milhões de reais.

"Devido à redução drástica dos volumes de vendas em relação a 2020, a rede vai encolher. Não tem como o atual número de concessionárias ser rentável", diz Briganti.

Espera-se também que lojas da rede entrem em litígio com a montadora, devido a questões contratuais. Em meio a dúvidas sobre o futuro das concessionárias, a única certeza é que haverá perdas significativas na rede.

 

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