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Anglo American é autorizada a prospectar cobre em MT e no PA

Província de Ouro de Alta Floresta tem geologia típica de minas andinas; mineradora disse que é muito cedo para falar sobre viabilidade de exploração

Mina de cobre: "Obviamente, será do interesse do governo tirar isso do papel o quanto antes for possível, porque o mundo tem demandado cobre", disse o diretor-geral do DNPM, Victor Bicca (John Macdougall/AFP)
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Reuters

Publicado em 18 de junho de 2018 às 15h47.

Rio de Janeiro - A mineradora Anglo American obteve centenas de autorizações neste mês para prospecção de cobre em uma região remota ao norte do Brasil, disseram autoridades locais, em momento em que o crescente mercado de veículos elétricos e a escassez de projetos de mineração aquecem a demanda pelo metal.

Se confirmada, uma grande descoberta de cobre animaria a indústria de mineração, que está de olho em um déficit iminente do metal, que tem sido valorizado como um condutor de eletricidade depois que anos de cortes em orçamentos de exploração deixaram poucas perspectivas de novas descobertas.

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Em uma nota à Reuters, a Anglo disse que é muito cedo para falar sobre a viabilidade do projeto. Mas a empresa confirmou que recebeu permissão para prospectar o cobre nos Estados de Mato Grosso e Pará, onde ainda não começou estudos.

O projeto, perto da Amazônia brasileira, poderia ser um importante negócio para a indústria de mineração de cobre do país, que ainda está muito atrás do maior produtor global, o Chile.

Mas a localização remota dos 284 blocos, que cobrem quase 1,9 milhão de hectares, representa também inúmeros desafios, como a provável resistência de ativistas apenas poucos meses depois de o governo brasileiro recuar de planos de abrir uma reserva ambiental para a mineração.

"Pode haver (resistência), mas seria perfeitamente administrável", disse o chefe da mineradora chilena Codelco no Brasil e diretor da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (ADIMB) Marcos André Gonçalves. Ele acrescentou que uma grande descoberta de cobre "eliminaria parte da neblina" que paira sobre a indústria.

O que o Anglo parece ter encontrado na Província de Ouro de Alta Floresta, dizem os especialistas, é um depósito de cobre e ouro no estilo pórfiro, geologia típica das minas andinas e responsável por mais de 60 por cento dos recursos de cobre do mundo.

No Brasil, há apenas um exemplo de uma mina em operação com essa geologia, o depósito da Chapada, no Estado de Goiás.

"O conteúdo (mineral) é semelhante ao do Chile", disse Victor Bicca, diretor-geral do regulador de mineração DNPM, acrescentando que pode ser um "mega depósito".

"Obviamente, será do interesse do governo tirar isso do papel o quanto antes for possível, porque o mundo tem demandado cobre", acrescentou.

Em um relatório de maio, o Bank of America informou que projetos de mineração de cobre encolheram drasticamente desde 2011, uma vez que os preços do metal caíram e a exploração tem sido cada vez menos bem-sucedida.

Mesmo que a Província de Ouro de Alta Floresta produza tanto cobre quanto o esperado, isso não significaria que o Brasil está no caminho para se tornar outro Chile, onde a produção anual soma 5,33 milhões de toneladas, graças em parte à mina Escondida, da BHP.

"As chances de ser outra Escondida são muito pequenas", disse o consultor de mineração Mike Doggett, em Vancouver. Ainda assim, a descoberta "está gerando animação e isso é bom".

Apenas um quinto de todas as descobertas de cobre se transformam em minas em 20 anos, de acordo com Richard Schodde, diretor gerente da consultoria de exploração MinEx Consulting.

Schodde disse que os depósitos de pórfiro tendem a ser muito grandes em tamanho, mas com menor gradação, o que os torna economicamente viáveis apenas ​​se estiverem perto da superfície ou tiverem boa infraestrutura por perto.

A Anglo, com sede em Londres, informou que começou a explorar 9 mil hectares na região há dois anos, por meio de uma parceria com a brasileira Mineradora Ouro Paz, acrescentando que duas sondas de perfuração estão sendo usadas.

A mineradora levou quase um ano para receber as licenças de exploração e provavelmente precisará em breve buscar licenças ambientais para extrair minerais para análise.

O CEO da Anglo, Mark Cutifani, reiterou o compromisso da empresa com o metal básico.

"Nós gostamos da commodity, gostamos de nossos ativos e gostamos do potencial dentro desses negócios", disse ele em uma conferência em Miami no mês passado.

"Temos opções de crescimento significativas dentro do portfólio e também fora das operações existentes", acrescentou.

Ventos contrários

Outras mineradoras divulgaram mais sobre o projeto. Em fevereiro, Altamira Gold Corp disse em um comunicado de imprensa que havia começado a explorar cobre na região, em local próximo ao da Anglo, acrescentando que 3,5 milhões de hectares em novas permissões também teriam sido apresentadas pela Anglo, Nexa Resources e Vale na área.

A Nexa confirmou que estava prospectando na área, mas a Vale negou ter direitos sobre a região.

A indústria de mineração como um todo ainda está lutando para melhorar sua imagem após uma série de acidentes recentes no Brasil, depois do rompimento de uma barragem em 2015 da Samarco, uma joint venture entre a brasileira Vale e a BHP, que matou 19 pessoas. No início deste ano, a Alunorte, da Norsk Hydro, e o Sistema Minas Rio, da Anglo, relataram vazamentos.

E movimentos de direitos ambientais e de indígenas têm tido sucesso em investidas contra a mineração na região amazônica.

O presidente Michel Temer foi forçado a desistir dos planos de abrir para a exploração a Reserva Nacional do Cobre e Seus Associados (Renca), uma enorme reserva mineral amazônica para a mineração, no final do ano passado, após uma enorme reação negativa.

A Belo Sun, uma mineradora canadense, viu sua proposta de construir a maior mina de ouro do Brasil congelada devido a reclamações da Funai sobre os estudos indígenas realizados por ela.

A área de Anglo, quase tão grande quanto a Eslovênia, pode não escapar desses ventos contrários. Faz fronteira com duas reservas indígenas, próximas a parques nacionais e estaduais, e adjacentes a várias unidades de conservação, que se beneficiam dos mais altos níveis de proteção ambiental do país, segundo dados de Jazida.com, site que monitora dados sobre o setor de mineração no Brasil.

"Além de poluir o meio ambiente, significa a migração de muitas pessoas para áreas remotas e, neste caso, muito próximas das reservas indígenas", disse o especialista em energia do Greenpeace, Tiago Almeida, acrescentando que espera estudar os planos da Anglo. "É uma enorme ameaça."

Em um comunicado, a Anglo disse que leva essas preocupações a sério. "Onde quer que operemos, seja nos primeiros estágios do trabalho geológico até nossas operações de mineração, somos sensíveis às comunidades e ao ambiente natural", disse a empresa.

(Por Alexandra Alper, reportagem adicional de Jake Spring, em Brasília, Barbara Lewis, em Londres, e Marta Nogueira, no Rio de Janeiro)

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