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Ações da Lava Jato chegam a 24 e reforçam tática da acusação

A avalanche de denúncias criminais (19) e ações civis (5) integra a estratégia de acusação


	Nestor Cerveró, que foi acusado novamente esta semana: objetivo das ações é cercar suspeitos de integrar o esquema de corrupção
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Nestor Cerveró, que foi acusado novamente esta semana: objetivo das ações é cercar suspeitos de integrar o esquema de corrupção (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 08h58.

Curitiba - A força-tarefa da Operação Lava Jato apresentou nesta terça-feira, 24, à Justiça Federal no Paraná nova denúncia criminal contra Nestor Cerveró.

O ex-diretor da área Internacional da Petrobras é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

É a 24.ª acusação formal do Ministério Público Federal, entre peças criminais e civis, no caso classificado pelos procuradores como "a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve".

A avalanche de denúncias criminais (19) e ações civis (5) integra a estratégia de acusação.

O objetivo é cercar empreiteiros, doleiros, lobistas e ex-diretores da estatal petrolífera suspeitos de integrar o esquema de corrupção.

A tática é diferente da que foi adotada em outro recente escândalo, o do mensalão, que teve uma única denúncia contra 40 acusados.

A segunda acusação criminal contra Cerveró destaca que "como é notório, esta denúncia decorre da continuidade da investigação que visou a apurar diversas estruturas paralelas ao mercado de câmbio, abrangendo um grupo de doleiros com atuação nacional e transnacional".

Nesse novo caso, o ex-diretor da estatal, preso desde janeiro, é acusado de ter enviado ao exterior parte da propina de US$ 30 milhões que teria recebido na contratação de dois navios-sonda, em 2005 e 2006.

O dinheiro, afirma a Procuradoria, foi remetido para empresas offshores e depois retornou ao Brasil para aquisição de uma cobertura no bairro de Ipanema, zona Sul do Rio, por R$ 1,5 milhão - o imóvel está avaliado em R$ 7,5 milhões.

Além de Cerveró, são acusados o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano - suposto operador do PMDB na Petrobras - e Oscar Algorta, que presidia o Conselho de Administração da Jolmey S/A no Uruguai, uma das empresas que teriam movimentado dinheiro de propina.

Ritmo

O ritmo dos procuradores golpeia até os mais experientes advogados do País, tão habituados a acirradas contendas nos tribunais.

Os criminalistas avaliam que cada nova denúncia complica ainda mais os planos de defesa.

Eles reagem, ora argumentando que as denúncias são açodadas, ora ineptas.

A Lava Jato começou em 2009 com a investigação sobre lavagem de recursos relacionados ao ex-deputado José Janene (PP), que foi réu do mensalão e morreu em 2010.

O aprofundamento das apurações levou ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A operação foi deflagrada em março de 2014.

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal e a Procuradoria deflagraram a Juízo Final, sétima fase da Lava Jato, com foco nos empreiteiros.

Nas primeiras seis ações penais contra executivos das empreiteiras, apresentadas em dezembro, a força-tarefa, além de dividir os réus em ações, decidiu separar a apresentação de denúncias sobre os crimes de cartel e fraude em licitação, sem descartar nova acusação.

"Se fizéssemos uma única denúncia com 35 réus processualmente seria absolutamente impossível. O objetivo foi cindir as denúncias para viabilizar os processos", disse, então, o procurador Antônio Carlos Welter.

São desdobramentos das ações penais cinco ações de improbidade contra as empreiteiras por cartel e pagamento de propina para dirigentes da Petrobras.

Por meio de indicações políticas do PT, PMDB e PP esses agentes cobravam de 1% a 3% do valor "de contratos bilionários, em licitações fraudulentas".

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, prepara denúncias contra um grupo de políticos. As ações e os inquéritos, que devem ser apresentados nesta semana, também devem ser desmembrados em várias peças.

Advogados

"A atuação das autoridades judiciárias apresenta características inusitadas e jamais vistas em qualquer caso no direito penal brasileiro", afirma o criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende dois executivos da Camargo Corrêa.

"Um fato denotador dessa excepcionalidade é exatamente o não reconhecimento de conexão entre processos que versam sobre fatos correlatos entre si. Isso representa a negação de um instituto muito caro ao processo penal, exatamente o da competência pela conexão."

Para Mariz de Oliveira, "é evidente que a não união dos processos dificulta sobremodo o exercício do direito de defesa". "Ao que parece esse é o objetivo."

Os criminalistas Roberto Telhada e Edward Carvalho, que defendem a cúpula da OAS, dizem que provarão a "ilegalidade da investigação, a incompetência do Juízo, a improcedência das acusações e o cerceamento de defesa."

Para o advogado Marcelo Leonardo, que defende a cúpula da Mendes Júnior, "há um exagero no uso do artigo 80 do Código de Processo Penal, que admite o desmembramento do processo".

Segundo ele, o desmembramento, em alguns casos, pode estar justificado para economia processual, facilidade da produção de provas e até para facilitar as próprias defesas.

"Mas a sua repetição (das denúncias) em relação à mesma pessoa inviabiliza o exercício da defesa."

O advogado Edson Ribeiro, que defende Cerveró, declarou ontem: "Essa nova denúncia é inepta. Cerveró não é proprietário de nenhuma empresa citada pela Procuradoria." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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