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Venezuela quer controlar compras de alimentos da população

Presidente Nicolás Maduro definiu o plano como uma "benção antifraude" e evitou falar sobre as limitações das vendas e sobre o racionam

Um homem observa os preços de um mercado de Caracas: governo quer controlar compra de alimentos da população (Leo Ramirez/AFP)

Um homem observa os preços de um mercado de Caracas: governo quer controlar compra de alimentos da população (Leo Ramirez/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2014 às 17h17.

Caracas - A Venezuela quer controlar as compras de alimentos dos cidadãos por meio de um sistema de leitura de digitais, medida que opositores imediatamente classificaram como uma versão digital da caderneta de racionamento cubana.

O presidente socialista Nicolás Maduro, que atribui a falta de bens na Venezuela --um em cada quatro itens-- ao contrabando para Colômbia e Caribe, definiu o plano como uma "benção antifraude" e evitou falar sobre as limitações das vendas e sobre o racionamento.

Em rede nacional, Maduro insistiu que mais de 30% dos bens que circulam na Venezuela são contrabandeados, principalmente para a Colômbia.

Apesar de contar com as maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela enfrenta uma crise marcada pela forte queda de reservas (redução de um terço em um ano), um déficit fiscal estimado em 15% do PIB e uma inflação que há dois meses superava os 60% ao ano.

"Já foi dada a ordem para que, através da superintendência de preços, seja instalado o sistema biométrico em todos os estabelecimentos e redes distribuidoras e comerciais da República", disse Maduro.

O mecanismo utilizará leitores óticos de impressões digitais para reconhecer cada comprador. "O sistema biométrico será perfeito", acrescentou o herdeiro político de Hugo Chávez.

O sistema tenta impedir que uma mesma pessoa compre o mesmo produto em uma quantidade que exceda volumes e frequências ainda não definidas. Também não está claro se a medida abarcará somente os produtos básicos ou se será estendida a toda a economia, incluindo medicamentos, livros, jogos e bebidas alcoólicas.

 'Compraremos quando o governo quiser'

"Agora compraremos quando o governo quiser", estampou a capa do jornal popular 2001, que atribui a conclusão a uma das pessoas consultadas sobre o anúncio de Maduro.

"Isto não é nada mais do que a caderneta de racionamento cubana. O governo não pode querer determinar o que as famílias vão comer", disse nesta quinta-feira o deputado Alfonso Marquina, do partido Primero Justicia, do opositor Henrique Capriles.

Em uma declaração menos alarmista, Capriles advertiu que o controle biómetrico "não acabará com a escassez no país".

Os especialistas também não acreditam na eficiência da medida. "Na Venezuela estamos falando de contrabando de alto nível. Isso não se combate com sistema biométrico, para evitar que as pessoas comprem mais para revender, disse o presidente da Associação Nacional de Usuários e Consumidores (Anauco), Roberto León.

"Limitar a compra não resolve o problema, que tem a ver com a produção e com os mecanismos de importação para abastecer a demanda, que supera a oferta. Medidas como essa são marqueteiras e causam violações aos direitos dos cidadãos", disse León.

Os analistas concordam que o contrabando em grande escala (no caso do combustível, se estima o contrabando de 100.000 barris diários) só é possível com a cumplicidade de membros das forças de segurança e das alfândegas dos dois países.

Esse tráfico é sustentado pelos preços subsidiados e pelas distorções cambiais, que fazem que na Venezuela haja produtos básicos que são entre cinco e cinquenta vezes mais baratos do que na vizinha Colômbia.

Em um contexto de escassez de divisas --apesar do alto valor do barril de petróleo, em uma média de 100 dólares-- a Venezuela enfrenta um desabastecimento, tanto de produtos básicos como de supérfluos.

As restrições vão de leite, azeite, água engarrafada, papel higiênico, antibióticos, anestesias, a baterias de automóveis, máquinas de lavar pratos e passagens aéreas internacionais.

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