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Ucrânia e separatistas assinam acordo de cessar-fogo

Cessar-fogo entrou em vigor às 15h00 GMT (12h00 no horário de Brasília), e nenhum tiro ou explosão foi ouvida desde então em Donetsk

Negociações de paz entre representantes do governo e dos rebeldes da Ucrânia em Minsk, em Belarus (Vasily Maximov/AFP)
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Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2014 às 15h40.

Minsk - Kiev e os rebeldes pró-russos anunciaram a assinatura de um cessar-fogo e de um acordo sobre a retirada das tropas e uma troca de prisioneiros após uma reunião, em Minsk, para por fim a cinco meses de confrontos no leste da Ucrânia .

O cessar-fogo entrou em vigor às 15h00 GMT (12h00 no horário de Brasília), e nenhum tiro ou explosão foi ouvida desde então em Donetsk, reduto rebelde no leste da Ucrânia, ou em Mariupol, última grande cidade sob controle das forças ucranianas na região.

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"O cessar-fogo se baseia no acordo que foi alcançado durante minha conversa telefônica com o presidente russo Putin", declarou o presidente ucraniano Petro Poroshenko, à margem da cúpula da Otan em Newport (Reino Unido).

"Esta é a razão pela qual acredito que é de nossa responsabilidade comum fazer este cessar-fogo durar por muito tempo", ressaltou.

Não há indicações sobre a duração desta trégua, que constitui uma vitória para os separatistas e a Rússia, na medida em que poderá endossar a perda de Kiev de várias cidades do leste da Ucrânia após o avanço nas últimas semanas dos rebeldes, apoiados por militares russos.

O "grupo de contato" reunindo a Rússia , Ucrânia, os separatistas e a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) chegou a um acordo sobre "a retirada das tropas, o acesso aos comboios humanitários e uma troca de prisioneiros sobre o princípio de 'todos por todos", indicou a representante da OSCE, Heidi Tagliavini.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou, por sua vez, a "todos aqueles que estão envolvidos neste acordo a provar sua boa vontade e a adotar medidas concretas para aplicá-lo totalmente, de maneira urgente e eficaz".

Já o presidente Barack Obama ressaltou que o cessar-fogo na Ucrânia poderá trazer paz "apenas se for seguido por ações concretas no terreno".

No momento em que os Estados Unidos preparam, em estreita coordenação com a União Europeia, novas sanções econômicas contra a Rússia, acusada de incitar a crise, Obama considerou ser mais prudente impor sanções contra Moscou, que poderão ser retiradas caso a trégua seja cumprida.

O cessar-fogo alcançado está muito distante do plano de paz desejado pelo primeiro-ministro ucraniano Arseniy Yatsenyuk.

Ele lembrou que o plano de paz deveria incluir "a retirada das tropas russas, dos bandos e dos terroristas (os separatistas) e o restabelecimento da fronteira".

Mas a margem de manobra parece pequena para Kiev, com as tropas do presidente Poroshenko perdendo terreno a cada dia.

Força rápida da Otan

Frente a atitude da Rússia na Ucrânia, a Aliança Atlântica anunciou nesta sexta-feira a criação de uma força de resposta rápida, que pode ser implantada em poucos dias em caso de escalada de uma crise, e que manterá uma presença permanente no leste europeu.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que declarou seu ceticismo quando ao plano de paz proposto pela Rússia, indicou que espera que o anúncio de cessar-fogo seja o primeiro passo para um processo político.

"Uma coisa é declarar um cessar-fogo, mas a próxima etapa crucial é a aplicação de boa fé (do cessar-fogo) e isso precisa ser visto", declarou em coletiva de imprensa ao final da cúpula da Otan.

A criação da nova força da Otan foi criticada por Moscou, que disse "se tratar de uma modificação significativa da situação militar na região", segundo o representante da Rússia na Aliança, Alexandre Gruchko.

A assinatura do acordo de cessar-fogo ocorre após o presidente russo, Vladimir Putin, apresentar um plano de paz de sete pontos, no qual pede que as forças governamentais ucranianas se retirem das regiões industriais de Donetsk e Lugansk.

Os ocidentais suspeitam das intenções do presidente russo que, descontente com o acordo de associação econômica assinado em junho entre a Ucrânia e a União Europeia, tenta a qualquer custo manter estas regiões dependentes do comércio com a Rússia.

Confrontos no leste

Antes do anúncio do cessar-fogo, intensos combates foram travados nesta sexta-feira nos subúrbios da cidade estratégica portuária de Mariupol, no sul da Ucrânia, enquanto diversas explosões perto do reduto rebelde de Donetsk foram ouvidas durante a madrugada.

A queda do porto de Mariupol abriria aos separatistas o caminho para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em março.

De acordo com uma nota dos consultores políticos do Eurasia Group, "um cessar-fogo permanente permanece incerto, dada as diferenças fundamentais entre a Rússia e a Ucrânia sobre o que seria necessário a um acordo de paz", incluindo a negação de Kiev de retirar suas tropas do leste e aceitar o modelo de federalização reivindicado pelo Kremlin há meses.

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