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Teto da dívida dos EUA: teste difícil para a economia mundial

Analistas e autoridades ainda não sabem qual será o tamanho da crise caso país não consiga chegar a um acordo para aumentar o teto até o dia 2 de agosto

Congressistas americanos deixam uma reunião: falta de acordo ameaça a economia (Karen Bleier/AFP)

Congressistas americanos deixam uma reunião: falta de acordo ameaça a economia (Karen Bleier/AFP)

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Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2011 às 18h28.

Washington - A incapacidade de um punhado de congressistas dos Estados Unidos de entrar em acordo antes do dia 2 de agosto sobre o limite da dívida seria um teste difícil para a economia mundial, que estaria ameaçada por uma crise de magnitude incerta.

Esta perspectiva traz o medo de um efeito dominó: até que ponto um bloqueio no Congresso em Washington poderia adiar ou estancar o crescimento do planeta? Ninguém tem a resposta.

Concretamente, o departamento do Tesouro americano opina que após o dia 2 de agosto, se os congressistas ainda não tiverem acordado elevar o limite legal da dívida, o Estado não poderá honrar com todos os seus compromissos.

Como cerca de 40% de seus gastos são financiados com endividamento, o Estado federal americano deverá escolher drasticamente quais pagamentos fará e quais deixará para mais tarde. Isto significará a paralisia de algumas administrações, uma incerteza sobre o pagamento das prestações sociais e inclusive atraso nos pagamentos aos seus fornecedores.

"A nota AAA dada à dívida de nosso país seria rebaixada", afirmou na segunda-feira o presidente Barack Obama. "As taxas de juros subiriam" e "correríamos o risco de provocar uma profunda crise econômica, esta causada quase totalmente por Washington".

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, advertiu na terça-feira neste sentido: "ter um default ou uma queda importante da classificação dada aos Estados Unidos seria algo muito, muito, muito grave. Não apenas para os Estados Unidos, mas também para a economia mundial em geral".

Seus economistas publicaram um dia antes suas conclusões após um complexo exercício realizado pela primeira vez: avaliar os efeitos dos acontecimentos econômicos e financeiros dos Estados Unidos no resto do mundo.

"As repercussões transfronteiriças a curto prazo a partir dos Estados Unidos sobre o exterior são únicas por sua importância e mostram o papel central dos mercados americanos na fixação mundial dos preços dos ativos", ressaltaram.

Segundo os economistas, nos bons momentos, quando os Estados Unidos crescem 1%, "a maior parte dos países do G20" ganha cerca de meio ponto. No entanto, os economistas não calcularam o que acontece quando o crescimento dos Estados Unidos se desacelera.

Mas "uma perda de confiança" na "credibilidade orçamentária" de Washington "teria repercussões negativas maiores para o resto do mundo, visto o papel de referência mundial dos rendimentos sobre as obrigações de Estado americanas", advertiram.

O fato é o crescimento da maior economia mundial foi muito pequeno: caiu a 1,7% anual no segundo trimestre, segundo as previsões dos analistas antes da publicação, na sexta-feira, das primeiras estimativas do governo americano.


Contudo, de acordo com o presidente da agência classificadora de risco Standard and Poor's, Deven Sharma, seus analistas continuam excluindo a possibilidade de que os Estados Unidos entre em cessação de pagamentos.

"Baixar a nota de um país não significa que ele vá entrar em default, mas sim que aumentaram os riscos", disse Sharma aos membros da Comissão de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes, que o interrogaram nesta quarta-feira a respeito.

"Tudo o que significa o triplo A é que aqueles que possuem esta classificação apresentam uma probabilidade muito baixa de default", afirmou.

A Standard and Poor's anunciou em abril que previa baixar a nota da dívida de longo prazo dos Estados Unidos (que era de AAA), devido às perspectivas orçamentárias do país.

"Alguns dos planos anunciados para resolver o problema da dívida podem atingir esse objetivo. Queremos ver qual é a proposta final antes de nos pronunciarmos", disse Sharma.

Mesmo que "os Estados Unidos possam pagar suas contas" nos prazos normais e ainda que a crise seja resolvida rapidamente, "não é um bom momento para que isto (a falta de acordo no teto da dívida) chegue", explica Nariman Behravesh, economista chefe da consultora IHS Global Insight.

"As consequências em outras regiões do mundo seriam enormes, em particular naquelas que têm um crescimento lento, como Europa. Porque o comércio com os Estados Unidos seria afetado", disse à AFP.

Por sua vez, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na terça-feira que "será uma enorme insensatez que não se consiga superar esta situação (...). Acredito em uma solução, mas confesso minha preocupação com o rumo que as coisas tomaram. Espero que haja sensatez nesta semana e que as coisas se resolvam".

O ministro da Fazenda chileno, Hernán Larraín, concordou. "Eu espero que a cordura prevaleça (...) do contrário entraríamos em uma situação inédita que seria uma moratória da dívida americana, que não convém nem aos Estados Unidos, nem ao mundo", advertiu.

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