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Stacey Abrams, a ativista que mudou a cara do eleitorado nos EUA

Se Biden conseguir confirmar a vitória na Geórgia e se os candidatos democratas conseguirem as vagas no Senado, Abrams deve ganhar ainda mais projeção

Stacey Abrams, ativista pelo direito ao voto e ex-candidata à governadora na Geórgia: milhares de novos eleitores registrados  (Ethan Miller/Getty Images)

Stacey Abrams, ativista pelo direito ao voto e ex-candidata à governadora na Geórgia: milhares de novos eleitores registrados (Ethan Miller/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 8 de novembro de 2020 às 12h06.

Última atualização em 8 de novembro de 2020 às 12h38.

A eleição americana vai terminar com um resultado que já pode ser chamado de histórico dos democratas no Sul dos Estados Unidos, com lideranças na Geórgia e no Arizona e uma disputa mais apertada do que o comum no Texas. E parte desses votos têm um nome: Stacey Abrams, a ativista pelo direito ao voto e ex-candidata ao governo da Geórgia.

A Geórgia é (ou costumava ser) um reduto republicano nos últimos 40 anos. A última vez que um candidato democrata à presidência foi eleito no estado foi com Bill Clinton em 1992, e, antes disso, com Jimmy Carter na década de 70.

Até o fechamento desta reportagem, o resultado na Geórgia ainda não havia saído: Biden, que começou perdendo mas virou no estado na sexta-feira, vencia por uma margem apertada, de cerca de 10.000 votos. As autoridades do estado já afirmam que haverá uma recontagem devido à pequena diferença, não importa quem vença.

Ainda assim, a campanha será lembrada pelas maiores chances dos democratas no Sul em muitos anos. E parte vem dos esforços de ativistas, candidatos e voluntários em garantir que os eleitores estivessem registrados para votar.

"Obrigada, Stacey": apoiador em Atlanta, na Geórgia, carrega placa em homenagem à ativista durante comemorações pela vitória de Biden no sábado, 7 (Elijah Nouvelage/AFP/Getty Images)

Aos 46 anos, Abrams é o rosto da "virada" de Biden na Geórgia. Ela é fundadora de organizações como a Fair Count, cujo objetivo é garantir que todos os cidadãos sejam contados no censo americano e possam se registrar para votar.

Abrams ganhou projeção sobretudo após a eleição para governador de 2018, onde perdeu para o republicano Brian Kemp por somente cerca de 55.000 votos.

Naquele pleito, mais de 53.000 inscrições de eleitores ficaram em suspenso por diferenças entre os nomes em seus documentos e o dos registros eleitorais (às vezes por uma abreviação ou pela falta de um hífen). Sete entre dez desses eleitores eram negros; três em cada dez habitantes da Geórgia são negros.

Eleitores negros na Geórgia e em outros estados do Sul vêm apontando há anos práticas que classificam como “supressão dos votos”. Nesta eleição, Abrams e correligionários democratas no estado foram responsáveis por ajudar a registrar milhares de eleitores negros na Geórgia que, do contrário, não votariam, e são vistos como grandes responsáveis pela vitória de Biden.

Ex-deputada, Abrams chegou a ser cotada como vice na chapa de Biden neste ano. A escolhida terminou sendo a senadora Kamala Harris, da Califórnia, vista dentro do partido como um nome mais moderado.

Mas, em meio aos números crescentes de Biden na Geórgia, Abrams foi um dos nomes mais celebrados. Em Atlanta, cartazes com seu nome tomaram as ruas na celebração pela vitória de Biden no sábado, 7.

Durante a campanha, com sua reputação em alta, ela foi chamada também para ajudar nos comícios em outros estados, como na região de Las Vegas, em Nevada. Um dia antes da eleição, o ex-presidente Barack Obama também foi até a Geórgia e participou de um comício a seu lado.

A Geórgia é também o estado do famoso democrata John Lewis, ativista pelos direitos civis da população negra ao lado de Martin Luther King na década de 60.

Lewis foi deputado por um distrito que inclui a maior parte de Atlanta desde 1987, antes de falecer em julho do ano passado. Nos últimos anos de vida, Lewis e Stacey Abrams se aproximaram nas ações de ativismo no estado.

O herdeiro de Luther King no Senado

Passada a maior parte da eleição presidencial, a Geórgia estará novamente nos holofotes para outra briga crucial para os democratas: o Senado. Só faltam as duas vagas em disputa na Geórgia para definir a eleição, mas a votação foi tão apertada que será levada ao segundo turno, que acontece em janeiro.

Se ganhar as cadeiras na Geórgia, os democratas voltam a ter maioria -- ainda que pequena, de duas cadeiras -- no Senado. A Geórgia não escolhe um democrata para alguma de suas vagas no Senado desde a década de 90.

Das duas vagas, o reverendo democrata Raphael Warnock lidera contra a atual senadora Kelly Loeffler por mais de 340.000 votos. Warnock é pastor da mesma igreja que foi liderada por Martin Luther King na década de 60.

Na segunda vaga em disputa, o democrata Jon Ossoff está atrás contra o atual senador, David Perdue, que tem cerca de 90.000 votos a mais.

O presidente Barack Obama (ao centro), em comício pedindo votos a Jon Ossoff (esq.) e Raphael Warnock (dir.), candidatos ao Senado na Geórgia (Jessica McGowan/Getty Images)

O Partido Democrata já confirmou a maioria na Câmara, embora com quatro cadeiras a menos do que tinha até então, segundo os resultados até agora (faltam os resultados de 24 vagas). Sem uma vitória abrangente no Congresso, a governabilidade de Biden, que já será difícil em meio às acusações de fraude na eleição, fica em risco.

Abrams já começou a campanha pelo Senado nos últimos dias. Com a hashtag #LetsGetItDoneAgain (vamos fazer de novo), tem pedido a seus seguidores que peçam cédulas para votar com antecedência.

Se Biden conseguir confirmar a vitória na Geórgia e se os candidatos democratas conseguirem as vagas no Senado, Abrams deve ganhar ainda mais projeção política nacional e dentro do Partido Democrata.

Na Geórgia, Biden e os democratas tiveram vantagem sobretudo entre eleitores negros (que são um terço do eleitorado do estado e que compareçam em grandes números para votar) e nas regiões metropolitanas, como nos condados próximos a Atlanta.

A receita se repetiu em outros estados decisivos do Sul, como no Arizona, onde Biden também lidera e a apuração não havia sido concluída até o fechamento desta reportagem.

Na teoria, Biden não precisa mais desses resultados: a vitória nacional foi consagrada ontem ao vencer na Pensilvânia e ampliada com o resultado em Nevada. Mas ter a disputa mais acirrada no Sul em muitas décadas, mais até do que na eleição de Barack Obama, pode ser prova de mudanças profundas. E Stacey Abrams é uma das líderes desse processo, agora e nos próximos anos.

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