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Sem internet, empresários se juntam aos protestos no Egito

Bloqueio da rede e toque de recolher impede o trabalho das companhias e faz os empresários aderirem aos protestos

Manifestante participa dos protestos no Cairo pedindo a saída de Mubarak do poder (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Manifestante participa dos protestos no Cairo pedindo a saída de Mubarak do poder (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 16h40.

Cairo - O bloqueio da internet e o toque de recolher no Egito, que começa em pleno horário comercial, dificultam a cada dia mais o trabalho e, consequentemente, os lucros das companhias egípcias, a ponto de alguns empresários decidirem se unir aos protestos.

Eles resolveram se juntar aos milhares de manifestantes que há uma semana saíram às ruas do Egito para exigir que o presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981, abandone o cargo.

"Isso é um desastre", resume o empresário Yahia Farrad, em entrevista por telefone à Agência Efe, gritando para se fazer ouvir em meio à multidão aglomerada desde meio-dia na praça Tahrir, centro dos protestos no Cairo na última semana.

Farrad dirige a Organização Internacional para a Promoção do Turismo na Internet e preside a agência de viagens Memphis Tours, que desde 1999 opera exclusivamente na internet.

"Não conseguimos nos comunicar com nossos clientes desde sexta-feira passada e também não sabemos nada de nossos provedores", explicou.

Os escritórios da Memphis Tours estão sem funcionar desde que se cortou o acesso à internet na sexta-feira passada. Tanto Farrad quanto os demais funcionários da companhia aproveitam o recesso forçado para sair às ruas e protestar contra Mubarak.

Pertencente ao Movimento 6 de Abril - grupo de jovens que na terça-feira passada convocou, pela internet, o primeiro protesto no Egito -, a ativista Amal Sherif comentou com ironia os esforços do Governo do Cairo para acalmar as massas, com medidas como o toque de recolher e o bloqueio do acesso à internet.

"Mubarak está nos apoiando. No começo éramos menos, mas agora, sem a internet e com o toque de recolher, o povo não trabalha e pode sair às ruas para protestar", ironiza Sherif, entre risos.

Questionada sobre se os protestos teriam sido ainda maiores se o acesso à internet estivesse normalizado, ela responde categoricamente que "não". "As pessoas conhecem nossos números de telefone e nos ligam para saber onde serão os protestos. Se houvesse internet, ficariam em casa olhando o Facebook e o Twitter", explica.


Enquanto dezenas de jornalistas da imprensa estrangeira buscam alternativas para transmitir informações ao exterior, os repórteres locais têm cada vez mais dificuldades para trabalhar.

Nesta manhã, os jornalistas do periódico local independente "Daily News" - um dos poucos que até pouco tempo tinham acesso à internet - acabaram tendo o serviço bloqueado. Diante da impossibilidade de publicar matérias, o elenco inteiro do jornal tomou a decisão de se unir aos manifestantes na praça Tahrir.

A editora-chefe do veículo, Rania al-Malki, explica que a edição impressa do "Daily News" não é publicada há dois dias porque o toque de recolher obriga os redatores a finalizarem os artigos antes das 15h local, horário em que as manifestações estão apenas começando.

"No primeiro dia, tentamos ficar até as 15h, mas alguns funcionários demoraram até três ou quatro horas para voltar para casa, por causa da fiscalização nas ruas", explicou Malki. Segundo ela, a edição digital do periódico foi atualizada até esta terça-feira, quando o acesso à internet acabou sendo interrompido.

Por sua vez, o presidente da agência de viagens Galaxy Tours, Mohamed Hassan, ressalta à Agência Efe que, sem acesso à internet, a companhia se viu obrigada a trabalhar por telefone e o foco de suas atividades agora é tirar os turistas do país.

"Fazemos turnos de 24 horas para conseguir atender todos os telefonemas", destaca.

A Galaxy Tours tentou entrar em contato com os provedores de internet para saber quando o serviço será restabelecido, mas os esforços foram em vão.

"Infelizmente, as empresas no Egito não estão acostumadas a atender ao povo, e agora ainda menos", disse Hassan, contrariado.

Na praça Tahrir, Farrad cruzava os dedos para encontrar seu estabelecimento intacto quando as conexões voltarem.

Por enquanto, ele não tem dúvidas sobre o que fará nas próximas horas. "Espero que tudo volte à normalidade em dois ou três dias, mas nós não trabalharemos até que Mubarak se retire. Estamos furiosos".

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