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Rio paulista tem menor capacidade de diminuir metais

Matéria orgânica de corpos aquáticos da região tem menor capacidade de se ligar a cobre e crômio e diminuir a disponibilidade dos metais tóxicos para organismos aquáticos

O rio Preto, em São José do Rio Preto, foi um dos avaliados pela pesquisa (Creative Commons)

O rio Preto, em São José do Rio Preto, foi um dos avaliados pela pesquisa (Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 7 de agosto de 2012 às 14h44.

São Paulo - A capacidade de a matéria orgânica presente nos rios da região noroeste de São Paulo se ligar a metais e diminuir a disponibilidade deles para os organismos aquáticos é menor do que a de cursos de água de outras áreas no mundo.

Uma das hipóteses para explicar essa variação pode estar relacionada à mudança do tipo de vegetação no entorno dos rios da região, que nos últimos anos passou a ser composta em grande parte pela cultura da cana-de-açúcar.

As constatações são de um estudo de mestrado, realizado com Bolsa da Fapesp.

Os resultados do estudo serão apresentados em setembro em Hangzhou, na China, durante o 16º Encontro Internacional de Substâncias Húmicas, promovido pela Sociedade Internacional de Substâncias Húmicas (IHSS, na sigla em inglês).

Durante o estudo, Amanda Maria Tadini avaliou a capacidade de complexação (interação) de cobre e crômio por substâncias húmicas – moléculas formadas a partir da degradação de restos de plantas e animais presentes em corpos aquáticos e que possuem a capacidade de inibir ou aumentar a disponibilidade de metais – presentes no rio Preto, na região de São José do Rio Preto, em uma área de plantação de cana-de-açúcar.

Para realizar a avaliação, Tadini coletou amostras de substâncias húmicas do rio, que é utilizado, entre outras finalidades, para o abastecimento e irrigação da região. O estudo foi realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Química do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de São José do Rio Preto.

As análises das amostras de substâncias húmicas individualizadas (tais como foram extraídas do rio) e fracionadas (em tamanhos moleculares diferentes) revelaram que apenas 2% do total da composição de cobre e de crômio presentes no reservatório está complexado a substâncias húmicas. Mostraram também que praticamente os 98% restantes estão livres para se depositar em sedimentos do rio ou interagir com os organismos que nele vivem.


“A disponibilidade de metais no ambiente será maior do que a de outros que possuem substâncias húmicas com maior capacidade de complexação de metais”, disse Márcia Cristina Bisinoti, professora do Departamento de Química e Ciências Ambientais do Ibilce e orientadora do estudo.

De acordo com Bisinoti, uma das hipóteses para explicar essa menor capacidade de complexação de metais pelas substâncias húmicas de rios do noroeste paulista em comparação com as de corpos aquáticos de outras regiões no mundo pode estar relacionada à mudança recente do tipo de vegetação no entorno dos reservatórios.

Nas últimas décadas, as plantações de café, laranja e outras culturas que estavam presentes no entorno dos corpos aquáticos da região deram lugar à cana-de-açúcar. Consequentemente, o tipo de folha que passou a chegar ao rio e, após se degradar, constituir as substâncias húmicas, tornou-se diferente.

“O tipo de biomassa que dá origem à matéria orgânica dos rios da região mudou ou, talvez por ainda não estar totalmente transformada, apresenta menor capacidade de complexar metais do que a matéria orgânica de outras regiões com diferentes tipos de vegetação”, explicou Bisinoti.

De acordo com a pesquisadora, não é possível comparar as diferenças da capacidade de complexação da matéria orgânica presente hoje nos rios da região noroeste paulista, circundadas por plantações de cana-de-açúcar, com a do período anterior, em que o uso e ocupação do solo eram diferentes, porque não há estudos sobre o tema referentes a essa fase.

Em função disso, as comparações são feitas com outras regiões que apresentam tipos diferentes de matérias orgânicas. “Este é o primeiro trabalho que aborda substâncias húmicas oriundas de uma área de cultivo de cana-de-açúcar”, disse.


“Queremos entender como se comporta a matéria orgânica de uma região onde parte das substâncias húmicas pode ser oriunda da degradação de restos da biomassa da cana-de-açúcar”, ressaltou.

Estudo pioneiro

Segundo Bisinoti, os estudos já realizados sobre substâncias húmicas apontam que essas substâncias – que fazem parte da matéria orgânica presente na água, no solo e em sedimentos – apresentam a propriedade de reduzir metais e, com isso, aumentar ou diminuir a toxicidade. Já outras pesquisas indicaram que elas também têm a capacidade de complexar alguns metais e, consequentemente, diminuir a toxicidade deles.

Em função dessa propriedade, as substâncias húmicas têm sido empregadas em diversas áreas, como na indústria farmacêutica, no desenvolvimento de novos medicamentos. “Nosso grupo não realiza estudos voltados para essas aplicações de substâncias húmicas, mas, de fato, elas apresentam grandes possibilidades de utilização”, disse Bisinoti.

No evento na China, além de Tadini, Glaucia Pantano, outra estudante de mestrado do Ibilce, apresentará os resultados de seu trabalho sobre substâncias húmicas de sedimentos também do fundo de rios da bacia hidrográfica do Turvo Grande, no noroeste paulista, que podem atuar como fonte ou sumidouro de metais.

As duas estudantes foram selecionadas para apresentar seus trabalhos no congresso científico com todas as despesas pagas pela organização.

Da China, Tadini seguirá para Nápoles, na Itália, onde realizará parte de sua pesquisa de mestrado na Universidade Di Napoli Federico II, no laboratório de um dos cientistas mais renomados em substâncias húmicas, o italiano Alessandro Piccolo, com Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) da Fapesp.

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