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Realeza japonesa corre risco de ficar sem herdeiros; entenda

As mulheres são excluídas do trono pelas regras de sucessão, razão pela qual o imperador Naruhito um dia será substituído por seu sobrinho e não por sua única filha

A princesa japonesa Aiko, filha do imperador Naruhito, em 5 de dezembro de 2021. (Natsuko FUKUE, Kyoko HASEGAWA/AFP)

A princesa japonesa Aiko, filha do imperador Naruhito, em 5 de dezembro de 2021. (Natsuko FUKUE, Kyoko HASEGAWA/AFP)

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AFP

Publicado em 30 de dezembro de 2021 às 12h03.

A família imperial do Japão enfrenta o perigo de ficar sem herdeiros, devido à escassez de imperadores elegíveis, enquanto alguns especialistas observam que as ideias apresentadas por um painel recente para aumentar o número de membros da realeza estão desatualizadas.

As mulheres são excluídas do trono pelas regras de sucessão, razão pela qual o imperador Naruhito, de 61 anos, um dia será substituído por seu sobrinho, o príncipe Hisahito, e não por sua única filha, a princesa Aiko.

Mas, se Hisahito, de 15 anos, não tiver um filho, a família real - de 2.600 anos - ficará sem herdeiros homens para manter a linhagem.

As pesquisas de opinião mostram que o público defende a ideia de uma mulher como imperatriz. Esta posição não tem poder na atual Constituição japonesa, mas ostenta grande peso simbólico.

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No entanto, a pressão para manter uma tradição defendida por legisladores e eleitores conservadores, que veem a realeza como o exemplo perfeito de uma família patriarcal japonesa, torna a sucessão feminina pouca viável neste momento.

Na semana passada, um painel especial apresentou duas propostas ao governo.

Uma delas é permitir que as mulheres da realeza mantenham seu título e deveres públicos, quando se casarem fora da família. Atualmente, devem deixar a família, como aconteceu com a ex-princesa Mako Komura, ao se casar com um plebeu em outubro.

Príncipe herdeiro Hisahito (à esq.) caminha com o pai, Ahishino, e sua irmã Kako, em 30 de novembro de 2021, em Tóquio. (Natsuko FUKUE, Kyoko HASEGAWA/AFP)

A segunda é permitir que homens de 11 antigos ramos da família real abolidos nas reformas do Pós-Segunda Guerra Mundial voltem à linha direta por meio de adoção.

O painel recomendou a preservação das regras sobre a linhagem masculina pelo menos até que o príncipe Hisahito assuma como imperador.

Mas tais ideias "não são baseadas no atual sistema familiar do Japão, ou em ideias sobre igualdade de gênero", observou Makoto Okawa, professor de história da Universidade Chuo, de Tóquio, em conversa com a AFP.

"Acho que o público está se perguntando o que há de errado em a princesa Aiko ocupar trono", diz Okawa, pesquisador do sistema imperial.

Ele lembra que Aiko fez 20 anos este ano e é descendente direta do imperador, além de ser mais velha que seu primo.

Exigências severas

Hideya Kawanishi, professor associado de história do Japão na Universidade de Nagoya, adverte que as propostas do painel "não resolverão o problema de fundo".

Algumas mulheres casadas não vão querer viver com as restrições da vida real, enquanto a adoção de parentes do sexo masculino que cresceram como cidadãos comuns será complicada, aponta.

A questão vem sendo debatida há anos. Após o nascimento de Aiko, um painel determinou em 2005 que a sucessão imperial deveria ser decidida por idade, e não por sexo.

Essas discussões perderam força com o nascimento de Hisahito em 2006.

O painel mais recente considerou necessário discutir possíveis mudanças na regra de sucessão, mas não chegou ao ponto de levantar a palavra "imperatriz".

Isso significa que, para as esposas de homens da realeza, como Hisahito, "haverá pressão para conceber filhos homens para manter a linha de sucessão", explicou Kawanishi.

As mulheres da realeza enfrentaram grande dificuldades no Japão.

Masako, esposa de Naruhito e ex-diplomata, lutou por anos contra o estresse depois de ingressar na casa real. Alguns atribuíram este quadro à pressão para produzir um herdeiro homem.

Jovens da realeza também enfrentam pressões.

Mako e seu marido, Kei Komuro, ambos na casa dos 30 anos, sofreram com rumores na imprensa de que a família de Kei tinha problemas financeiros. A situação levou a princesa a desenvolver uma síndrome pós-traumática.

A ideia de uma imperatriz não é estranha ao Japão, onde se diz até que a família imperial descende de Amaterasu, a lendária deusa do sol.

Houve pelo menos oito imperatrizes na história, embora seus reinados tenha sido frequentemente temporários.

Desde 1947, as regras de sucessão real são ditadas pela Lei da Casa Imperial.

Os políticos atuais estão "com medo de mudar o sistema" durante seus mandatos, de acordo com Kawanishi.

O acadêmico acredita, porém, que, depois da atenção gerada pelo casamento de Mako, o debate pode se abrir, "se o público se interessar pelo assunto e pressionar".

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