Mundo

Quem é o verdadeiro líder do regime da Coreia do Norte?

Após a crise que levou o regime a ameaçar o resto do mundo, muitos analistas passaram a questionar o verdadeiro papel do jovem Kim Jong-un no regime do país

Imagem do ditador Kim Jong-un aparece em um protesto contra a Coreia do Norte em Seul, Coreia do Sul (Lee Jae-Won/Reuters)

Imagem do ditador Kim Jong-un aparece em um protesto contra a Coreia do Norte em Seul, Coreia do Sul (Lee Jae-Won/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2013 às 10h37.

Tóquio - A imaturidade do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e as complicadas relações entre os membros da família que controla o país mais fechado do mundo tornam as reações do regime imprevisíveis, afirma Yoji Gomi, um dos poucos jornalistas que teve acesso à dinastia Kim.

Gomi, especialista diplomático do jornal japonês "Tokyo Shimbun", manteve, durante anos, um incomum e proveitoso contato com Kim Jong-nam, o irmão mais velho de Kim Jong-un.

"Ele tem uma mentalidade muito mais aberta, o fez com que enfrentasse seu pai, e, por isso, foi descartado na corrida pela sucessão", explicou Gomi à Agência Efe.

Apesar de os dois irmãos terem estudado na Suíça durante a adolescência, o contato com o exterior parece ter afetado cada um de maneiras muito diferentes.

O jornalista lembra que Kim Jong-nam passou nove anos na Suíça, e que durante esse tempo viajou pela Europa com total liberdade, o que o levou a questionar a maneira de governar de seu pai, assim como a falta de liberdade de expressão e a adoção do sistema econômico do regime comunista na Coreia do Norte.

"As novas ideias com as quais teve contato quando estudou na Europa afetaram muito Kim Jong-nam, o que causou uma forte rivalidade entre pai e filho", disse Gomi, o autor do livro "Meu pai Kim Jong-il e eu" - publicado em 2012, após passar sete anos em contato com o norte-coreano.

Apesar de gostar da Disney e de assistir a jogos da NBA, a experiência com o mundo exterior do atual "líder supremo", que sucedeu o pai em dezembro de 2011 - quando tinha menos de 30 anos -, foi completamente diferente.


Kim Jong-un estudou durante três anos em um internato na Suíça durante a adolescência, mas não pôde viajar pelo continente assim como seu irmão mais velho. Além disso, ele se relacionava apenas com um grupo de amigos selecionados, filhos de importantes líderes norte-coreanos.

É muito complicado saber exatamente o que acontece por trás da dinastia que controla a vida de 24 milhões de norte-coreanos e que mantém o país fechado em relação ao resto do mundo.

Acredita-se que o líder anterior, Kim Jong-il, teve, no total, seis filhos com quatro mulheres diferentes, e que três deles são homens.

No entanto, nenhum dos dois filhos mais velhos herdou o cargo após a morte do pai. O primogênito por rebeldia, e o segundo por suposta falta de interesse, motivo pelo qual o terceiro na linha de sucessão, que até então era um simples desconhecido, assumiu o poder.

O mais velho dos irmãos, Kim Jong-nan, que atualmente vive em Macau, foi o único que se pronunciou abertamente sobre a posse do irmão e questionou a escolha, colocando em dúvida a competência do caçula para assumir um cargo tão importante e que exige muito de seu ocupante, conta Gomi em seu livro.

No entanto, o jornalista japonês e outros analistas defendem que quem assumiu o verdadeiro controle da família após a morte de Kim Jong-il foi Kim Kyong-hui, irmã mais nova do antigo governante e tia do atual líder.

Tudo parece indicar que Kim Kyong-hui, de 66 anos, secretária da organização do Partido dos Trabalhadores da Coreia, é o centro da dinastia Kim - aquela que comanda a família "dentro e fora de casa".

"Ela é a rainha da Coreia do Norte e possui um poder considerável no exército, na economia e no partido único", garante Gomi.


Após a longa e intensa crise que levou o regime a ameaçar o resto do mundo com um ultimato de guerra nuclear quase diário nas últimas semanas, muitos analistas passaram a questionar o verdadeiro papel do jovem Kim Jong-un no regime do país.

"Não acho que ele controle a Coreia do Norte e nem o exército. Kim Jong-un é muito jovem e tem muito pouca experiência. É um líder imaturo", afirmou o jornalista japonês.

Na verdade, Gomi acredita que a estratégia de Pyongyang pode consistir em utilizar a atual crise para consolidar a imagem e o poder do novo líder dentro e fora da Coreia do Norte.

De acordo com o especialista, muitas mudanças foram promovidas na cúpula do exército norte-coreano ultimamente, o que indica que uma nova geração de militares está tomando o poder.

Além disso, o jornalista explica que Kim Jong-un assumiu o governo há pouco tempo, e ainda precisa demonstrar não só ao seu povo, como também à comunidade internacional, que é um líder com autoridade, apesar de, na realidade, não ter todo esse poder.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCoreia do NorteDitaduraGuerras

Mais de Mundo

Exportações da China devem bater recorde antes de guerra comercial com EUA

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"