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Quem é Julian Assange, fundador do Wikileaks que vai se declarar culpado nos EUA?

Assange foi acusado de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional do governo americano; entenda

Anos após batalhas judiciais, o ativista fez acordo e deixou prisão em Londres (Carl Court/Getty Images)

Anos após batalhas judiciais, o ativista fez acordo e deixou prisão em Londres (Carl Court/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 25 de junho de 2024 às 06h34.

Última atualização em 26 de junho de 2024 às 11h52.

O fundador do Wikileaks, Julian Assange, deve se declarar culpado nos Estados Unidos como parte de um acordo que lhe permitiu ser libertado da prisão na noite desta segunda-feira. O ativista estava preso desde 2019.

O acordo deverá ser finalizado num tribunal das Ilhas Marianas do Norte, na Micronésia, na próxima quarta-feira, 26. Ele deixou uma prisão em Londres e, depois do acordo, deve seguir para a Austrália, seu país natal, disse sua mulher, Stella, à BBC.

Assange foi acusado de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional dos Estados Unidos.

O projeto Wikileaks, fundado por Assange em 2006, afirma ter revelado ao público mais de 10 milhões de documentos — no que o governo dos EUA mais tarde descreveu como “um dos maiores comprometimentos de informações confidenciais na história dos Estados Unidos”. A Casa Branca afirmou que os documentos vazados sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão colocaram vidas em perigo.

De acordo com a rede CBS, Assange não passará nenhum tempo sob custódia dos EUA e receberá crédito pelo tempo encarcerado no Reino Unido.

As remotas ilhas do Pacífico, onde deverá ser concluído o acordo, são associadas aos EUA e estão mais próximas da Austrália do que os tribunais federais no Havaí ou mesmo nos EUA.

Em maio, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu que Assange poderia pedir um novo recurso contra a extradição para os EUA, o que lhe permitiria desafiar as garantias dos EUA de como o seu futuro julgamento seria conduzido e se o seu direito à liberdade de expressão seria respeitado.

Os promotores dos EUA queriam originalmente julgar o fundador do Wikileaks por 18 acusações — a maioria sob a Lei de Espionagem — ligadas à divulgação de registros militares confidenciais e mensagens diplomáticas sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque.

Se condenado, seus advogados disseram que ele poderia pegar até 175 anos de prisão. O governo dos EUA, porém, afirmou que uma sentença entre quatro e seis anos era mais provável.

Em novembro de 2022, o premiê australiano, Anthony Albanese, disse que havia conversado pessoalmente com as autoridades dos Estados Unidos para encerrar os procedimentos legais contra Assange. "Algum tempo atrás eu já expressei que é o suficiente. É hora deste assunto chegar ao fim", disse Albanese ao Parlamento.

"Disse isso aos representantes do governo dos Estados Unidos. Minha posição é clara", afirmou.

O líder australiano especificou que não simpatiza com muitas ações de Assange. Mas perguntou: "Qual é o sentido de continuar com estes processos nos quais podemos ficar presos por muitos anos?"

Quem é Julian Assange

Segundo informações da BBC, sua vida em tribunais não começou agora. Em 1995, ele foi multado por crimes cibernéticos em uma Corte da Austrália, seu país natal, e só evitou a prisão porque prometeu não cometer infrações novamente.

Em 2006 ele fundou o WikiLeaks. O projeto afirma ter publicado mais de dez milhões de documentos, incluindo relatórios oficiais confidenciais relacionados a guerras, espionagem e corrupção.

Em 2010, o site divulgou um vídeo de um helicóptero militar dos EUA que mostrava 18 civis sendo mortos na capital do Iraque, Bagdá. Foi um terremoto político à época.

Também publicou milhares de documentos confidenciais fornecidos Chelsea Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA.

Os arquivos indicavam que militares dos EUA tinham matado centenas de civis em incidentes não relatados durante a guerra no Afeganistão.

Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA descreveu os vazamentos como "um dos maiores contendo informações confidenciais na história dos EUA".

Por que Assange morou na Embaixada do Equador?

Autoridades suecas emitiram um mandado de prisão contra Assange em 2010, acusando o ativista de abusar sexualmente de uma mulher e de molestar outra enquanto estava no país. Ele negou os crimes. A Suécia também pediu ao Reino Unido a extradição de Assange.

Após dois anos de batalhas legais, a Justiça do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado para a Suécia para interrogatório. Apoiadores de Assange disseram à época que, na verdade, era uma tática do governo dos EUA para, assim que possível, levar o ativista para seu território e julgá-lo lá.

Nesse tempo, ele procurou asilo político na embaixada do Equador. A concessão foi dada pelo então presidente do país, Rafael Correa, que não tinha relações tão amistosas com os EUA e que apoiava o Wikileaks. Assange passou sete anos na embaixada.

Em abril de 2019, o então novo presidente do Equador, Lenin Moreno (aliado de Correa, mas que depois rompeu com ele), ordenou que Assange deixasse a embaixada devido ao seu "comportamento descortês e agressivo. Havia suspeitas de que Assange estava acessando documentos de segurança da embaixada.

Assange foi detido dentro da embaixada pela polícia britânica e depois julgado por não se submeter aos tribunais para ser extraditado para a Suécia. Mais tarde, ele seria condenado a 50 semanas de prisão.

Em novembro de 2019, autoridades suecas desistiram do processo contra Assange porque os supostos crimes teriam prescrito.

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