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Quaresma nas Filipinas será sem internet e celular

Não basta deixar de comer carne, a igreja quer que os católicos filipinos se abstenham de usar as novas tecnologias durante os dias de reflexão espiritual

As Filipinas, onde cada usuário envia em média 600 mensagens por mês, são conhecidas como a 'capital mundial das mensagens de texto' (Getty Images)

As Filipinas, onde cada usuário envia em média 600 mensagens por mês, são conhecidas como a 'capital mundial das mensagens de texto' (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de março de 2012 às 10h47.

Manila - Os católicos filipinos não irão apenas deixar de comer carne durante as sextas-feiras de Quaresma, mas deverão conter seus impulsos de navegar na internet e enviar mensagens de texto pelo celular para cumprir os novos mandamentos da influente igreja das Filipinas.

'Porque não diminuir o número de mensagens pelo celular? Hoje em dia, moderar as mensagens, o tempo de navegação pela internet, o álcool e o tabaco podem ser uma forma de sacrifício para a Quaresma', propôs o presidente da comissão para a juventude, Joel Baylon, na revista da Conferência Episcopal.

Mais de 80% da população das Filipinas se diz católica e os templos do arquipélago lotam aos domingos, mas a igreja também quer que os católicos filipinos se abstenham de usar as novas tecnologias durante esses dias de reflexão espiritual.

Um mandamento que será difícil de ser cumprido pelos filipinos, pois a maioria vive dependente de seus celulares e faz da mensagem de texto sua principal forma de comunicação.

As Filipinas, onde, segundo o site especializado Mashable, cada usuário envia em média 600 mensagens por mês, são conhecidas como a 'capital mundial das mensagens de texto'.

'Acho que não faz muito sentido. O sacrifício significa que a pessoa deixe de fazer algo para ajudar os outros, mas não vejo como deixar de usar a internet ou o celular pode ajudar alguém', disse à Agência Efe Pamela Dizon, uma estudante de 21 anos.

Além do jejum tecnológico, a Conferência Episcopal filipina multiplicou suas recomendações, que também incluem reduzir o consumo de peixe, um alimento tradicional durante os dias de vigília.

'Parece que neste país as pessoas acham que a abstinência é uma oportunidade de dar uma grande festa e ficam muito felizes em comer caranguejos, camarões e outros mariscos', protestou no domingo o arcebispo emérito das Filipinas, Oscar Cruz.


O clérigo admitiu que na época em que era seminarista, cada quarta-feira de cinzas e sexta-feira de quaresma era um motivo para se deleitar com um banquete de frutos do mar das Filipinas, que possui o ecossistema marítimo mais rico do planeta.

'Era uma festa para nós porque podíamos comer manjares ao invés da comida habitual. Dessa forma se perdia o sentido de sacrifício com o qual a lei foi criada na Europa. Nas Filipinas devíamos comer menos peixes', ponderou Cruz.

De acordo com a Igreja filipina, qualquer fonte de prazer é suscetível ao sacrifício para cumprir com a fé, incluindo o fast-food, as férias e até a numismática.

'Sou um colecionador de moedas, por isso durante a Quaresma não toco em minha coleção. Há muitas coisas que podem nos trazer prazer. Por exemplo, a comida do McDonald's', disse Cruz.

Seguindo este pensamento, Baylon insistiu que não se trata de abster-se do consumo de carne nas sextas-feiras, mas de tudo o que se gosta, principalmente doces, refrigerantes e fast-food, e privar-se de luxos e atividades de lazer.

'Se as pessoas que se preocupam com a saúde fazem dieta para emagrecer e ter uma boa aparência, porque não impor a mesma disciplina para embelezarmos o interior', alegou o clérigo.

'Trata-se de impor disciplina em nosso corpo para libertar nossas almas. Por isso um bom sacrifício pode ser não tirar férias', continuou.

Para Vanessa Manabat, uma filipina católica de 28 anos, 'a igreja não tem perspectiva quando diz estas coisas, e pensa que todo mundo pode se permitir sair de férias ou comer mariscos'.

'Entendo a importância do sacrifício, mas dada a miséria que sofre este país, para milhões de pessoas já é o suficiente viver o dia a dia sem saber se vão poder encher a barriga', lamentou a jovem. 

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