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Qual a relação entre tempestades de inverno e aquecimento global?

Nos últimos anos, os EUA têm experimentado severas tempestades de inverno; especialistas analisam o vínculo entre esses episódios de frio extremo e a mudança climática

Nevasca nos EUA: especialistas analisam relação entre aquecimento global e nevascas (SCOTT OLSON/GETTY IMAGES/AFP)

Nevasca nos EUA: especialistas analisam relação entre aquecimento global e nevascas (SCOTT OLSON/GETTY IMAGES/AFP)

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AFP

Publicado em 29 de dezembro de 2022 às 10h30.

O mundo está ficando mais quente, e isso inclui os invernos. Nos últimos anos, porém, os Estados Unidos têm experimentado severas tempestades de inverno, e os especialistas analisam mais de perto o vínculo entre esses episódios de frio extremo e a mudança climática.

Diferentemente da relação entre o aquecimento global e as ondas de calor, que é muito direta, o comportamento das nevascas é regido por dinâmicas atmosféricas complexas e mais difíceis de estudar.

Ainda assim, "há certos aspectos das tempestades de inverno (...) nos quais os vínculos com a mudança climática são bastante claros", disse à AFP Michael Mann, climatologista da Universidade da Pensilvânia (UPenn).

O aquecimento de massas de água, como lagos e oceanos, por exemplo, influencia a quantidade de neve que cai.

Nos Estados Unidos, as "nevascas por efeito de lago" ocorrem ao redor da região dos Grandes Lagos, na fronteira com o Canadá.

A cidade de Buffalo, que fica às margens de um dos Grandes Lagos, foi duramente atingida por uma letal nevasca no fim de semana de Natal.

O choque do ar frio que chega do norte com a água mais quente desses lagos causa convecção, o que provoca uma queda de neve.

"Quanto mais quentes forem as temperaturas do lago, mais umidade (há) no ar e maior potencial para nevascas por efeito do lago", escreveu Mann, em um artigo de 2018.

"Como era de se esperar, vemos um aumento, no longo prazo, das nevascas por efeito de lago, à medida que a temperatura foi aumentando durante o longo último século", explicou ele.

Vórtice polar

Não há, porém, consenso sobre outros mecanismos, como o efeito da mudança climática no vórtice polar e nas correntes de jato.

O vórtice polar é uma massa de ar sobre o Polo Norte, situada no alto da estratosfera. Os seres humanos habitam a troposfera, e a estratosfera fica logo acima dela.

Esse vórtice é cercado por uma faixa de ar em rotação, que atua como uma barreira entre o ar frio do norte e o ar mais quente do sul. À medida que o vórtice polar enfraquece, essa faixa de ar começa a ondular e ganha uma forma mais ovalada, trazendo mais ar frio para o sul.

De acordo com um estudo de 2021, esse tipo de perturbação está se produzindo com mais frequência e, quando ocorre, reverbera pelas duas semanas seguintes mais abaixo na atmosfera, onde está localizada a corrente de jato.

Essa corrente de ar, que sopra de oeste para leste, novamente seguindo a fronteira entre o ar frio e o quente, serpenteia de tal maneira que permite que o ar frio do norte desça para latitudes mais baixas, particularmente sobre o leste dos Estados Unidos.

“Todo mundo concorda que, quando o vórtice polar se altera, aumenta a probabilidade de um clima invernal severo”, disse à AFP Judah Cohen, principal autor do estudo e climatologista do centro de análises Atmospheric and Environmental Research (AER).

E esse vórtice polar "estirado" é exatamente o que se observou pouco antes da tempestade que atingiu os Estados Unidos em dezembro, completou.

O mesmo fenômeno aconteceu em fevereiro de 2021, quando uma forte onda de frio atingiu o Texas, causando grandes quedas de energia.

"Debate em curso"

O centro do debate está em uma pergunta-chave: o que está causando essas crescentes perturbações no vórtice polar?

Segundo Cohen, essas alterações estão ligadas a transformações no Ártico, aceleradas pela mudança climática. De um lado, o rápido derretimento do gelo marinho e, de outro, o aumento da camada de neve na Sibéria.

"Este é um tema que venho estudando há mais de 15 anos e hoje tenho mais certeza do que nunca sobre esse vínculo", disse ele à AFP.

Esse último ponto ainda é, no entanto, um "debate em curso" na comunidade científica.

“Os modelos climáticos ainda não captam toda física subjacente que pode ser relevante sobre como a mudança climática está afetando o comportamento das correntes de jato”, completou.

Portanto, mais estudos serão necessários nos próximos anos para desvendar o mistério dessas complexas reações em cadeia.

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