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Programas de auxílio à África não ajudam e ainda geram corrupção

"Pelo amor de Deus, parem de ajudar. Se o Ocidente interromper totalmente a ajuda financeira, os africanos nem vão perceber", diz o economista queniano James Shikwati à revista alemã Der Spiegel

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

A ajuda à África traz mais desvantagens do que benefícios. Esta é a opinião do economista queniano James Shikwati, entrevistado pela revista alemã Der Spiegel dessa semana. "A despeito dos bilhões de dólares que têm sido despejados na África, o continente permanece pobre", afirma Shikwati, um entusiasta da globalização.

Para o queniano, as boas intenções de países industrializados, que desejam eliminar a fome e a pobreza no continente africano têm na prática causado graves danos nos últimos 40 anos. "Se as nações ricas realmente querem ajudar os africanos, deveriam finalmente encerrar essa ajuda nefasta. Os países que têm arrecadado o maior volume de ajuda para o desenvolvimento são também aqueles que estão em piores condições."

Esse paradoxo é explicado pela ação das pesadas burocracias dos países beneficiados. Os recursos recebidos acabam promovendo corrupção no lugar de desenvolvimento. "Se o Ocidente cancelar as doações, os africanos comuns nem mesmo vão perceber. Só os funcionários públicos seriam duramente afetados", diz Shikwati. Além disso, o apoio internacional, na visão do economista, promove complacência, mina os mercados locais e enfraquece o espírito empreendedor. "Os africanos são ensinados a ser pedintes e mendigos, e não a ser independentes."

Segundo Shikwati, o programa mundial de alimentação da Organização das Nações Unidas (ONU), vive uma "situação absurda": de um lado, dedica-se a lutar contra a fome, mas de outro, vê-se diante do desemprego quando a fome é eliminada.

São embarcadas para a África milhares de toneladas de milho que vêm de fazendeiros altamente subsidiados da Europa e dos Estados Unidos. Segundo Shikwati, a maior parte não passa dos portos e a outra segue direto para a base eleitoral dos governantes. Outra parcela, finalmente, vai para o mercado paralelo, onde são comercializados a preços baixos que causam prejuízos irreparáveis aos produtores locais. "Ninguém consegue competir com o programa alimentar da ONU", diz o economista. Como muitos produtores locais não podem prosseguir com margens pressionadas, o resultado prático é que a base agrícola local nunca será capaz de reagir quando houver realmente um ciclo de fome no país.

Da mesma forma, as doações de roupas estariam quebrando os pequenos empresários têxteis da África. "Ninguém aqui pode competir com produtos doados e revendidos a preços deprimidos. Em 1997, havia 137 000 trabalhadores empregados na indústria têxtil da Nigéria. Em 2003, esse número havia despencado para 57 000."

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