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Primeiro "mártir" vítima da máfia siciliana é beatificado

"Don Pino" foi morto em 15 de setembro de 1993, no dia que completava 56 anos, baleado no pescoço por um dos assassinos, Salvatore Grigoli

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2013 às 12h43.

Palermo - Pela primeira vez, um padre assassinado pela máfia siciliana, conhecido por sua corajosa luta, foi beatificado em uma cerimônia neste sábado em Palermo (Sicília), na presença de milhares de pessoas.

O cardeal emérito de Palermo, Dom Salvatore De Giorgi, representou o Papa Francisco nesta cerimônia, com a presença de 40 bispos e 750 padres. Foi um evento simbólico para o país, com a presença do ministro do Interior, Angolino Alfano, e a da Justiça, Anna Maria Cancellieri.

"A beatificação de Don Puglisi representa o momento mais aguardado por toda a Sicília. Vinte anos depois de seu assassinato, Don Puglisi ainda fala. Ele fala ainda mais alto", afirmou o ex-arcebispo de Palermo ao L'Osservatore Romano.

Mas o irmão da vítima, Gaetano, indicou em um recente livro que "preferia vê-lo vivo, a beatificado".

"A Igreja beatifica hoje, mas quando ele precisava de ajuda, ninguém estava lá".

O centro comunitário criado por Puglisi ainda é regularmente alvo de ataques. No mês passado, a área onde uma igreja deveria ser erigida em sua homenagem, foi queimada.

Catorze anos após a abertura do processo de beatificação, Bento XVI autorizou a promulgação, em 2012, de um decreto sobre o "martírio" de Don Puglisi, assassinado por "ódio à fé". No caso de "martírio", nenhum milagre é necessário para a beatificação, ao contrário do que é esperado em outros casos. A beatificação pode ser seguida por canonização.

"Don Pino" era padre em San Gaetano e ficou durante dois anos no bairro de Brancaccio, onde era muito popular entre os jovens por sua linguagem direta. Ele foi morto em 15 de setembro de 1993, no dia que completava 56 anos, baleado no pescoço por um dos assassinos, Salvatore Grigoli.

"Eu estava esperando por você", teria dito, com um sorriso, antes de morrer em frente a sua casa.


Puglisi era odiado pelos criminosos do Brancaccio por seu trabalho de prevenção com os jovens, principalmente o de afastamento das drogas.

Seu assassinato ocorreu no momento em que o país ainda estava traumatizado pelos ataques que haviam matado no ano anterior os juízes anti-máfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.

Em San Gaetano, este que era carinhosamente conhecido como "3P" ("Padre Pino Puglisi"), explicava a sua luta em nome da "verdade" do Evangelho: "Se Deus está conosco, quem será contra nós! Não estou com medo de morrer, se o que eu digo é a Verdade."

Os mafiosos Filippo e Giuseppe Graviano foram condenados à prisão perpétua por serem os mandantes do crime. Os executores receberam a mesma punição.

Grigoli, atormentado pelo sorriso de Don Puglisi no momento de sua morte, colaborou com a justiça, como o líder do comando, Gaspare Spatuzza.

Em uma região onde a máfia e a Igreja muitas vezes se encontraram e, por vezes, se ajudaram, onde os mafiosos vão à missa, a luta do padre da Brancaccio, apoiado pelo arcebispo Salvatore Pappalardo, serviu de exemplo para outros católicos de Calabria, na região de Nápoles.

"Havia clérigos envolvidos com a máfia, mas havia aqueles que, como Puglisi, a combateram", declarou neste sábado o prefeito de Palermo, Leoluca Orlando.

Para o bispo Vincenzo Bertolone, que propôs a beatificação do sacerdote siciliano, "a máfia é uma religião e não apenas um fenômeno criminal. Ela não autoriza qualquer outra fé. Seu martírio foi o sinal para a ruptura definitiva entre a Bíblia e o crime organizado".

Poucos meses antes de sua morte, João Paulo II, em visita a Agrigento (Sicília), falou contra o poder da Cosa Nostra, pedindo à máfia que se arrependesse e aos católicos que resistissem. Bento XVI encorajou a luta em 2010. Ao receber recentemente os bispos da Sicília, Francisco destacou que a máfia precisa ser posta para fora da Igreja.

Para a Igreja, é muito importante ressaltar que Don Puglisi se opôs à cultura da máfia em nome da fé, e que não era um homem isolado e amargo, como mostrado pelo diretor italiano Roberto Faenza, no filme "A Luce del Sole", de 2005.

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