Mundo

Por que a Venezuela quer anexar mais da metade da Guiana? Veja mapa

Movimento daria acesso ao governo de Maduro a grandes reservas de petróleo no oceano

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, em ato da campanha "Venezuela Toda" que defende anexar território vizinho (Presidência da Venezuela/Divulgação)

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, em ato da campanha "Venezuela Toda" que defende anexar território vizinho (Presidência da Venezuela/Divulgação)

Publicado em 2 de dezembro de 2023 às 06h02.

Neste domingo, 3, o governo de Nicolás Maduro dará mais um passo em um plano ousado: fazer a Venezuela anexar cerca de 2/3 do território da Guiana.

Maduro tenta transformar a ideia em uma causa nacional: a de trazer de volta parte de um território que seria historicamente da Venezuela, mas teria sido perdido por manobras imperialistas da Europa no século 19. A Guiana foi território britânico até obter sua independência, em 1966.

A fronteira atual foi definida por um acordo arbitral de Paris de 1899. Já a Venezuela reivindica o Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido, antes da independência guianesa, que anulou o laudo arbitral francês, considerado "fraudulento" por Caracas, e se estabeleceram as bases para uma solução negociada. A controvérsia está há anos nas mãos da Corte Internacional de Justiça (CIJ).

A campanha atual, feita pelo governo Maduro, chamada Venezuela Toda, aposta em tom emotivo, com mensagens como "o sol da Venezuela nasce em Essequibo, nome da região da Guiana em disputa.

A Venezuela reivindica a soberania sobre a região de Essequibo há décadas. A zona de 160 mil km2, rica em petróleo e recursos naturais, é equivalente a 2/3 do território da Guiana e abriga 125 mil dos 800 mil habitantes do país. No entanto, o interesse de Maduro pelo território vizinho só ganhou força depois que a Guiana encontrou grandes reservas de petróleo no mar, que a fizeram ser o país cujo PIB mais cresceu no mundo nos últimos anos.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, determina que cada país tem direito a explorar recursos naturais no oceano em uma área até cerca de 370 km da costa. Assim, caso a Venezuela anexasse parte da Guiana, também teria direito ao petróleo do mar na costa, como mostra o mapa abaixo.

O plebiscito da Venezuela sobre a Guiana

No plebiscito convocado pelo governo Maduro, participam apenas os 20 milhões de cidadãos da Venezuela aptos a votar, e não as pessoas que moram na área em disputa. A votação será realizada ao longo do domingo, entre 6h e 18h (7h e 19h em Brasília). Os resultados oficiais podem levar alguns dias para serem divulgados.

Os eleitores terão de responder cinco perguntas, sendo que uma delas fala sobre anexar o território de Essequibo à Venezuela e dar cidadania venezuelana aos moradores dali.

Não está claro quais serão os próximos passos depois da votação. O resultado pode levar alguns dias para sair. Embora o plebiscito não tenha peso jurídico internacional, ele pode estimular uma possível invasão venezuelana para tomar à força o território vizinho.

Na sexta, dia 1, uma decisão da Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, determinou que a Venezuela não tome nenhuma ação agressiva contra a Guiana. O tribunal internacional considerou o tema urgente, por ver risco de invasão, e acatou o pedido da Guiana, que administra a região há décadas, em decisão liminar. O órgão judicial também determinou que nenhum dos países tome medidas para agravar o conflito.

"Em 24 de outubro de 2023, o presidente da Venezuela declarou que o referendo daria, pela primeira vez, aos venezuelanos, os meios para tomar 'uma decisão coletiva como país'. Outras declarações oficiais sugerem que a Venezuela está tomando medidas com vistas a adquirir o controle e administrar o território em disputa. Além disso, oficiais militares venezuelanos anunciaram que a Venezuela está a tomar medidas concretas para construir uma pista que sirva de 'ponto de apoio logístico para o desenvolvimento integral do Essequibo'. A Corte considera que, à luz da forte tensão que caracteriza atualmente as relações entre as partes, as circunstâncias acima mencionadas representam um sério risco de a Venezuela anexar e exercer o controle e a administração do território em disputa no presente caso", diz a decisão da Corte.

Como o Brasil está envolvido no caso?

O Brasil defende uma solução pacífica para o conflito, como disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Além disso, segundo apuração do jornal O GLOBO, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o governo brasileiro dissuadisse Maduro de sua intenção de avançar sobre o território do país. O pedido, somado ao tom da campanha em circulação, que conta com o apoio de amplos setores da oposição venezuelana, aumentou a preocupação entre as autoridades brasileiras e no Itamaraty.

Na semana passada, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, viajou a Caracas para alertar Maduro sobre uma escalada de tensões, mas sem pedir que o referendo não seja realizado, disseram fontes do governo. Além de alertar sobre o material de campanha em circulação, Amorim pediu a Maduro que busque o diálogo e baixe o tom sobre as ameaças de invasão territorial sob o argumento de que um conflito entre os dois países pode criar "uma situação de instabilidade regional"

Acompanhe tudo sobre:VenezuelaGuiana

Mais de Mundo

Missão da SpaceX foi ao resgate de astronautas presos na ISS

Após morte de Nasrallah, Netanyahu afirma que “trabalho ainda não está concluído”

Bombardeio israelense atinge arredores do aeroporto de Beirute

Morte de Nasrallah é golpe contra Hezbollah, mas impactos são incertos