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Por que a crise dos rohingyas é uma crise infantil

Duas em cada três pessoas envolvidas no êxodo da minoria muçulmana a Bangladesh são menores de 18 anos

Rohingyas: mais de 220 mil crianças foram contadas em campos de refugiados estáveis e assentamentos improvisados (Mohammad Ponir Hossain/Reuters)
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EFE

Publicado em 14 de setembro de 2017 às 11h16.

Campo de Kutupalong (Bangladesh) - Meninas com recém-nascidos no colo, mulheres às quais o niqab não esconde a gravidez e crianças correndo na lama dão um rosto infantil à crise dos refugiados rohingyas em Bangladesh, um êxodo no qual duas em cada três pessoas são menores de 18 anos.

Mais de 220 mil crianças foram contadas em campos de refugiados estáveis e assentamentos improvisados e nas favelas que surgem em novos acampamentos ainda sem forma no distrito de Cox's Bazar, no sudeste de Bangladesh.

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Segundo a ONU, 60% dos 379 mil rohingyas que chegaram ao país desde o último dia 25 de agosto são crianças.

O número é ainda mais dramático se for levado em conta que 23% deles são menores de cinco anos, segundo indicou nesta quarta-feira à Agência a Efe a chefe do trabalho de campo do Unicef em Bangladesh, Sara Bordas.

"Em uma catástrofe natural, os primeiros que morrem são as crianças e as mães, em uma crise como esta as mães e as crianças devem ser atendidas primeiro", explicou Sara, que esteve no terremoto do Haiti de 2010 e no tsunami de 2004 na Ásia.

No acampamento de Kutupalong, a poucos quilômetros da fronteira entre Bangladesh e Mianmar, as crianças aproveitam o lamaçal para escorregar e se divertir, já que não têm coisa melhor para fazer e o tempo em um campo de refugiados é infinito.

"O que há neste momento aqui é um caos total, estamos tentando corrigir nossas intervenções para que os poucos serviços que havia cheguem ao máximo de pessoas possível", indicou Sara.

O Unicef quadruplicou sua equipe e está trazendo provisões a Bangladesh, mas a cobertura para dar resposta a essa quantidade de pessoas requer tempo.

Mais ainda quando se leva em conta a própria situação em que vivem em Bangladesh durante anos os refugiados rohingyas, um povo pária, não reconhecido em Mianmar e ignorado pelas autoridades bengalesas.

Daca, que os considera estrangeiros e sempre teve a pretensão de fazer de sua estadia algo temporário, nunca priorizou uma melhoria de suas condições, razão pela qual os lugares improvisados, que há anos se formam com a chegada de refugiados no país, ainda hoje estão muito distantes de contar com a infraestrutura necessária.

Há menos um ano foi permitida a abertura de "centros de ensino" com um tipo de programa educacional similar ao oficial, mas sem reconhecimento institucional, e de repente começou um êxodo massivo em outubro, que levou mais de 80 mil rohingyas a Bangladesh.

Hoje o Unicef tem apenas 166 destas escolas e 41 centros de proteção, onde é oferecida assistência psicológica aos menores, nos acampamentos improvisados de Kutupalong, Leda, Shamlapur e Bhalukali, tolerados pelo governo e que foram abrindo após às chegadas de grupos de rohingyas.

Frente às limitações, Sara disse à Efe que a resposta "se faz tendo um pouco de paciência (...) é a única maneira, não se pode fazer de outra".

A prioridade neste momento, no entanto, é fazer com que os recém-chegados encontrem um lugar para dormir, que tenham comida e recebam apoio, sobretudo aqueles que saíram de uma situação traumática.

A ONU fez um pedido internacional para arrecadar US$ 77 milhões a fim de responder à emergência em Bangladesh.

"Uma das coisas mais importantes a fazer agora é organizar o caos", apontou Sara, que acredita que ainda faltam "duas ou três semanas" para que as coisas estejam sob controle.

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