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Pivô de crise no Esporte detalha corrupção no governo

Preso depois de causar tumulto no Palácio do Buriti, João Dias disse à Polícia que homem forte de Agnelo recebeu dinheiro em troca de nomeações

As declarações do policial atingem em cheio o homem forte de Agnelo Queiroz, o petista Paulo Tadeu, e o chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão (José Cruz/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2011 às 13h59.

Responsável por trazer à tona o esquema de corrupção que culminou na demissão de Orlando Silva do Ministério do Esporte, o policial militar João Dias Ferreira decidiu revelar boa parte do que sabe sobre o esquema de propina envolvendo autoridades do governo do Distrito Federal. As declarações atingem em cheio o homem forte de Agnelo Queiroz ( PT ), o petista Paulo Tadeu, e o chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão.

E mostram que a lógica promíscua que regia os governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda não se extinguiu. Apenas trocou de mãos. Até agora, Dias poupava de suas denúncias o governo do Distrito Federal. A blindagem parece ter acabado. VEJA teve acesso, em primeira mão, aos dois depoimentos de João Dias.

Ao ser preso nesta quarta-feira depois de causar um tumulto no palácio do governo, Dias tentava devolver 200 000 reais que, segundo ele, lhe foram oferecidos por duas pessoas ligadas a Paulo Tadeu. O dinheiro seria uma espécie de "cala-boca”. O delator também contou em detalhes o esquema de arrecadação de dinheiro para o caixa dois da eleição do ano passado.

O delator foi ouvido nesta quarta-feira pela Polícia Civil e a Polícia Militar. À PM, o acusador deu mais detalhes sobre o escândalo de corrupção. Mas foi à Polícia Civil que Dias identificou os emissários que lhe entregaram os 200 000: o irmão de Paulo Tadeu e a chefe de gabinete do secretário.

Caixa 2 - Segundo o policial militar, Paulo Tadeu fez um acordo com um doleiro e um policial civil ligado ao ex-governador Paulo Octávio. Pelo acerto, o doleiro faria as nomeações na empresa pública DF Trans e no BRB Seguros, companhia do banco estatal de Brasília. Como parte do acordo, diz João Dias, Tadeu recebeu 500 000 reais durante a campanha eleitoral de 2010. O coronel Rogério Leão, atual chefe da Casa Militar do governador Agnelo Queiroz, teria testemunhado o episódio. O acerto não teria sido cumprido e resultou em um episódio no qual os grupos do doleiro e do governo de Agnelo se encontraram em uma padaria e quase trocaram tiros.

O policial contou que o grupo do governo local ofereceu um acerto com o doleiro, já que o governo de Agnelo já tinha indicado outras pessoas para as diretorias do BRB. De acordo com o PM, foi proposto então um segundo acordo ao deputado Paulo Tadeu, para que a parte descontente controlasse a troca da iluminação pública, no valor de 1,3 bilhão de reais, e a construção de garagens subterrâneas em Brasília, um contrato de 350 milhões de reais.


Compra de testemunha - João Dias diz que no último domingo recebeu em sua casa uma comitiva em nome do secretário Paulo Tadeu: além do irmão e da chefe de gabinete do secretário, o grupo seria composto por um delegado da Polícia Civil, um coronel da Polícia Militar, e uma mulher não identificada. A comitiva, diz ele, ofereceu 200 000 reais em espécie “para não detonar o governo do Distrito Federal”.

João diz que não aceitou a proposta de dinheiro, mas relata que na manhã de segunda-feira avistou dentro de sua casa uma pasta com o montante, “levando a crer que o dinheiro havia sido deixado ali pela tal comitiva”. Foi a partir desse encontrou que João Dias diz ter decidido ir até o Palácio do Buriti para devolver o dinheiro.

Ele teria tentado entrar no gabinete do secretário de Governo Paulo Tadeu e jogado dinheiro sobre a mesa. Durante a confusão, João Dias ofendeu a chefe de gabinete de Paulo Tadeu e deverá ser indiciado por injúria racial. Ele também quebrou um dedo de um policial militar. A Polícia Civil encontrou no gabinete um valor menor do que o reportado por João Dias: 159.000 reais.

O depoimento de João Dias joga luz sobre um episódio nebuloso: a curiosa mudança de postura de Daniel Tavares, ex-lobista da indústria química que acusava Agnelo Queiroz de ter recebido propina mas depois voltou atrás. João Dias conta ter recebido 250.000 reais do chefe da Casa Militar de Agnelo.

O dinheiro deveria ser passado a Tavares. Paulo Tadeu também é mencionado como operador da coação. A versão de João Dias vai ao encontro de uma acusação feita pela oposição a Agnelo há um mês: a de que o coronel Leão intermediou a mudança de depoimento de Tavares. O ex-lobista tem até um comprovante de depósito de 5 000 reais na conta do atual governador. Mas, depois de revelar o pagamento de propina, passou a dizer que tudo não passava de um empréstimo.

O site de VEJA entrou em contato com a assessoria de comunicão do governo do Distrito Federal e ainda aguarda uma resposta sobre as denúncias.

Delator - A ligação do policial militar João Dias Ferreira com o governador Agnelo Queiroz é antiga, ainda de quando o petista pertencia ao PCdoB e comandava o Ministério do Esporte. Responsável por ONGs que mantinham convênios milionários com a pasta, Dias chegou a ser preso em uma operação que desmontou um esquema de desvios no ministério. Mais recentemente, Dias revelou a VEJA que o modelo continou funcionando durante a gestão de Orlando Silva. Fragilizado pelas denúncias, o comunista acabou deixando o cargo.

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Responsável por trazer à tona o esquema de corrupção que culminou na demissão de Orlando Silva do Ministério do Esporte, o policial militar João Dias Ferreira decidiu revelar boa parte do que sabe sobre o esquema de propina envolvendo autoridades do governo do Distrito Federal. As declarações atingem em cheio o homem forte de Agnelo Queiroz ( PT ), o petista Paulo Tadeu, e o chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão.

E mostram que a lógica promíscua que regia os governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda não se extinguiu. Apenas trocou de mãos. Até agora, Dias poupava de suas denúncias o governo do Distrito Federal. A blindagem parece ter acabado. VEJA teve acesso, em primeira mão, aos dois depoimentos de João Dias.

Ao ser preso nesta quarta-feira depois de causar um tumulto no palácio do governo, Dias tentava devolver 200 000 reais que, segundo ele, lhe foram oferecidos por duas pessoas ligadas a Paulo Tadeu. O dinheiro seria uma espécie de "cala-boca”. O delator também contou em detalhes o esquema de arrecadação de dinheiro para o caixa dois da eleição do ano passado.

O delator foi ouvido nesta quarta-feira pela Polícia Civil e a Polícia Militar. À PM, o acusador deu mais detalhes sobre o escândalo de corrupção. Mas foi à Polícia Civil que Dias identificou os emissários que lhe entregaram os 200 000: o irmão de Paulo Tadeu e a chefe de gabinete do secretário.

Caixa 2 - Segundo o policial militar, Paulo Tadeu fez um acordo com um doleiro e um policial civil ligado ao ex-governador Paulo Octávio. Pelo acerto, o doleiro faria as nomeações na empresa pública DF Trans e no BRB Seguros, companhia do banco estatal de Brasília. Como parte do acordo, diz João Dias, Tadeu recebeu 500 000 reais durante a campanha eleitoral de 2010. O coronel Rogério Leão, atual chefe da Casa Militar do governador Agnelo Queiroz, teria testemunhado o episódio. O acerto não teria sido cumprido e resultou em um episódio no qual os grupos do doleiro e do governo de Agnelo se encontraram em uma padaria e quase trocaram tiros.

O policial contou que o grupo do governo local ofereceu um acerto com o doleiro, já que o governo de Agnelo já tinha indicado outras pessoas para as diretorias do BRB. De acordo com o PM, foi proposto então um segundo acordo ao deputado Paulo Tadeu, para que a parte descontente controlasse a troca da iluminação pública, no valor de 1,3 bilhão de reais, e a construção de garagens subterrâneas em Brasília, um contrato de 350 milhões de reais.


Compra de testemunha - João Dias diz que no último domingo recebeu em sua casa uma comitiva em nome do secretário Paulo Tadeu: além do irmão e da chefe de gabinete do secretário, o grupo seria composto por um delegado da Polícia Civil, um coronel da Polícia Militar, e uma mulher não identificada. A comitiva, diz ele, ofereceu 200 000 reais em espécie “para não detonar o governo do Distrito Federal”.

João diz que não aceitou a proposta de dinheiro, mas relata que na manhã de segunda-feira avistou dentro de sua casa uma pasta com o montante, “levando a crer que o dinheiro havia sido deixado ali pela tal comitiva”. Foi a partir desse encontrou que João Dias diz ter decidido ir até o Palácio do Buriti para devolver o dinheiro.

Ele teria tentado entrar no gabinete do secretário de Governo Paulo Tadeu e jogado dinheiro sobre a mesa. Durante a confusão, João Dias ofendeu a chefe de gabinete de Paulo Tadeu e deverá ser indiciado por injúria racial. Ele também quebrou um dedo de um policial militar. A Polícia Civil encontrou no gabinete um valor menor do que o reportado por João Dias: 159.000 reais.

O depoimento de João Dias joga luz sobre um episódio nebuloso: a curiosa mudança de postura de Daniel Tavares, ex-lobista da indústria química que acusava Agnelo Queiroz de ter recebido propina mas depois voltou atrás. João Dias conta ter recebido 250.000 reais do chefe da Casa Militar de Agnelo.

O dinheiro deveria ser passado a Tavares. Paulo Tadeu também é mencionado como operador da coação. A versão de João Dias vai ao encontro de uma acusação feita pela oposição a Agnelo há um mês: a de que o coronel Leão intermediou a mudança de depoimento de Tavares. O ex-lobista tem até um comprovante de depósito de 5 000 reais na conta do atual governador. Mas, depois de revelar o pagamento de propina, passou a dizer que tudo não passava de um empréstimo.

O site de VEJA entrou em contato com a assessoria de comunicão do governo do Distrito Federal e ainda aguarda uma resposta sobre as denúncias.

Delator - A ligação do policial militar João Dias Ferreira com o governador Agnelo Queiroz é antiga, ainda de quando o petista pertencia ao PCdoB e comandava o Ministério do Esporte. Responsável por ONGs que mantinham convênios milionários com a pasta, Dias chegou a ser preso em uma operação que desmontou um esquema de desvios no ministério. Mais recentemente, Dias revelou a VEJA que o modelo continou funcionando durante a gestão de Orlando Silva. Fragilizado pelas denúncias, o comunista acabou deixando o cargo.

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