Mundo

Pelo menos 30 mil pessoas foram vítimas de tráfico no Sinai

O estudo, da Comissão Europeia e da Universidade holandesa de Tilburg, indica que nesse período a soma dos resgates pagos ultrapassou o valor de US$ 600 milhões


	Região do Sinai: a maioria das vítimas de tráfico de pessoas no Sinai egípcio vem da Eritréia
 (Getty Images)

Região do Sinai: a maioria das vítimas de tráfico de pessoas no Sinai egípcio vem da Eritréia (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2013 às 17h21.

Cairo - Cerca de 30 mil pessoas foram vítimas do tráfico na Península do Sinai desde 2009, e pelo menos dez mil foram mortas na tentativa de fugir de conflitos na África, segundo um relatório apresentado nesta quarta-feira no Cairo.

O estudo, da Comissão Europeia e da Universidade holandesa de Tilburg, indica que nesse período a soma dos resgates pagos ultrapassou o valor de US$ 600 milhões.

A coordenadora da apresentação, Marion Mathurin, explicou que "o medo dos jovens e dos homens que servem no Exército costuma ser a principal causa que os faz fugir de seu país, porque o serviço militar é ilimitado e podem passar a vida ali em condições subhumanas".

A maioria das vítimas de tráfico de pessoas no Sinai egípcio vem da Eritréia, devido à má situação dos direitos humanos, o serviço militar obrigatório e as dificuldades de obter um passaporte ou visto para sair do país, segundo o relatório.

O "modus operandi" dos traficantes começa pelo sequestro da vítima, muitas vezes em seu próprio país de origem ainda, seguido de extorsão, tortura e, se não conseguem o objetivo, podem chegar a matá-la.

Além disso, sustenta o estudo, um dos principais trajetos seguidos para atravessar até Israel e a Europa costuma ser o Canal de Suez.

"É comum trancarem as pessoas em casas no Sinai, onde vão sendo transferidas de um lugar a outro, passando de mão em mão, e essa operação pode levar semanas", disse Mathurin, que explicou que os resgates exigidos costumam ser "muito altos para as famílias, que vem de zonas de pobreza extrema", como Eritréia e Etiópia.

A organizadora denunciou também as diferentes técnicas de tortura utilizadas, em forma de surras, queimaduras, golpes, eletrochoques, violência sexual, mutilação e técnicas de guerra.

As comunicações são feitas por telefone, e se chega a "torturar a vítima enquanto fala com sua família" como método de chantagem emocional, apontou.


Já o jornalista egípcio Ahmed Abu Deraa, que trabalha no Sinai, detalhou que para a elaboração do relatório os pesquisadores visitaram vários lugares onde se esconde os sequestrados, se atiram os cadáveres dos mortos e realizam as torturas.

"O último caso que conheço é o de uma mulher eritréia que deixou suas duas filhas na Eritréia para junto de seu marido trabalhar no Sudão. Ali a sequestraram e a transferiram até o Sinai. Sua família teve que vender suas propriedades e pedir dinheiro. Quando conseguiram o valor, seus sequestradores a entregaram a outro traficante, que voltou a pedir um novo resgate", relatou Abu Deraa.

O jornalista afirmou que houve mudanças no Sinai após a queda por um golpe de Estado do presidente egípcio, o islamita Mohammed Mursi, em 3 de julho.

A maior presença policial e militar na península, unida ao fechamento da passagem de Rafah que comunica o Egito com a faixa palestina de Gaza, dificultou o tráfico humano.

"Durante as operações de segurança nenhum traficante foi preso, mas se destruíram refúgios e centros de tortura", disse Abu Deraa.

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosExércitoMortes

Mais de Mundo

Kamala e Trump dizem que estão prontos para debate e Fox News propõe programa extra

Eleições nos EUA: como interpretar as pesquisas entre Kamala e Trump desta semana?

Eventual governo de Kamala seria de continuidade na política econômica dos EUA, diz Yellen

Maduro pede voto de indecisos enquanto rival promete 'não perseguir ninguém' se for eleito

Mais na Exame